
“Há ciclos de sucesso, quando as coisas vêm até si e prosperam, e ciclos de insucesso, quando elas desaparecem ou se desintegram e você tem de se libertar delas para criar espaço para que surjam coisas novas ou para que a transformação aconteça (…) Não é verdade que o ciclo ascendente seja bom e o descendente seja mau (…) O desaparecimento é necessário para que apareça um novo crescimento. Não pode existir um sem o outro.” – Eckhart Tolle em O Poder do Agora
A primeira pausa aconteceu há quase doze anos. Era a pausa que a minha alma sonhadora pedia há algum tempo, mas que a minha cabeça realista teimava em dizer ser impossível. Acabou por ser o meu corpo sábio a impô-la na forma de um cancro. Foi assim que me vi obrigada a parar dez meses. E que frutos colhi eu dessa experiência?
Aprendizagens para a vida que me servem ainda hoje de farol: o meu corpo é uma máquina maravilhosa e perfeita; adoeço porque, em parte, o permito; embora ache que não, terei sempre força para ultrapassar os piores momentos; o optimismo (ou a fé) é fundamental para superar obstáculos; acreditar que sou capaz de vencer é meio caminho andado para o sucesso; ser paciente é fundamental; por vezes é preciso baixar a guarda e entregarmo-nos aos outros sem reservas, sobretudo aos que nos querem bem e sabem cuidar de nós; devo tirar o melhor partido da situação em que me encontro; não devo dar por adquirido o dia de amanhã; ter sonhos e projectos prolonga a vida; quem tem mãe, tem pai e tem irmão tem tudo.
A primeira pausa foi, portanto, um ciclo descendente apenas na sua aparência. Na verdade, correspondeu a um dos períodos em que mais amadureci. Tornei-me melhor pessoa.
A segunda pausa aconteceu há um ano e meio. Foi a pausa tantos anos sonhada e que persegui com determinação, método e entusiasmo. Foi o maior dos presentes de aniversário. Foi uma volta ao mundo. E o que confirmei eu dessa vez? Que os sonhos mais loucos podem tornar-se realidade se eu for persistente, focada e organizada; que sou capaz de gerir com eficácia um orçamento avultado, sem derrapagens; que posso e sei viver com pouco; que o nosso planeta é deslumbrante; que o mundo não é o que vejo no noticiário das 20h; que é mais aquilo que une os seres humanos do que aquilo que os separa; que há entre nós mais generosidade e compaixão do que egoísmo e ódio; que um sorriso genuíno, um coração sem preconceitos, o respeito pelo outro e uma escuta atenta do que ele tem para nos contar desbravam caminhos em qualquer continente; que preciso dar ouvidos à minha intuição e manter-me atenta aos sinais; que ter medo é bom; que a adrenalina do novo e do desconhecido me faz sentir viva; que parte de mim é nómada e precisa, volta e meia, de pegar na mochila e partir; que há vários pontos do globo onde poderia viver e ser feliz; que a liberdade é mesmo um dos meus valores fundamentais.
A segunda pausa foi, assim, um ciclo claramente ascendente. Um ciclo de sucesso durante o qual muito enriqueci. Tornei-me melhor pessoa.
A terceira pausa aconteceu este ano, entre o início de agosto e meados de outubro. A recente aposta numa aventura profissional em Cabo Verde revelou-se péssima. Foi a pior experiência de trabalho em quase vinte anos de vida no activo. Tudo o resto foi extraordinário, com principal destaque para os conhecimentos e as amizades que fiz entre cabo-verdianos (onde incluo aqueles com quem trabalhei) e expatriados de várias nacionalidades. As pessoas, claro, são sempre o melhor destas experiências e nesse aspecto sou muito abençoada. Mas nesta novela luso-crioula, algumas pessoas foram também o pior.
E o que aprendi eu? Que viver e agir de acordo com os meus valores e preferir deitar-me de consciência tranquila pode acarretar uma pesada factura; que, tal como com as pessoas, se identifico numa instituição valores desalinhados dos meus, devo afastar-me em vez de tentar mudar as coisas sozinha; que desistir, em certas ocasiões, não é um sinal de fraqueza, mas sim de sageza; que devo, de uma vez por todas, dar mais crédito às minhas primeiras impressões, sobretudo quando são más; que preciso ser mais perspicaz na identificação da perversidade e da manipulação para não cair nos seus vórtices aniquiladores; que ser despedida pode provocar uma enorme vontade de rir e não é, de todo, o fim do mundo.
No meu caso, foi um pretexto para parar, recuar, olhar para as minhas circunstâncias de forma abrangente, ponderar hipóteses para o futuro próximo, traçar cenários, tomar decisões, respirar fundo, erguer-me e agir.