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O guerreiro interior, segundo Bruce Lee

Embora possa ser surpresa para aqueles que estão em plena crise emocional ou existencial, mas a verdade é que a resposta para quase todos os nossos problemas já se encontra dentro de nós. Ela existe sob a forma de um grande reservatório de energia que flui livremente, a qual, quando canalizada para os nossos músculos, pode dar‑nos uma força enorme e, quando orientada para o nosso cérebro, pode conceder‑nos uma clareza e uma compreensão imensas. Os chineses chamam chi a esta energia que acontece naturalmente e que, segundo a sua convicção, circula em ciclos contínuos no interior dos nossos corpos.

Alguns compararam esta enorme energia interior à teoria quântica na Física; ou seja, os padrões de energia subatómica que são mantidos para serem sinónimo das forças evolutivas inerentes ao crescimento e ao desenvolvimento de todas as coisas. Esta energia não é observável, digamos, sob a forma em que as partículas ou outras formas sólidas de matéria o são, mas também não é exatamente uma onda ou um processo.
Evidentemente, é mais uma combinação dos dois. Em todo o caso, como veremos mais adiante, tudo na vida imita este ciclo de energia em processos que são rapidamente percetíveis — do átomo ao sistema solar. A recompensa, na nossa aprendizagem, por nos ligarmos a estes vastos ciclos de energia é que, ao fazê‑lo, o resultado pode ser uma completa e total harmonia entre a mente e o corpo, que atinge o seu auge sob a forma de um enorme despertar espiritual, o qual os sábios taoistas da China Antiga apelidaram de tun‑wu e os mestres zen japoneses chamam satori.

Não admira que o lendário profissional de artes marciais do século XX, Bruce Lee, tivesse conhecimento total da existência destas grandes forças, o que o levou a comentar, certa vez:

«Sinto que tenho esta enorme força criativa e
espiritual dentro de mim que é maior do que a fé,
maior do que a ambição, maior do que a confiança,
maior do que a determinação, maior do que a visão.
É tudo isto, junto… Seja divina ou não, eu sinto esta
grande força, este poder inexplorado, este algo
dinâmico dentro de mim. Este sentimento desafia
qualquer descrição e não há experiência a qual seja
possível compará‑lo. É uma espécie de emoção forte
misturada com fé, mas muito mais forte.»

Se me permitirem a ousadia de tentar simbolizar esta enorme fonte de energia interior, a imagem que melhor a representaria talvez fosse a de um profissional de artes marciais ou a de um guerreiro. Afinal de contas, o guerreiro é uma imagem que representa uma força maior, a qual, sendo mobilizada corretamente, lhe permitirá vencer muitas batalhas, mas, sendo mal orientada ou negligenciada, pode erguer‑se e tornar‑se a sua Némesis. A maioria de nós, no Ocidente, negligenciou a nossa força guerreira, ignorando a sua presença e renunciando até à tentativa de nos ligarmos a ela. O resultado é que acabamos por nos tornarmos muito menos do que tudo o que podemos ser. Como afirmou, certa vez, o psicólogo norte‑americano, William James, no seu ensaio intitulado The Energies of Men (As Energias dos Homens): «Comparado com aquilo que deveríamos ser, estamos apenas meio despertos. As nossas fogueiras são um braseiro. Estamos a usar apenas uma parte reduzida do potencial dos nossos recursos mentais e físicos.»

Se, no entanto, escolhermos aceder a esta energia interior, tornar‑nos‑emos no que podemos ser — despertando de imediato as nossas paixões e atiçando completamente a chama do nosso potencial máximo — e as nossas vidas mudarão. Tornar‑nos‑emos mais apaixonados, mais confiantes — mais à vontade connosco e com o mundo à nossa volta — e alcançaremos, quase sem esforço, os nossos objetivos. Seguramente, Bruce Lee conseguiu aceder a esta força quando assim o desejava, e era sua a convicção de que as grandes coisas são possíveis quando já tivermos aprendido a canalizar o que ele chamou «aquelas grandes forças espirituais interiores», com o olhar posto no futuro: «Quando o Homem alcança a cons ciência vital dessas grandes forças espirituais no seu interior e começa a usá‑las na Ciência, nos negócios e na vida, o seu progresso no futuro será incomparável.»

em O Guerreiro Interior, SELF.

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Posso partilhar o que sinto ao publicar o primeiro grande livro em Portugal sobre o Bruce Lee?

Há algum tempo partilhei num blog post do site da Vida Self um artigo onde o Bruce Lee surge como recorrência a uma das minhas aprendizagens de vida. Falava nesse artigo sobre a arte de Fluir.

Desde muito pequeno que elegi o Bruce Lee como inspiração. No meu tempo a televisão eram 2 canais. RTP1 e RTP2. Quando digo “no meu tempo” quase que me sinto um velho ancião. E quando falo de 2 canais televisivos quase que imagino os risos das pessoas que me possam estar a ler e sejam mais novas que eu. De facto hoje o mundo é diferente. Não havia internet… É verdade. Eu próprio hoje tenho dificuldade em imaginar. Mas os filmes do Bruce Lee eram tesouros que surgiam em video. Em cassetes de VHS… cassetes que alugávamos no video clube do bairro. Quem é que eu estou a querer enganar… deixem-me ser mais transparente… as que eu via eram quase sempre pirateadas pelo meu vizinho do 2º esquerdo.

Ele tinha 2 vídeos e gravava de um para outro e depois todos no bairro tínhamos Sim… era assim que se gravavam coisas nesse “meu tempo”. Mas sabem que mais? Esse tempo era de acesso escasso mas tinha tanta magia… Uma das magias era as vezes sem conta que víamos os mesmos filmes. Víamos até decorarmos os trejeitos mais específicos de cada um dos personagens. As falas e os golpes que eles davam. Cada filme era um culto. Nem sempre era pela sua qualidade. Às vezes era mesmo só porque não tínhamos muitos filmes. Mas não no caso do Bruce Lee… Ele era e é um dos meus maiores ídolos de sempre.

No caso do Bruce Lee… não eram só as falas. Eram os golpes que íamos ali para o bairro da Quinta da Alagoa em Carcavelos, ensaiar e cair redondos no chão tal como cai quem está a fazer tudo com o coração inteiro. Eu sempre fui ágil e inspirado nas artes marciais. E embora pequeno… sentia-me o Bruce Lee por dentro e por fora todos esses dias da minha infância.

É-me difícil hoje saber exatamente quais dos meus amigos se sentiam como eu, por dentro. Mas eu vivia muito mais do que só os golpes fatais. As frases dele tocavam-me para lá da “gabarolice” do seu personagem. E até essa atitude me fazia sentido: a crença em si próprio, a auto-motivação, a moral e a coragem de enfrentar as injustiças. O estágio mental do seu olhar antes de entrar em batalha. Bruce Lee sempre foi um ator expressivo e comunicativo. A sua infância “arruaceira” não era totalmente preceptível nos filmes. Mas seguramente que o filósofo adulto em que ele se tornou estava evidente.

Lembro-me de me sentar a meditar, no chão do meu quarto, quando ninguém me via. Quando a meditação era uma coisa estranha e não entrava no dicionário do ocidental médio. Lembro-me de me concentrar para ganhar a força que nunca tive. Quando tentávamos partir tábuas das obras que apanhávamos do chão. Lembro-me de imitar as práticas do Bruce Lee e de tentar beber em cada palavra dele. De me mentalizar e dar o rotativo para partir a tábua fininha que era para mim uma conquista.

É importante perceber que, se hoje em dia, um ícone ou uma influência se pode manter num jovem por um ou dois anos, na altura estávamos a falar de um ícone que durou toda a minha infância e parte da minha juventude.

O Bruce Lee era como alguém que eu conhecia. Eu conversava com ele mentalmente com as minhas dúvidas e inseguranças. E ele respondia-me com aquele ser completo de força e determinação. Com inteligência. Com mente forte e corpo forte e esse casamento perfeito entre físico e intelectualidade.

Um ídolo, um modelo a seguir, um disciplinador e um crente na prática e aperfeiçoamento. Um tutor completo e confiante. Ainda hoje acho que é ele que me aconselha quando treino alguma coisa que não consigo. Mas que treino e aperfeiçoo até conseguir. Ele é a minha paciência de saber para onde vou.

Mas ele tinha ainda outra coisa que me magoava… o facto de ser alguém que eu nunca poderia conhecer. Um homem que tinha falecido alguns anos antes de eu nascer. Alguém que já trazia em si a mística de “sabedoria perdida”. Eu ainda não sabia deste livro…

Escrevo estas palavras e sinto que é para mim intenso, falar deste tema. Sinto agitação e entusiasmo quando tento trazer estas memórias para o presente. Por isso pergunto: Posso partilhar um pouco mais do que sinto ao estar a publicar este mês o primeiro grande livro no meu país sobre o Bruce Lee?

Este livro toca-me profundamente. Não quero dizer que publico algum outro livro na minha editora com leveza. Mas as origens do que fazemos bebem em inspirações diferentes. Na Self temos muitas vezes presente a frase “Powered By Inspiration” ou o “Publicamos o Que Nos Inspira”. Somos essa energia. E o Bruce Lee vibra com toda esta mesma energia que imprimimos no que fazemos.

Claro que não é por acaso. Constato uma coisa gira: Quanto mais partilho este livro em redor, mais percebo que Bruce Lee me influenciou a mim Mas também a tantos outros com quem partilhei o que estamos a fazer. É nesses dias que sentimos que afinal, este ícone do desenvolvimento pessoal influenciou mais pessoas do que pensamos.

BRUCE LEE

Quando decidi publicar este livro foi um processo lento. Há anos que tenho a ideia na cabeça. Há anos que sabia qual o livro que queria trazer para o leitor português. Que sabia a capa e a qualidade de impressão que queria colocar neste livro. O projeto foi vivendo dentro de mim… crescendo… alimentando-me e nutrindo-se a si também de todos os elementos que o compõem hoje.

Não posso dizer que não estou orgulhoso com todos os detalhes da nossa edição. A capa, o verniz, as cores, os sombreados escondidos que trabalhámos dentro da nossa equipa para criar este livro que é muito mais do que um livro. Este objeto que é uma pedra de conhecimento que concebemos para entrar na decoração de qualquer sala dos nossos leitores. Quero e espero partilhar em alguns outros artigos a profundidade do que está na sabedoria destas páginas. Hoje, a celebração é mesmo a de dar os parabéns à minha equipa por termos executado o sonho. Já não é meu nem nosso. É vosso também e espero que o acarinhem como nós o acarinhámos.

Boa leitura.

António Vilaça Pacheco , editor e founder @Self

Saiba mais sobre o livro, clicando AQUI.

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Fluir como o Bruce Lee

fluir

Quando eu era pequeno, era completamente fascinado pelas artes marciais. Lembro-me de que seguia religiosamente a série de TV Os Jovens Heróis de Chaolin. O Kung Fu era o meu caminho; imitava as meditações e praticava os golpes repetidamente no meu quarto. Mas o maior dos meus heróis sempre foi o Bruce Lee. Para alguns ele era apenas um ator e um perito em artes marciais, para outros teria uma faceta mais próxima de “guru”. A verdade é que, antes de ser uma estrela de Hollywood, Bruce Lee já era licenciado em filosofia. Talvez por isso seja comum encontrar nos seus diálogos analogias como a da famosa gravação que ficou para a história: “Be water, my friend”. Vamos então ver o que Bruce Lee queria dizer com esta frase e qual a relação entre ela e a técnica do Flow.

Imagine um momento em que está a praticar um desporto que atrai toda a sua atenção. Imagine que está a surfar uma onda perfeita. Ao deslocar-se na onda está a sentir os salpicos de água no corpo, o vento na face e a água salgada na boca. Toda a sua atenção está focada em usar todas as suas capacidades, o melhor possível. Sabe exatamente o movimento que tem que fazer em cada momento. Não há passado nem futuro… Só existe o presente. Só existe o mar, a prancha, o seu corpo e a sua consciência. Todos os elementos se unem numa única coisa e consegue sentir-se completamente presente naquele momento. O “ego” dilui-se e torna-se parte do que está a fazer. Era isto que Bruce Lee queria dizer com “Sê água, meu amigo”. Um momento em que fluímos e somos unos com o que estamos a fazer. Nesse preciso momento fluímos e perdemos a noção do tempo. Entramos em Flow.

SAIBA AQUI COMO ENTRAR EM FLOW E OS BENEFÍCIOS DO FLOW NO TRABALHO E NA VIDA.

O que é que nos faz gostar de fazer uma coisa de tal maneira que nos esquecemos de tudo o resto? De todas as preocupações. Quais são então os momentos em que estamos mais felizes?

Estudiosos aprofundaram estas questões e chamam a este estado Fluir, Fluxo ou Flow. Um estado de prazer e criatividade no qual estamos totalmente imersos na vida.

Não há nenhuma receita para a felicidade, mas um dos ingredientes é termos a capacidade de entrar no estado de Flow para, através dele, termos “experiências ótimas”. Segundo Mihaly Csikszentmihalyi (psicólogo que criou o termo Flow), este é o caminho para vivermos uma “experiência ótima”. No mundo atual, com tanta distração, informação e solicitação, é cada vez mais difícil ter condições ao nosso redor que nos permitam entrar em Flow.

Segundo o psicólogo, devemos focar-nos em aumentar o tempo que vivemos a praticar atividades que nos permitem entrar nesse estado. Não são só os desportistas e as pessoas que têm trabalhos criativos que conseguem entrar em Flow (ou fluxo). Segundo os estudos de Mihaly, em todas as partes do mundo e em todas as tarefas é possível entrar em Flow. É igual em qualquer cultura, idade ou atividade. Ao fluir estamos concentrados numa única tarefa, tirando prazer dela e sem nos deixarmos distrair. Se precisa de realizar uma tarefa importante, o melhor é aplicar algumas técnicas que lhe permitam entrar em Flow no seu trabalho. Garanta que elas se cumprem o máximo de vezes na sua vida.

Deixo-lhe então as 7 condições para entrar em Flow:

1 – Saber claramente o que fazer.

2 – Saber claramente como o fazer.

3 – Saber o quão bem está a fazê-lo.

4 – Saber até onde tem que ir.

4 – A tarefa deve desafiar os nossos skills.

5 – Estar livre de distrações.

(metodologia de Owen Schaffer)