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Esqueça a preocupação de ser feliz

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Muitas vezes, a felicidade surge quando e onde menos se espera e, com a mesma frequência, não se materializa quando e onde esperaríamos. Então, a questão é deixar de pensar em ser-se feliz? Claro, permitir que a felicidade chegue de modo espontâneo é uma ferramenta poderosa na busca pela sua felicidade, visto que permite que ela apareça em qualquer altura e em qualquer sítio, e sem qualquer tipo de esforço da sua parte. Deixá-la totalmente ao acaso, porém, é pouco provável que produza bons resultados. Pode fazer muitas coisas para melhorar as suas probabilidades de ser feliz e fazer o máximo possível aumenta-as.

Por isso, desenvolver uma estratégia que inclua a maior quantidade possível de abordagens é a melhor maneira de avançar.
No entanto, fazê-lo de um modo planeado e preparado é uma coisa, despender todo o seu tempo a isso, absorvendo todo o tempo que poderia passar sendo simplesmente feliz, ou permitindo-se ficar extremamente preocupado com o que deveria estar a fazer para melhorar a sua felicidade é outra, e uma situação claramente contraproducente. Aproveitar tudo ao máximo na vida – de si próprio, da sua situação, as oportunidades que surgem no seu caminho ou que você pode criar, e por aí fora – tem maior probabilidade de produzir os resultados que pretende do que simplesmente ignorar a situação e esquecer-se de ser feliz.

Coloque-se no Centro

Desenhe um mapa mental, traçando todas as áreas-chave da sua vida tal como ela é agora e realçando as que lhe dão o que pretende, sendo, por isso, positivas, e todos os elementos que não possuem aquilo de que precisa ou que o retraem. O seu mapa deve ser concebido para mostrar três coisas: onde você se encontra a cada instante, o que está a fazer e a altura em que cada acontecimento está a decorrer. Para uma melhor referência, tente colocar tudo isso no mesmo mapa e depois realce os pontos positivos e negativos a cores diferentes, de modo a conseguir ver imediatamente onde se encontram as áreas de maior poder e fraqueza. Isto também lhe mostrará o que está a causá-las e quando e onde surgem.

É uma ferramenta útil que lhe permite ponderar sobre a sua situação e ver onde é feliz atualmente e onde tem de melhorar. Depois terá de trabalhar numa solução para este último. Lembre-se sempre de que a «felicidade» é um termo demasiado vasto para ser significativo, por isso você tem de compreender o que quer dizer para si em cada situação, por exemplo, excitação, contentamento, paz, realização, etc. Perceba exatamente o que é que o faz feliz e em que altura da sua vida e onde mais poderia sê-lo com um planeamento e execução cuidadosos.

Seja Fiel a si próprio

Pergunte-se o seguinte:

  • Do que é que preciso para ser feliz – agora mesmo? No futuro?
  • O que é que a felicidade significa para mim?
  • O que é que me faz feliz na minha vida?
  • O que é mais importante para mim?
  • O que é que me dá energia e otimismo?
  • O que é que gera negatividade, esgota a minha energia e me deixa infeliz?
  • O que é que tenho de mudar na minha vida para tirar o máximo partido da minha felicidade?

Só compreendendo exatamente o que o deixa feliz e como estruturar melhor a sua vida para conseguir aproveitar ao máximo as hipóteses de alcançar a felicidade com regularidade é que conseguirá construir uma plataforma através da qual possa atrair positividade e deter a negatividade. Isto é essencial para a busca da felicidade duradoura a longo prazo e vale muito a pena passar tempo a assegurar-se de que o faz da melhor forma possível. Com o tempo, as suas necessidades e preferências podem mudar, por isso, não se esqueça de refletir novamente sobre elas de vez em quando.

Esta estrutura também serve para o lembrar daquilo que está a tentar alcançar e o que deveria estar a fazer para o conseguir. Precisará de ter uma visão clara do seu principal objetivo – o que a felicidade absoluta significa para si e como esta pode ser alcançada – e terá de se certificar de que se trata de algo verdadeiramente alcançável, por muito improvável que pareça. É muito mais provável que alcance o seu sonho se o retratar, e mesmo que não vá até ao fim, é provável que melhore a sua situação só ao tentar.

Criar a sua visão e determinar os pontos ao longo do caminho ajudá-lo-ão a clarificar aquilo que realmente quer da vida, as coisas que realmente são importantes para si e isso, por sua vez, ajudá-lo-á a evitar a ratoeira de tentar imitar outras pessoas. É fácil e comum tentar-se copiar o estilo de vida de pessoas que parecem verdadeiramente felizes, supondo-se erradamente que o que funciona para elas também funcionará para si. Em vez disso, tente ser fiel às suas próprias necessidades e desejos, procurando alcançar aquilo que de facto deseja da vida e arranjando tempo e espaço para o conseguir.

Visto que não é possível alcançar tudo de uma só vez, terá de estabelecer prioridades, ordenando as suas exigências por importância e cronologia, antes de se dedicar metodicamente a atingi-las. Tenha também em mente que, por mais que lhe pareçam boas ideias, há algumas coisas que valem a pena fazer e outras que simplesmente não, porque lhe exigirão demasiado tempo e esforço para as concretizar – por isso, deixe-as de lado e siga em frente.

Seja feliz no momento presente!

Fonte: 50 segredos das Pessoas Felizes

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A Busca

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«So coming back from a journey, or after an illness, before habits had spun themselves across the surface, one felt that same unreality, which was so startling; felt something emerge. Life was most vivid then.» – Virginia Woolf

No meu último dia de trabalho em Portugal, o meu director despediu-se de mim dizendo-me: “Espero que encontres o que procuras”. Não tenho memória do que lhe respondi. Mas registei a ironia daqueles votos feitos sem que soubesse que eu tinha terminado de ler, havia muito pouco tempo, o livro de Miguel Sousa Tavares com o sugestivo título Não se Encontra o que se Procura.

Já se passaram seis meses sobre este episódio — tão breve e aparentemente simples, quando comparado com os reviralhos que vivi recentemente — e ainda assim penso naquelas palavras quase todos os dias: “Espero que encontres o que procuras”. Embora já me tivesse deparado com variantes desta frase — como quando me perguntam o que procuro ao viajar ou quando me atiraram à cara, há umas semanas, um desdenhoso “Vê se decides o que queres da vida” —, surpreendo-me frequentemente enredada no exercício, por um lado estimulante, mas também frustrante e, quem sabe?, inútil de tentar responder à pergunta: ando eu à procura de alguma coisa?

Como as cerejas, a questão trouxe outras questões: na vida, é preciso procurar objectivamente alguma coisa? E é preciso saber nomear essa coisa? E se eu efetivamente andar à procura, mas não souber bem do quê, será isso sinal de pouca inteligência ou, quiçá, de total desnorteio? Desnorteio ou desassossego? E o desassossego é mau? É saudável procurar-se até ao fim da vida? Será mau morrer-se sem se ter achado? Significará isso que a vida foi em vão? Será válido argumentar-se que ao menos se sabe muito bem o que não se procura? Ou poderei escudar-me em Mia Couto que, n’ A Varanda do Frangipani escreve: “O que se encontra nesta vida não resulta de procurarmos”?

Em 1998, numa viagem de avião de Lisboa para La Valetta, em Malta, levava no regaço o livro de Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia. Sentada no outro lado da coxia seguia uma adolescente que lia o mesmo livro. Teria uns 12 anos. Eu tinha 25. Foi nesse trajecto, a dez mil metros de altitude, numa noite de abril iluminada por uma lua cheia memorável, que descobri a mais bela definição de filósofo: alguém que, de acordo com Gaarder, mantém uma infantil capacidade de se espantar com as coisas mais simples. Um pouco como aquele miúdo de seis anos que se extasia perante a visão de um banal cão. E na exclamação que profere — “Olha, um cão!” — há o deslumbramento puro da primeira vez, como se uma misteriosa força da natureza tivesse acabado de criar naquele preciso momento e à frente dos seus olhos, o primeiro exemplar da espécie.

Foi esta explicação de Gaarder que recordei pela enésima vez há umas semanas quando me chegaram por acaso, através de uma newsletter, as palavras de Virginia Woolf com que abro este texto. Daquele pequeno parágrafo e da atitude do filósofo extraio a única coisa que eu sei com toda a certeza que procuro nesta vida: justificar cada novo dia da minha segunda oportunidade aqui.

Nessa procura, evito a sucessão de dias sem distinção e sem memória. Evito a voragem das semanas consumidas pela rotina e pela falta de significado. Como diz Woolf, quero sentir que algo emerge todos os dias, que faço algo memorável acontecer — por muito pequeno que esse algo seja — ou que sou capaz de valorizar um acontecimento menor, um detalhe que à primeira vista poderia ser nada.

Quero “curtir esta trip permanente” (palavras com que o meu irmão descreve a minha postura) que é estar cá e não dar por adquirido o dia de amanhã. E quero, como o filósofo e como as crianças, nunca matar em mim a capacidade de me espantar com o mais simples. Quero, por exemplo, fechar os olhos para sentir melhor a brisa fresca que entra agora mesmo pela janela aberta, a brisa que traz consigo o barulhinho bom da chuva a cair sobre o Mindelo e o cheiro doce a terra molhada. Em Cabo Verde, a chuva é ouro. Para a maioria, é a diferença entre a miséria e um ano remediado.

Daqui a pouco, quando estiver a adormecer, talvez faça deste preciso momento a pequena grande memória do dia.
E tu, já encontraste o que procuras?
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Usufruir da vida terrena

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Sob o tema da felicidade, vimos na primeira lição deste filósofo da Grécia Antiga que devemos encontrar um equilíbrio entre o que temos e o que nos é possível alcançar; na segunda lição de Epicuro foi referida a importância dos amigos; surge agora a terceira lição que nos fala da aprendizagem como um dos grandes prazeres da vida. Aprender contribui para a nossa felicidade não só porque a aprendizagem é uma tarefa coletiva de permanente debate de ideias com os outros, mas porque a descoberta, o conhecimento e a compreensão dos fenómenos do mundo nos permitem tomar consciência do que há de maravilhoso e único na existência humana.

No entanto, a maior ameaça que paira sobre a felicidade do ser humano – mesmo daqueles que são ricos ou poderosos – é o medo da morte e o medo do sofrimento para além da morte. Sobre esta questão, Epicuro defende uma posição materialista de grande sensatez. Se é certo que devemos evitar qualquer tipo de dor, a morte em si mesma é algo que não sentimos porque deixamos de sentir no preciso momento em que ela acontece. Dito de outro modo, enquanto cá estamos, a morte não existe, quando a morte existe, já cá não estamos. Da mesma maneira, não nos devemos inquietar com o que nos acontece depois da nossa morte, uma vez que os humanos e os deuses coabitam em mundos distintos.

Depois de morrer, não temos de recear a ameaça dos deuses ou do que quer que seja, pois pura e simplesmente não existindo já nada existe. Assim como nada existia para nós antes de nascermos, nada existe depois de morrermos.

Por isso, a conclusão que se impõe é que devemos aproveitar a vida o melhor que pudermos, tirando partido de todos os pequenos prazeres que ela diariamente nos propicia.