A comunidade médica ainda tem dúvidas sobre as dores de crescimento. Alguns falam da sua existência e dominância nos membros inferiores, mas outros referem que essa sintomatologia pode não ter a ver com o crescimento. Mas o que vos trago hoje aqui não são as dores físicas de crescimento, pelo menos não essas que vivemos até à adolescência. Por mais incrível que pareça, estas dores não estão só associadas ao crescimento físico e não cessam no fim da adolescência. Porque não falar em dores de crescimento psicológico ou emocional? Apesar de já estarmos biologicamente desenvolvidos em adultos (fun fact: o cérebro só está completamente desenvolvido por volta dos 25 anos), passamos muitas vezes por dores de crescimento.
E que dores são estas?
O crescimento tem dor associada. Não é fácil assistir a ruturas, viver cisões e decidir por novas identidades ou caminhos. Há um enorme desafio em lidar e em expressar todas as emoções que sentimos (e às vezes vêm aos pares!). Aprender a lidar com a vida adulta é um processo de etapas, sendo que por vezes bailamos entre elas, e noutras fazemos umas voltas em trapézio e sem rede.
E não é só quando acontecem as “coisas más”. Como aprendemos a viver o que é bom? Sabemos saboreá-lo, ou será que desvanece como a areia nas nossas mãos abertas? É aquele fino e complexo equilíbrio entre o aprender a ser e viver, em contacto com tudo o que nos rodeia e nos afeta. E mais, aprender a ser adulto é para a vida. Desengane-se quem acha que chegar à vida adulta é sê-lo. É preciso vivê-lo. É preciso aprender a ir crescendo, pois crescemos até ao fim, vivendo como uma peça inacabada. É nesse inacabado que reside a vida. E não é numa perspetiva de procura da perfeição ou de viver na imperfeição. É continuar no caminho da nossa construção pessoal. E isto envolve muita coisa boa, mas também a aprendizagem de lidar com o menos bom. Não há um sem o outro, não há luz sem sombra.
Quem somos nós no meio da dificuldade? E com esse conhecimento, quem queremos ser daqui para a frente? O mundo está a pedir isso agora. São períodos estranhos e conturbados. Uns lidam melhor que outros. Uns lidam bem num dia, mal no outro. Alguns preferem a solidão em vez da casa cheia, outros preferiam ir lá fora livremente. Somos todos diferentes e importa encarar tudo isto sem julgamento. Os ânimos às vezes agitam-se e nem sempre se tornam bons conselheiros. Então, faz a tua parte. Cuida de ti, na medida do possível e na medida daquilo que é viável e realista. Cuida de quem consegues e queres alcançar (desde que esse “quem” queira ser ajudado). Não precisas de encontrar curas, salvar alguém ou entrar num estado de iluminação. Baixa as expetativas. Faz o que podes. E isso pode ser diferente de dia para dia. Hoje pode não ser possível muita coisa, então respira. Amanhã tentamos novamente.
Foto de Simon Hesthaven em Unsplash

Ana Caeiro é Psicoterapeuta Corporal na Sintricare (Sintra) e no Centro de Psicoterapia Somática em Biossíntese (CPSB – Lisboa), local onde se formou. É Professora Local no CPSB, faz parte do seu Conselho Pedagógico e Comité de Ética. Para além do Diploma de Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese, possui igualmente o certificado de Psicoterapeuta através da EAP – European Association for Psychotherapy. É licenciada em Geografia, Planeamento e Gestão do Território, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e em Psicologia pela Universidade Lusófona.
É também mãe, algo que acredita ser uma grande aprendizagem na sua vida, apesar de não surgir no seu currículo. Um dos seus maiores prazeres é a escrita e por isso, para além de ter um blogue pessoal, foi responsável pelo Blog da Biossíntese e participa esporadicamente no site de música Altamont. Realiza oficinas de escrita criativa e workshops temáticos relacionados com o desenvolvimento pessoal.
Site: www.psicoterapiacorporal.pt