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TRABALHAR COM CONSEQUÊNCIA

SOBRE SERMOS SERES DE ROTINAS E COMO ISSO SE REFLETE NA FORMA COMO TRABALHAMOS

Por natureza, sou uma pessoa de reflexão. E digo isto “por natureza”, porque na verdade não me recordo de onde vem. Creio que será uma daquelas coisas antigas, e que no meu caso, foi alimentada de alguma forma. Creio que será uma vontade de “conhecer” coisas. Conhecer melhor o que está fora, e também o que está dentro.

Na minha perspetiva, refletir, acrescenta-me valor em tudo o que faço.

Hoje gostava de partilhar uma reflexão sobre a forma como (às vezes) trabalhamos.

Quantas vezes nos deparamos com desafios e tentamos empurrar com a barriga uma tarefa apenas porque é diferente daquelas que fazem parte das nossas rotinas?

O ser humano é um ser de hábitos. Gostamos de coisas que conhecemos. Acredito que, de um modo geral, estamos mais confortáveis em fazer coisas repetidas do que a fazer coisas que nunca fizémos. Preferimos Coisas que sabemos como são, e que são previsíveis do que coisas novas. Causa menos desconforto repetir… e repetir… e repetir, do que sentar e pensar: como é que vou fazer isto?

Estás a sentir aquele desconforto de ter que fazer uma tarefa nova? Uma daquelas tarefas que está fora da rotina mas que alguém já percebeu que precisa de ser feita?

Aquela tarefa que tu próprio sabes que vai melhorar o teu trabalho, mas que arranjas sempre forma de evitar e pegar numa coisa mais rotineira. Ou aquela tarefa que foi falada na reunião de equipa mas que tentamos todos empurrar para o lado porque de alguma forma nos é mais “desconfortável”…

Então eu gostava de arriscar dizer que… essa é provavelmente a tarefa mais importante da tua semana de trabalho.

Quando percebemos que somos impostores… e que minamos o nosso próprio trabalho… e que isto é apenas programação… fica tudo mais fácil.

Porque na realidade… basta-nos fazer esta pequena reflexão para percebermos quando estamos a fugir à tarefa. É fácil. Acredito que a maioria de nós sabe e sente quando está a fugir da tarefa.

A forma de resolver isto é bastante simples.

Quando somos verdadeiros e transparentes conosco próprios. Sabemos que estamos todos os dias sujeitos a ser apenas… suficientes.

À luz disto, é fácil. Só precisamos de parar e reconhecer que estamos em “mais uma daquelas situações”.
E quando reconhecemos a situação como “mais uma daquelas” em que estamos a querer fugir da tarefa (seja por medo dela ou por desejo de rotina) temos tudo na mão para sorrir e dizer

“hmmm… eu sei que tu queres fazer isto porque te é mais simples. É mais fácil e dá mais jeito. Mas… lamento…. se estou aqui para tentar fazer algo com valor, sei bem o que tenho que fazer. E hoje é o dia em que vou fazer.”

Esta energia de controlo; esta capacidade de dizer não aos nossos primeiros reflexos rotineiros, é o que vai fazer-nos chegar ao fim do dia de trabalho com uma energia vencedora. Com um sentimento de “acomplishment”.

Porque na verdade… essa é a recompensa do trabalho. É o chegar ao fim do dia e sabermos que vencemos a tarefa. Que resolvemos a dificuldade.

Olha para as tuas tarefas e não te desvies daquela tarefa. Cada dia que desvias estás a minar a tua auto-confiança e a tua capacidade de realizar o teu potencial.

Olha-a de frente, pega numa folha em branco e começa. Chegado aqui, o mais difícil já ficou para trás.

António Vilaça Pacheco

Foto de Unsplash por Windows

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Qual é a tua casca de banana?

Todos temos a nossa. É aquela especial, que vemos ali no chão. Está à nossa frente. Sabemos da sua existência, sendo que muitas vezes já é uma velha conhecida. Lembramo-nos dela, do que ela significa, das dores que ficam depois de escorregarmos nela e cairmos no chão.

A casca de banana é aquela situação em que escorregas sempre. Aquela situação que já sabes que te vai afetar e que, de forma ainda automática, não consegues evitar. Por vezes já de forma consciente, vês que está ali, já sabes o que significa, o que implica, as dores da caída, mas não consegues impedir a escorregadela. Pode ser por exemplo quando te sentes invadido por alguém quando te faz uma pergunta. Ou quando vais atrás daquela pessoa que sabes que é tóxica para ti. Quando há algo que fazes que sabes que te vai fazer mal e que não consegues evitar. É como um íman.

Como olhar para esta casca de banana?

Primeiro há que saber que ela existe, que está ali e qual é a situação que ela representa. Mesmo que depois não consigas evitar a escorregadela, o primeiro passo, antes de qualquer possibilidade de evitar a dita, é saber que ela está lá. É perceber o que te atrai a ela, como é que a caída se faz e mais importante: como é que te sentes depois. Onde te afeta? Ficas com raiva? Sentes-te mal contigo próprio/a? Ficas triste? E dás espaço ao que sentes, ou tentas evitar? Levantas-te rapidamente, sacodes a roupa e segues em frente, com o ar de que não se passa nada?

Saber isto não invalida que não vás voltar a escorregar na casca. Porque ficou um movimento automático. O teu corpo, a tua mente, estão a fazer isso há muito tempo. Não será de um dia para o outro que o automatismo desaparece porque, infelizmente, não funciona como interruptor. Temos de ver mais como aquelas luzes que dá para diminuir a intensidade. E é essa a etapa seguinte. Antes mesmo de conseguir evitar a escorregadela, fazer com que a queda seja mais suave ou que a possibilidade de nos levantarmos seja mais rápida, passando menos tempo no chão. E como fazemos isto? Aceitando a situação, evitando guerrear com os nossos automatismos (percebendo que são formas de reagir) e acima de tudo: não nos batermos por ter novamente acontecido. Podemos fazer muito mais, mas isso dependerá da própria situação e, claro, da própria pessoa.

O objetivo é chegar a um momento em que, ao caminharmos na vida, conseguimos ver a casca de banana ao longe. Temos a capacidade de antecipar a sua presença e também a nossa reação, e conseguimos contorná-la sabiamente. Não significa que nunca mais vamos escorregar, que nunca mais vamos ficar afetados ou cair redondos no chão. Significa que acontecerá menos vezes, que quando acontecer não é dramático e o tempo de crise não será o mesmo.

Então, qual é a tua casca de banana?

Foto de Unsplash por Louis Hansel

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O Cabo Bojador

“Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.”

Fernando Pessoa – A Mensagem

A dor não é simpática. Não gostamos dela e dela fugimos. Seja física, psicológica, emocional ou um mix match (mistura) de tudo isto. O ser humano esmerou-se nisso, nessa fuga da dor. E fê-lo bem. É uma questão de sobrevivência. Não falamos da morte. Escondemos os sentimentos. E quando dói algo que queremos resolver rapidamente, tomamos um analgésico. Pain killer em inglês: matar a dor. E matando dor a dor, vamos prosseguindo, tornando-nos dormentes com distrações, drogas, álcool, trabalho a mais. Varremos para debaixo do tapete aquelas que são as dores invisíveis aos olhos dos outros (e por isso tantas vezes tão mal-aceites): a tristeza, o aperto no peito, o medo do futuro, o medo de sermos abandonados, a raiva de nos terem enganado, a injustiça do insucesso.

No fundo afundamos em nós as nossas histórias ou recontamos sem o pano de fundo, aquilo que efetivamente aconteceu ou o que realmente sentimos. Mas há um momento (há sempre um momento, não é?) em que a vida dá um pontapé certeiro nesse tapete, ou na coleção de tapeçarias que tão bem vamos guardando. E puf. Tanto que fica pelo ar. Tanto pó e monstrinhos a pairar que deixamos de ver bem. Perdemos perspetiva, tudo à nossa volta perde a forma. Não sabemos que passo dar, para onde nos dirigir, a quem pedir ajuda. Como valentes guerreiros, tentamos continuar, e muitos continuam (e por vezes ainda bem), na funcionalidade. Às apalpadelas, vamos encontrando caminhos, óculos distratores da poeirada e talvez ainda com a ajuda de um antialérgico para tapar os espirros que pó provoca. Bem-vindos às crises.

Um parêntese: ainda bem que continuamos, ainda bem que por vezes usamos distrações, ainda bem que tentamos fazer o nosso melhor com aquilo que temos. E às vezes não podemos fazer melhor num dado momento que não seja varrer essa dor.

Mas… O que fazer? A dor existe. É palpável, é sentida. Seja física ou psicológica. E por vezes a melhor saída é ter de a sentir e passar por ela. Não é alimentá-la ou cair na vitimização ou até mesmo na desresponsabilização. É assumi-la como nossa, aceitar que está ali e que temos de a cuidar. Sem a varrer. É como passar o Cabo Bojador. Se queremos ver o que está além da dor, temos de passar por ela. Não significa alimentar o sofrimento, sublinho novamente. É contactar com essa tristeza, raiva, medo. E podemos fazê-lo com segurança. Não temos (nem aconselho) de o fazer com uma leve canoa. Podemos construir um navio robusto, forte que nos ajude a dobrar o Cabo. Este navio são as nossas pessoas, ferramentas, terapia, medicação… Mas somos nós que temos de estar ao leme, gerir as coordenadas, verificar as cordas.

Se custa? Sim. Por isso é mais fácil varrer. É difícil construir o navio e é difícil passar pelo Cabo. E, não vos querendo assustar, há mais Cabos. E às vezes temos de dobrar uns atrás dos outros. Mas vamos ganhando experiência no caminho, já temos o navio construído e por vezes os Cabos vão parecendo mais pequenos e fáceis de ultrapassar. As crises já não são tão prolongadas e o “ir abaixo” já não é tão lá em baixo. Parece um final idílico, feliz. Gosto de ver como esperançoso e não como um final. É possível trabalhar, melhorar, transformar a dor. Mas é duro. É um trabalho contínuo.

E muitas vezes vamo-nos deparar com mais um Cabo e perguntar: outra vez? Estamos cansados, ainda não reparámos sequer o convés da última aventura que foi mesmo agora. Assim pode ser a vida. Respira, confia. E navega. E não te esqueças que tens uma âncora. E por vezes podes parar um pouco. Nem que seja um dia. E no dia seguinte, enches o peito de ar e a toda a brida! Com cautela e coragem no coração.

Imagem: Jasper van der Meij em Unsplash

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O que aprendi com o super-homem

Saltei da cama, voei e aterrei de forma errada sobre o meu pé, partindo‑o. Tinha 6 anos, e todos os indícios apontavam para o facto de eu ser do planeta Krypton, cujo Sol explodiu quando eu era bebé, deixando‑me órfão num planeta cheio de pessoas que jamais me entenderiam plenamente. Tinha uma capa (o meu cobertor do Super‑Homem). A gravidade fraca da Terra não me conteria. Nada podia conter‑me. A minha mãe afirma que conseguiu ouvir o estalar do osso do outro lado da nossa casa suburbana. Crack! Aterrei. Talvez fosse verdade, ela podia ter ouvido.

Tive de usar gesso. No primeiro dia na primeira classe, numa escola nova, eu era «esse miúdo». O que mancava. O que tinha gesso . O leitor sabe, aquele com quem provavelmente teria andado porque era óbvio que eu estava destinado a ser o miúdo mais fixe da primeira classe. No final do dia, sentia comichão dentro do gesso.
Era horrível. E estava a chover. A professora Klecor só nos deixava sair para irmos apanhar o autocarro, no final do dia, se conseguíssemos soletrar os nossos nomes. Tenho um péssimo apelido para tal tarefa. Altucher. Tinha a certeza de que ia perder o autocarro.
Fui o último que restou. Comecei a chorar. Iria tirar o gesso depois da escola, mas não se não conseguisse soletrar o meu nome e perdesse o autocarro.

Quase 30 anos mais tarde, continuo a ser o Super‑Homem.
Ou melhor, sou o desajeitado Clark Kent. Uso óculos. Tenho cabelo preto. Costumo ser tímido em público. As pessoas costumam rir‑se de mim. E, tal como muitas pessoas, tenho uma identidade secreta. Uma que vou revelando aos poucos à Lois Lane que vive mais perto de mim. Mas, mesmo assim, se tivesse de revelar tudo, acabaria preso ou num hospital ou numa instituição, ou teria mais pessoas a detestar‑me do que o normal, ou a Claudia deixava‑me, ou outras pessoas seriam muito prejudicadas por quem se aproveitasse da verdade. É a minha identidade secreta.

Desde os 4 anos até aos 44 que leio o Super-Home m. Se não estivesse a escrever este livro, hoje podia sentar‑me e escrever 50 argumentos para submeter à DC Comics. Porque é que a história do Super‑Homem é tão chamativa? Obviamente, pela ideia de que todos somos o Super‑Homem. Todos somos tímidos e estranhos e ai, se as pessoas conhecessem o nosso eu verdadeiro. O que está por debaixo do fato, dos óculos, o que abre a camisa branca, lisa, revelando as cores vivas, os superpoderes, a inteligência inacreditável, a bondade, a moral e a força física. Não tem de acabar. Quando passamos da infância para a idade adulta, somos ensinados a deixar as histórias da nossa juventude para trás. Não siga esse conselho. Se guardarmos as joias escondidas no interior, as histórias da nossa juventude podem ajudar‑nos a percorrer o mundo como um super‑herói. As pessoas que se Escolhem a Si Mesmas são os novos super‑heróis. Os que nunca perderam a herança criptoniana.

Comece por aperceber‑se de que ainda tem uma identidade secreta. Reconheça‑a. Acorde todos os dias e diga a si mesmo: «Sou um super‑herói. O que é que posso fazer para salvar o mundo?» E aparecerão respostas, verá oportunidades, descobrirá novos passos. Descobrirá como voar até onde é preciso. Como levantar o carro, como usar a sua visão raio X para ver as soluções que ninguém pensou serem possíveis.

Se pensar bem, o Super‑Homem não tinha, na verdade, quaisquer poderes úteis. Todos temos os mesmos poderes, mas receamos admiti‑lo. As pessoas dizem sempre que o Batman não tinha poderes, mas o Super‑Homem tinha. Na verdade, é o oposto. Pense nisso: quando é que alguma vez precisaria de superforça? Vai mesmo pegar num carro nos próximos tempos? Não, é claro que não! Visão de calor? Para quê? Tenho um micro‑ondas. Visão raio X? Posso ver a mulher mais bonita do mundo nua sempre que quiser. Todos os meus vizinhos são horrendos mesmo vestidos. E todos sabemos que, geralmente, as mulheres são mais sensuais com roupas minúsculas do que totalmente nuas. E superaudição? Já sei o que é que toda a gente pensa de mim. Acho que ficaria horrorizado se as ouvisse dizer o que já sei que elas pensam.
Que mais? Ah, pois, voar. Para onde é que voaria? E as pessoas ver‑me‑iam. E comeria moscas e iria contra pássaros. Que nojo! Esqueça. Eu não quero voar. Nem sequer tenho carta de condução. Vou a pé. Ou vou de comboio, e vejo um filme no meu iPad. Ah, e as balas não afetam o Super‑Homem. Para ser sincero, nunca ninguém me deu um tiro, portanto, isto não me parece ser um poder útil para mim.

Contudo, o simples facto de saber que sou o Super‑Homem, com poderes secretos, basta para me fazer feliz. Eu sou o Super‑Homem. Estou acima das preocupações dos terráqueos. E acredito nisso com todas as forças que há em mim. Esse é o meu segredo.O segredo tem poder.

O único superpoder de que o leitor realmente precisa é o que o leva constantemente a perguntar, desde o segundo em que acorda até ao segundo em que adormece: «Que vida posso salvar hoje?» É uma prática. Muitas vezes, esquecemo‑la. Resistimos‑lhe. Em vez de salvarmos vidas, preocupamo‑nos demasiado em salvar‑nos a nós mesmos. «Como é que vou pagar as contas?» «O que é que faço em relação ao facto de o meu patrão dizer mal de mim?» E por aí adiante.

Em vez disso, o leitor recebe superpoderes se tiver tentado salvar pelo menos uma vida durante todo o dia. Experimente. Amanhã, acorde e diga: «Hoje vou salvar pelo menos uma vida.» Até aju‑dar uma velhinha a atravessar a estrada conta, ou até responder a um e-mail e ajudar alguém a tomar uma decisão importante. Até entrar em contacto com um amigo distante e perguntar «Como estás?» pode salvar‑lhe a vida. O leitor pode salvar uma vida hoje. Não deixe que o Sol se ponha sem ter feito isso. O leitor é o Super‑Homem.

Em Escolhe-te a Ti Mesmo, James Altucher, SELF.

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O guerreiro interior, segundo Bruce Lee

Embora possa ser surpresa para aqueles que estão em plena crise emocional ou existencial, mas a verdade é que a resposta para quase todos os nossos problemas já se encontra dentro de nós. Ela existe sob a forma de um grande reservatório de energia que flui livremente, a qual, quando canalizada para os nossos músculos, pode dar‑nos uma força enorme e, quando orientada para o nosso cérebro, pode conceder‑nos uma clareza e uma compreensão imensas. Os chineses chamam chi a esta energia que acontece naturalmente e que, segundo a sua convicção, circula em ciclos contínuos no interior dos nossos corpos.

Alguns compararam esta enorme energia interior à teoria quântica na Física; ou seja, os padrões de energia subatómica que são mantidos para serem sinónimo das forças evolutivas inerentes ao crescimento e ao desenvolvimento de todas as coisas. Esta energia não é observável, digamos, sob a forma em que as partículas ou outras formas sólidas de matéria o são, mas também não é exatamente uma onda ou um processo.
Evidentemente, é mais uma combinação dos dois. Em todo o caso, como veremos mais adiante, tudo na vida imita este ciclo de energia em processos que são rapidamente percetíveis — do átomo ao sistema solar. A recompensa, na nossa aprendizagem, por nos ligarmos a estes vastos ciclos de energia é que, ao fazê‑lo, o resultado pode ser uma completa e total harmonia entre a mente e o corpo, que atinge o seu auge sob a forma de um enorme despertar espiritual, o qual os sábios taoistas da China Antiga apelidaram de tun‑wu e os mestres zen japoneses chamam satori.

Não admira que o lendário profissional de artes marciais do século XX, Bruce Lee, tivesse conhecimento total da existência destas grandes forças, o que o levou a comentar, certa vez:

«Sinto que tenho esta enorme força criativa e
espiritual dentro de mim que é maior do que a fé,
maior do que a ambição, maior do que a confiança,
maior do que a determinação, maior do que a visão.
É tudo isto, junto… Seja divina ou não, eu sinto esta
grande força, este poder inexplorado, este algo
dinâmico dentro de mim. Este sentimento desafia
qualquer descrição e não há experiência a qual seja
possível compará‑lo. É uma espécie de emoção forte
misturada com fé, mas muito mais forte.»

Se me permitirem a ousadia de tentar simbolizar esta enorme fonte de energia interior, a imagem que melhor a representaria talvez fosse a de um profissional de artes marciais ou a de um guerreiro. Afinal de contas, o guerreiro é uma imagem que representa uma força maior, a qual, sendo mobilizada corretamente, lhe permitirá vencer muitas batalhas, mas, sendo mal orientada ou negligenciada, pode erguer‑se e tornar‑se a sua Némesis. A maioria de nós, no Ocidente, negligenciou a nossa força guerreira, ignorando a sua presença e renunciando até à tentativa de nos ligarmos a ela. O resultado é que acabamos por nos tornarmos muito menos do que tudo o que podemos ser. Como afirmou, certa vez, o psicólogo norte‑americano, William James, no seu ensaio intitulado The Energies of Men (As Energias dos Homens): «Comparado com aquilo que deveríamos ser, estamos apenas meio despertos. As nossas fogueiras são um braseiro. Estamos a usar apenas uma parte reduzida do potencial dos nossos recursos mentais e físicos.»

Se, no entanto, escolhermos aceder a esta energia interior, tornar‑nos‑emos no que podemos ser — despertando de imediato as nossas paixões e atiçando completamente a chama do nosso potencial máximo — e as nossas vidas mudarão. Tornar‑nos‑emos mais apaixonados, mais confiantes — mais à vontade connosco e com o mundo à nossa volta — e alcançaremos, quase sem esforço, os nossos objetivos. Seguramente, Bruce Lee conseguiu aceder a esta força quando assim o desejava, e era sua a convicção de que as grandes coisas são possíveis quando já tivermos aprendido a canalizar o que ele chamou «aquelas grandes forças espirituais interiores», com o olhar posto no futuro: «Quando o Homem alcança a cons ciência vital dessas grandes forças espirituais no seu interior e começa a usá‑las na Ciência, nos negócios e na vida, o seu progresso no futuro será incomparável.»

em O Guerreiro Interior, SELF.

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Simplificar

Encarar tudo de forma mais simples, ou simplificar, é perceber que, por vezes, menos é mais. E o que será isto do “menos”?

Certamente que será algo diferente para cada um de nós e, conforme já referi, cada um de nós poderá fazer a sua interpretação e de acordo com o momento de vida que está a viver. Ainda assim, este “menos” simboliza claramente a diminuição de algo que nos aflige, que nos faz mal, mas de forma realista e sem ser através do evitamento. Ao fazer isso, permitimos que surja mais espaço na nossa vida ou dentro da nossa cabeça para que outras coisas se ampliem.

Creio que todos queremos ser felizes, genericamente falando, pois à parte as diferenças entre todos, o ser humano procura o prazer, a felicidade, a satisfação… Seja através da profissão, da nossa relação com os outros ou da forma como vivemos connosco (ou com tudo conjugado). No fundo, a forma como estamos na vida, virados para todos estes pontos cardeais e pautados pela simplicidade no estar, pode dar azo à potencialidade de estarmos saudavelmente conectados connosco e com tudo o que nos rodeia.

(…)

E ao refletir um pouco concluí algo que pode ser um cliché, mas que é algo que podemos desejar e procurar encontrar: a melhor fase da nossa vida tem de ser aquela onde nos encontramos.

(…)

O desafio maior que temos nas nossas vidas talvez não seja só sermos felizes, será também estarmos na melhor fase das nossas vidas, precisamente no momento em que nos encontramos com tudo o que isso traz. Sejam encontros ou desencontros. Este ponto de vista pode parecer pouco lógico, pois o ser humano não quer sofrer, mas na realidade, o passado não existe e o futuro ainda não se fez. Ambos residem dentro de nós e tanto podem ter um poder abissal e descontrolado como podem ser uma ferramenta útil.

A grande aprendizagem (e dificuldade) é estar presente no momento em que nos situamos, conectados, aceitando o que surge. Essa aprendizagem é a vida! E é algo para manter durante todo o tempo que temos.

Também quando estamos perdidos dentro das nossas confusões, less is more (menos é mais). Menos é mais porque, por vezes, o silêncio e o “não fazer” trazem‑nos mais frutos. E mais frutos é muito bom, nada menos, ou less. Less is more porque não atiça a fogueira do incêndio interno que, por vezes, nos consome. É como baixar o volume da nossa confusão interna. Less é a água que vem abrandar as labaredas e resfriar a temperatura. Mas Less is more but not good (menos é mais, mas não é bom), quando nos agarramos a isso para não fazer nada, não dar passos em frente e ficar na bolha (que é como quem diz, ficar no conforto de não fazer nada).

Como diz Larry Dossey, “não devemos romantizar o que é simples”, e nem sempre é fácil encontrar um meio‑termo ou um acordo entre aquilo que pode ser percecionado como simples. Como em tudo, é necessário encontrar um equilíbrio e entender de forma consciente quando é que é necessário parar e quando é que é necessário agir. É como encontrar uma saída mais simples no meio de tanto caos, interno e externo. E isso é, por vezes, o mais desafiante. De qualquer forma, saber encontrar este equilíbrio é a chave para outros equilíbrios da vida. E é através da experiência que conseguimos encontrar a sabedoria de o fazer da forma certa, no momento certo.

Faz este pequeno exercício:

  1. Quais os temas mais complicados na minha vida?
  2. Dentro desses temas, quais os que são da minha responsabilidade ou em quais posso agir?
  3. Em algum deles é possível não agir nem pensar nisso, nem que seja por um dia?

Em A vida não tem Mapa de Ana Caeiro

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Como está a sua situação financeira?

Para testar o seu autoconhecimento sobre os hábitos relativos a gastos, poupanças e investimentos, faça o teste que Kevin O'Leary desenhou para saber melhor o seu perfil financeiro, os seus objetivos e a sua capacidade de os atingir.

SOBRE GASTOS

1. Sabe, a qualquer momento, exatamente quanto tem na carteira e nas contas à ordem/de investimento/de poupança? S/N

2. Vai às compras com uma lista específica, comprando apenas o que dela consta, com raras exceções? S/N

3. Abstém-se de pagar bens de consumo ou artigos de mercearia com cartão de crédito, pagando-os apenas em dinheiro ou com cartão de débito, a menos que seja absolutamente necessário? S/N

4. Resiste a compras de última hora (tais como revistas, barras de chocolate ou pastilhas elásticas) quando já se encontra na fila para a caixa? S/N

5. Pesquisa preços e compara-os antes de se deslocar às lojas? S/N

6. Em casa, evita ou bloqueia o canal de compras para se impedir de fazer compras desnecessárias a partir do sofá? S/N

7. Paga os cartões de crédito ao fim do mês, usando-os apenas por comodidade ou para juntar pontos? S/N

8. Mantém os recibos cuidadosamente arquivados e devolve prontamente os artigos com os quais não ficou satisfeito ou chega à conclusão de que não precisa? S/N

9. Inteira-se de todos os descontos, abatimentos e cupões disponíveis antes de fazer qualquer compra? S/N

10. Consegue evitar ir às compras quando está irritado, entediado, preocupado ou cansado? S/N

SOBRE POUPANÇAS

1. Põe uma quantia de parte todos os meses para poupança, sem nunca se afastar desse compromisso a menos que haja uma emergência? S/N

2. Subscreve a conta de poupança com os juros mais altos que encontrar? S/N

3. Mantém saldos mínimos para evitar pagar taxas bancárias? S/N

4. Sabe quanto paga em taxas bancárias? S/N

5. Vive dentro das suas possibilidades? S/N

6. Faz do pagamento das dívidas uma prioridade? S/N

7. Se tem filhos, tem algum plano de poupança para a educação deles? S/N

8. Se está a planear comprar uma casa, tem poupado o suficiente para dar a entrada (pelo menos 20 por cento)? S/N

9. Cultiva bons hábitos — como levar o almoço para o emprego e usar bibliotecas — com o objetivo expresso de poupar dinheiro? S/N

10. Tem dinheiro de parte para uma emergência? S/N

SOBRE INVESTIMENTOS

1. Está preparado para investir? S/N

2. Tem os seus objetivos para a reforma bem definidos? S/N

3. Sabe até onde está disposto a arriscar? S/N

4. Tem conhecimentos básicos sobre os diferentes produtos financeiros ao seu alcance, como ações, obrigações, obrigações do tesouro ou fundos de investimento, e sobre as diferenças entre produtos que rendem ou não juros ou dividendos? S/N

5. Tem um plano de pensões? S/N

6. Compreende os planos de poupança-reforma e os benefícios fiscais que lhes estão associados? S/N

7. Trabalha com um consultor financeiro de confiança que o ajuda a mover-se no campo dos planos de investimento complicados? S/N

8. Presta regularmente atenção às notícias financeiras? S/N

9. Investe apenas em instrumentos que compreende? S/N

10. Reage a mercados voláteis com moderação e paciência? S/N

Se respondeu sim à maior parte destas questões, parabéns. Espero que os meus livros reforcem os seus bons hábitos relativos a gastos, poupanças e investimentos e o ajude a não os deixar deteriorar-se.
Se respondeu sim a cerca de metade e não à outra metade, então encontrará em ambos os livros, conselhos valiosos para o ajudar a reequilibrar a balança a favor da sua saúde financeira.
Se respondeu não à maior parte das perguntas, então está a encaminhar-se para problemas financeiros. Mas não é tarde para mudar; de facto, em questões de dinheiro, nunca é tarde para mudar.

Livro de Bolso

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3 Pontos de Acupressão que aliviam o stress

As mudanças e incertezas do último ano deixaram-nos mais stressados do que nunca, sendo ainda mais importante cuidarmos de nós e estarmos atentos aos sinais de que algo não está bem.

A acupressão, uma prática da medicina tradicional chinesa (MTC), pode ajudar-nos a encontrar algum conforto, tocando nos pontos de pressão no nosso corpo que ajudam a aliviar o stress.

1. HE GU (LI4)

Este ponto de pressão localiza-se entre o polegar e o dedo indicador, no ponto mais alto do músculo, como podemos ver na figura.

O ponto de acupressão He Gu foi exaustivamente estudado em ambientes clínicos. A pesquisa mostra que não é apenas um excelente ponto de pressão para aliviar o stress, como é um excelente aliado em situações de dor. Quando sentimos alguma dor este ponto ajuda a minimizá-la.

Como fazer: Aplicar pressão e massajar a área por cinco segundos. Repita conforme necessário.

2. ZUSANLI (ST36)

Abaixo do joelho, encontramos o ponto de pressão Zan San Li (ST26) colocando quatro dedos abaixo da rótula. A partir daí, mova-se os dedos horizontalmente para o lado de fora. (Para garantir que este é o lugar certo, balance o pé para cima e para baixo e deverá sentir um músculo a mover-se.)

Segundo a Medicina Tradicional Chinesa este ponto ajuda-nos a acalmar e promove o nosso bem-estar geral.

Como fazer: Use o polegar para aplicar pressão e massajar o ponto por cinco segundos. Repita conforme necessário.

3. TAI CHONG (LV3)

Para encontrar este ponto de pressão, localize o espaço entre o dedo grande do pé o segundo dedo. A partir do local onde a pele se encontra, mova para cima cerca de dois dedos.

Este ponto ajuda também na digestão e reduz a irritabilidade.

Como fazer: Use o polegar para aplicar pressão e massajar o ponto por cinco segundos. Repita conforme necessário.

A melhor forma de combater o stress é alterar a rotina e reservar algum tempo para meditar, relaxar, fazer algo que ajude a desconectar-se dos pensamentos e pressões que lhe causam ansiedade e stress.

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A prática no dia-a-dia

Que passos práticos é que podemos dar para treinar as nossas mentes nestas nossas vidas tão ocupadas e neste mundo tão complexo e tantas vezes confuso?
O primeiro passo a dar é estabelecer uma prática meditativa diária. Isto exige disciplina. Nem sempre é fácil guardar algum tempo para meditarmos todos os dias; há tantas outras coisas que chamam a nossa atenção. Mas, conforme acontece com qualquer outro tipo de treino, se o praticarmos regularmente, começaremos a usufruir dos frutos. É claro que nem sempre conseguiremos concentrar-nos ao tentarmos meditar. Algumas vezes sentir nos-emos aborrecidos ou inquietos.

Estes são os altos e baixos inevitáveis desta prá tica. O importante é o empenho e a regularidade com que se pratica, não é a forma como se sente a pessoa.
O violoncelista de renome mundial Pablo Casals, aos 93 anos ainda praticava três horas por dia. Quando lhe perguntaram porque é que ele ainda praticava com aquela idade, respondeu: «Estou a começar a ver algum progresso.»

O treino da meditação apenas acontecerá através do seu próprio esforço. Ninguém pode fazê-lo por si. Existem muitas técnicas e muitas tradições e você poderá encontrar a mais adequada para si. Contudo, o que provoca uma transformação é a regularidade com que se pratica. Se o fizermos, algo começará a acontecer; se não o fizermos, continuaremos a agir segundo os vários padrões da nossa limitação.

Ninguém pode fazê-lo por si.

O segundo passo é treinarmo-nos para permanecermos conscientes do nosso corpo ao longo do dia. À medida que vamos avançando nas nossas tarefas diárias, frequentemente perdemo-nos em pensamentos sobre o passado e sobre o futuro, deixando de estarmos conscientes dos nossos corpos.
Uma reação simples e útil para nos lembrar mos quando estivermos perdidos nos pensamentos é o sentimento tão comum de precipitação. A precipitação é um sentimento de cair para a frente. As nossas mentes estão sempre mais adiantadas do que nós, concentrando-se no sítio onde queremos ir, em vez de se fixarem no nosso corpo no sítio em que estamos.
Aprenda a prestar atenção a esta sensação de precipitação – que não tem nada a ver com a velocidade a que estamos a avançar. Podemos sentir-nos apressados enquanto avançamos devagar e podemos estar a avançar rapidamente e, ainda assim, estarmos fixos nos nossos corpos.

O sentimento de precipitação apenas nos lembra que não estamos presentes. Se puder, repare no pensamento ou na emoção que lhe captou a atenção. Depois, só por um instante, pare e volte a fixar-se no corpo: sinta os pés no chão, sinta o passo seguinte.

Um pequeno instante sozinho num quarto demonstrar-se-á mais valioso do que qualquer outra coisa que lhe possam dar.
Rumi

Joseph Goldstein em Um Coração Repleto de Paz

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A prática da consciência

Podemos dar início à prática da meditação da consciência com a simples observação e o simples sentir de cada respiração. Ao inspirarmos, sabemos que estamos a inspirar; ao expirarmos, sabemos que estamos a expirar. É muito simples, mas não é fácil. Após algum tempo a fazer isto, começamos a saltar sobre um comboio de associações, perdendo-nos em planos, lembranças, julgamentos e fantasias. Às vezes parece que estamos numa sala de cinema, em que o filme está constantemente a mudar. É assim que funcionam as nossas mentes. Nós não ficaríamos num cinema em que os filmes mudassem tão rapidamente, mas o que é que podemos fazer em relação à nossa sala de projeções interior?

Este hábito de devaneio da mente é muito forte, mesmo quando os nossos pensamentos não são agradáveis e talvez nem correspondam à verdade. Tal como Mark Twain se referiu a isto tão competentemente: «Algumas das piores coisas da minha vida nunca aconteceram.» Temos de treinar as nossas mentes para que voltemos a prestar atenção à nossa respiração uma e outra vez e regressemos, simplesmente, ao início.

Algumas das piores coisas da minha vida nunca aconteceram.
Mark Twain

À medida que as nossas mentes se vão acalmando lentamente, começamos a sentir uma espécie de calma e paz interiores. É a partir deste sítio de grande tranquilidade que sentimos os nossos corpos de um modo mais direto e começamos a tornar-nos recetivos tanto às sensações agradá veis como às desagradáveis que poderão surgir.

Inicialmente poderemos resistir às desagradáveis, mas, de uma maneira geral, estas não duram muito. Elas permanecem durante algum tempo, nós sentimo-las, elas são desagradáveis – e depois desaparecem e chega outra coisa qualquer. E mesmo que elas em irjam repetidas vezes durante um determinado período, nós começamos a ver a natureza impermanente e imaterial delas e a ter menos medo de as sentirmos.

Uma parte posterior do treino consiste em tornarmo-nos conscientes dos nossos pensamentos e emoções, das atividades mentais subtis, dos nossos corpos e das nossas vidas. Já alguma vez parou para pensar no que é um pensamento – não no conteúdo deste mas na própria natureza do pensamento? São poucas as pessoas que refletem sobre a pergunta «o que é um pensamento?» Em que é que consiste este fenómeno que ocorre tantas vezes por dia e ao qual prestamos tão pouca atenção?

Não estar consciente dos pensamentos que surgem nas nossas mentes, nem da natureza do próprio pensamento, possibilita que o próprio pensamento, possibilita que os pensamentos dominem as nossas vidas. Os pensamentos conduzem-nos frequentemente como se fôssemos escravos deles, dizendo nos para fazer isto, dizer aquilo, ir ali, ir acolá.

Os pensamentos, despercebidos, têm muito poder.

Joseph Goldstein em Um Coração Repleto de Paz

Imagem por processingly em Unsplash.