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Formação Despertar. Libertar. Crescer.

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Formação Despertar. Libertar. Crescer.
Despertar. Libertar. Crescer. é para quem procura compreender as dinâmicas subjacentes aos processos de transformação e de crescimento emocional. Numa época de autenticidade e aceitação de quem somos este curso é um roteiro para a busca do nosso eu e o reencontro com o nosso SELF verdadeiro. Esta formação é para quem quer libertar-se do passado, simplificar o presente e abraçar o futuro. Um curso prático visando um percurso de autoconhecimento, transformação e crescimento.
 
A formação está dividida em 3 módulos. A participação no segundo ou terceiro módulo só é possível com a participação nos módulos anteriores:
MÓDULO DESPERTAR

‘Quem olha para fora ilude-se, quem olha para dentro desperta’ (C. Jung). Desviar o olhar do mundo exterior e dos outros como responsáveis pelo nosso mal-estar para focar o olhar no nosso mundo interno é o primeiro grande passo no processo de crescimento e mudança. Este módulo vai ampliar a consciência das dinâmicas pessoais, da sua origem e consequências nos nossos padrões de comportamento e nas nossas relações interpessoais.

  • fev: 07, 14, 21, 27
  • março: 14, 21
MÓDULO LIBERTAR

Como quebrar padrões que já não nos servem, mas sem os quais parece que não sabemos viver? Muitos deles têm origem no estilo de vinculação que aprendemos a estabelecer com os nossos cuidadores, a qual nem sempre é seguro e saudável. Ver a nossa realidade, aceitá-la para mudar para algo diferente é o propósito deste módulo: libertar o velho e identificar o novo.

  • março: 28
  • abril: 11, 18, 24
  • maio: 02, 09
MÓDULO CRESCER

Crescemos emocionalmente quando aceitamos o desafio da Jornada do Herói, com as etapas que dela fazem parte. Vamos buscar a obra de Joseph Campbell com os seus mitos e arquétipos para recriarmos a nossa história como seu herói protagonista. Ao longo do percurso vamos trabalhar recursos essenciais para o sucesso: cuidar de nós, proteger-nos e nutrir-nos de forma a sentir a felicidade da vida ao longo do caminho e não como uma meta inalcançável.

  • maio: 30
  • junho: 06, 13, 20, 27
  • julho: 04

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Horário: Das 19h às 21h30

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Valores:

Curso total: 390€

Por módulo: 150€

Early Bird até 31 de Janeiro: oferta do livro Despertar, Libertar, Crescer de Rossana Appolloni

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Local:

Cowork da Praia, em Carcavelos
 
Morada: 
Praça do Junqueiro, nº3, Loja B 2775-597 Carcavelos
Incrições:
geral@vidaself.com

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Inclui: Oferta de Certificado de Participação no final.

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Este curso nasce do trabalho da autora e de formações e workshops que tem vindo a realizar.

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Biografia da autora: 

Rossana Appolloni nasceu em 1976 em Lisboa. Após uma primeira formação académica em Cinema na ESTC de Lisboa, foi para Itália, onde conheceu a Psicossíntese, um modelo psicoterapêutico de natureza humanista-existencialista. Diplomou-se em Counselling pela Società Italiana di Psicosintesi Terapeutica de Florença. De regresso a Portugal frequenta os cursos de Psicoterapia Somática em Biossíntese, Somatic Experience e Bodynamic, e nos EUA (Esalen) e em Espanha a Hakomi Mindful Somatic Psychoterapy.

É licenciada em Linguística e Mestre em Psicolinguística pela Università Degli Studi di Perugia (Itália) e é ainda Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Lusófona de Lisboa.

Além de dar formação, dedica-se à prática da psicoterapia individual e de dinâmicas de grupo. Lecionou na Universidade de Perúgia e na Escola do Exército Italiano durante os 11 anos que viveu em Itália. Atualmente colabora com a Fundação Portuguesa para o Estudo, Prevenção e Tratamento das Dependências (A Barragem), com o Centro de Psicoterapia Somática em Biossíntese e tem o seu consultório para atendimento privado. Desde 2014 que publica o Podcast Ousar Ser e é autora dos livros Ousar ser feliz – dá trabalho mas compensa! (Vida Self Editora, 2014) e Do Sofrimento à Felicidade – Da Psicanálise à Psicologia Positiva (Vida Self Editora, 2015).

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Narcisismo: Nem tudo é sobre nós

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Narcisismo: Nem tudo é sobre nós

O narcisismo é apresentado como o mal do nosso século, mas este traço presente na nossa personalidade nem sempre é nocivo. Existe um narcisismo saudável que se reflete num Self seguro de si próprio, estruturado, que reconhece o próprio valor, sabe o que quer, sabe como proteger-se e cuidar de si e identifica os recursos internos disponíveis para alcançar os seus objetivos. O narcisismo passa a ser nocivo, ou até mesmo patológico, quando entramos numa fantasia de superioridade, de sermos especiais e melhores do que os outros, o que nos dá uma certa sensação de legitimidade para fazermos o que quisermos, usando os outros a nosso favor, sem medir as consequências.

Todos nós temos uma certa dose de narcisismo, e ainda bem! Caso contrário não nos sentiríamos capazes de nada. O narcisismo surge na idade infantil aquando da estruturação do ego e nessa fase a criança acredita que o mundo gira à volta dela. Frequentemente se diz, por isso mesmo, que as crianças são egocêntricas. Quando elas querem um gelado querem-no aqui e agora e não empatizam minimamente com os impedimentos que os pais possam apresentar; uma criança, quando, por exemplo, vê o seu desejo de uns ténis de marca a ser recusado, começa a alimentar um ódio para com os pais, identificando-os como pessoas más. Não interessa se não têm possibilidades financeiras ou se os seus valores assim o ditam; o que interessa é que a criança associa a vontade negada a uma rejeição emocional enquanto ser.

Uma criança apenas vê o mundo a partir das suas lentes sem conseguir incluir as dos outros; quer tudo à sua maneira, de preferência rápido, e se os outros não correspondem são vistos como inimigos. Daí os pais, muitas vezes, acabarem por ceder às suas exigências e por condicionarem a vida em função dos filhos, passando estes a acreditar que são mesmo especiais, detentores de um poder capaz de mudar o mundo e os outros. Este estádio é normal e, em geral, ultrapassado. Porém, quando ficamos presos nele, significa que estagnámos no nosso processo de crescimento emocional e nos mantivemos num narcisismo que de saudável passa a tóxico.

Quantos de nós não parámos lá? Quantos de nós não ficámos presos numa visão rígida, achando que a sua perspetiva é a mais acertada? Quantos de nós não nos irritamos quando somos contrariados, quando as coisas não correm como queríamos, quando não alcançamos as nossas metas, quando o outro não responde do modo esperado? Muitos. Cognitivamente crescemos imenso, mas emocionalmente ainda somos bastante crianças.

Vamos então olhar para a nossa criança interior, aquela parte de nós que está cansada de se desiludir, de ver as suas necessidades não acudidas, de esperar que o outro nos veja e nos acarinhe, tal como queríamos que tivesse acontecido (ou acontecia) quando éramos crianças. Vamos olhar para a criança que ainda existe dentro de nós e que nos faz entrar numa tristeza profunda, ou numa zanga, quando o outro não corresponde ao que pedimos. Entramos em dor não só pela frustração de não termos o que queríamos, mas também pela crença que o outro não nos dá porque está contra nós, ou porque não gosta de nós o suficiente. Esta é a associação que uma criança faz.

O olhar do adulto consegue ver o outro e sentir e/ou compreender a sua dor. Se o outro está a ter um comportamento antipático não é para nos atingir, para nos magoar, para nos fazer mal – isso não faz sentido absolutamente nenhum em relações onde as pessoas se gostam –, mas deve-se sobretudo às suas dinâmicas internas que, por algum motivo, estão estagnadas num sofrimento que o leva a não agir de acordo com as nossas expectativas. Acreditar que o outro fez algo apenas para nos ferir é considerar que somos o centro da sua atenção, o que, na maioria dos casos, não se verifica. Cada um tem as suas batalhas internas, pelo que só uma visão narcisista tóxica acredita que o que o outro faz tem a ver connosco.

Claro que todos nos afetamos uns aos outros. Todo o nosso comportamento toca com maior ou menor intensidade consoante o tipo de relação e o tipo de feridas emocionais que cada um tem. De igual modo, o comportamento do outro também nos afeta consoante a nossa história. No entanto, não existe uma relação direta entre o que emissor faz e o que o recetor pensa e sente, pois depende das experiências dos envolvidos. Já me aconteceu vivenciar um atraso como um alívio, ou como um drama.
Somos todos diferentes, cada pessoa é um mundo e fixarmo-nos em interpretações únicas é contraproducente, pois alimentam uma fantasia pessoal que nos distancia da realidade e que poderá ser cor-de-rosa ou negra. Emocionalmente falando, a criança vive na fantasia, o adulto vive na realidade.

Nas discussões que vamos tendo pela vida, nos desentendimentos, nos desafios relacionais, é importante conseguirmos sair da nossa criança que amua ou entra nos seus dramas egocêntricos para conseguirmos olhar para a situação a partir de um lugar de adulto que vê a própria dificuldade e a do outro. Estamos em relação para nos ajudarmos a crescer, não para guerrear com vista a uma vitória. Não é suposto as relações serem batalhas, mas sim fonte de serenidade. Mas para isso temos de contactar com as nossas necessidades de adulto e ver a realidade por aquilo que ela é.

Temos de estar dispostos a abandonar o mundo perfeito que construímos na nossa imaginação. Ter essa disponibilidade é um passo para irmos largando um narcisismo infantil que não contempla os outros, para um narcisismo saudável que nos dá a autoestima e a autoconfiança para seguirmos o nosso caminho, onde incluímos os outros como nossos companheiros, não como inimigos.
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Gostar de mim

mim

‘Já percebi a importância de me pôr em primeiro lugar, de me amar e cuidar de mim, de me proteger e me nutrir de forma a fortalecer a minha autoestima, mas ainda não percebi como se faz.’ Este é o tipo de frase que oiço com frequência quando falamos no desejo de nos sentirmos bem connosco próprios e, consequentemente, na relação com os outros.

Costumo perguntar: ‘O que farias se a pessoa que mais amas na vida se encontrasse na situação em que sentes que devias pôr-te em primeiro lugar e não sabes como?’ Dou como exemplo uma pessoa que facilmente se repreende a si própria quando algo não corre como ela acha que devia ter corrido: ‘correu mal porque não me esforcei o suficiente, porque estava nervosa, porque não fui assertiva, porque sou insegura e não controlei as minhas emoções…’. Da autoagressão oscila para uma agressão externa: ‘se ele não me tivesse falado daquela forma eu não teria ficado nervosa; se ele tivesse sido amável e atento, eu teria dado a volta’, etc. Quer num caso, quer noutro, com este tipo de leitura estamos a fazer o contrário de cuidarmos de nós. A crítica, o julgamento, a repreensão e a culpa estão no oposto da aceitação, do perdão e da compaixão.

Se o teu filho, o teu companheiro, o teu amigo, o teu irmão – imagina a pessoa que mais amas neste mundo – experienciasse o mesmo tipo de situação, o que lhe dirias? ‘Que não faz mal, que talvez da próxima corra melhor e que estarei sempre aqui para ele, aconteça o que acontecer’. Porque não dizemos isso a nós próprios? Porque somos tão críticos e exigentes connosco quando conseguimos ser tão amorosos com o outro?

Colocarmo-nos em primeiro lugar, olhar para o que sentimos e pensamos antes de olharmos para o outro, não é um ato de egoísmo. É um ato de amor. Para connosco e para com o outro. Colocarmo-nos em primeiro lugar no que se refere a cuidarmos de nós e nutrirmo-nos é, antes de mais, assumir a responsabilidade da própria vida e desresponsabilizar o outro de o fazer. Ninguém tem a obrigação de satisfazer as nossas necessidades, ninguém tem a obrigação de nos compreender e resolver os nossos problemas. Partir desse princípio é importante para relações saudáveis, adultas, de genuinidade e liberdade. Se o outro quiser cuidar de nós que o faça porque nos ama e isso lhe dá prazer, não porque pedimos e/ou exigimos. Em crianças era obrigação dos pais zelar pelo nosso bem-estar psicofísico, em adultos somos nós a ter a honra dessa tarefa.

Em termos práticos, o que é que isso significa? Tracy McMillan, numa TedEx que muito me inspira para esta temática, baseia-se nos votos de um casamento tradicional para expor o que é casar-se consigo próprio, o que é tornarmo-nos a pessoa mais importante da nossa vida:

Prometo amar-te e respeitar-te…

  • Na alegria e na tristeza: quando estamos alegres gostamos de nós e apreciamos o nosso humor; e quando estamos tristes? Será que nos mimamos, nos respeitamos ou, pelo contrário, procuramos uma fuga ao que sentimos?
  • Na saúde e na doença: quando estamos bem somos funcionais, mas quando estamos doentes quantas vezes nos irritamos, nos desrespeitamos (até vamos trabalhar com febre)? Quantas vezes chegamos a dormir pouco por falta de tempo, a comer mal por impaciência, a adiar uma ida à casa-de-banho para não interromper uma tarefa? Como cuidamos do nosso corpo, o templo que habitamos?
  • Na riqueza e na pobreza: nos sucessos e nos fracassos, será que festejamos ambos como passos num percurso de aprendizagem e crescimento? Será que nos sentimos gratos pelo que temos ou vivemos na insatisfação do que não temos?
  • Todos os dias da nossa vida até que a morte nos separe: será que nos amamos hoje e todos os dias, independentemente das circunstâncias, como gostaríamos de ser amados? Será que nos aceitamos hoje, tal como somos, no que são as nossas potencialidades e vulnerabilidades, com as nossas forças e os nossos medos?

Uma relação de compromisso connosco próprios não é uma questão de experimentar para ver se funciona: os princípios do respeito, da aceitação, da proteção, do cuidado e da nutrição emocional devem ser a nossa prioridade sempre, tal como gostaríamos que os outros fizessem connosco. Numa situação que nos provoca dor ou desconforto, responder a determinadas questões pode servir de orientação:

  • Estou consciente do que o outro me faz sentir?
  • Na resposta que dou à situação, estou a respeitar-me?
  • Estou a proteger-me?
  • Estou a identificar as minhas necessidades?
  • Estou a cuidar de mim e a nutrir-me?

Colocar-se em primeiro lugar, na sequência de sentirmos que a nossa vida tem valor e merece ser honrada, faz desvanecer sentimentos de culpa – o foco deixa de ser ‘magoar o outro’ e passa a ser ‘cuidar de nós’ (como faríamos com o ser que mais amamos) – e faz aumentar a nossa autoestima – ao cuidarmos de nós sentimos que temos valor, pelo que o ciclo se autorreforça.

Enquanto nos movimentarmos na vida em busca de sermos amados pelo outro, como se tivéssemos um vazio possível de ser colmatado apenas pelo amor de outra pessoa, vamos focar a nossa atenção em satisfazer as suas necessidades na esperança que nos ame e satisfaça as nossas. Se, pelo contrário, focarmos a nossa atenção em nós, numa atitude de curiosidade e exploração do que (não) gostamos, do que (não) faz sentido, do que (não) queremos, então tornamo-nos os protagonistas da nossa história.

Quando nos sentimos os verdadeiros protagonistas da nossa história, deixa de interessar se o outro gosta de nós, pois o que interessa é se nós gostamos do outro. Não interessa o que é nós lhe fazemos sentir, mas o que ele nos faz sentir a nós. A nossa escolha será tanto mais genuína e nutridora quanto livre de expectativas e medos: ‘quero uma relação contigo porque gosto do que sinto na tua presença’ é diferente de ‘preciso de estar contigo porque sem ti fico perdido e vazio’. No primeiro caso há liberdade, no segundo há dependência. E enquanto houver dependência não há espaço para uma relação de partilha.

Cuidarmos de nós porque gostamos mesmo de quem somos, numa primeira fase, é excluir o outro da equação, para depois o incluir na partilha. As relações são o que de mais importante temos na vida, mas a primeira relação a dar atenção e a acarinhar é aquela que temos connosco próprios, pois as outras vão apenas ser uma consequência desta. Quando gostamos de nos fazer companhia, quando nos apaixonamos pelo processo de autoamor, quando vemos o outro por aquilo que ele é – e não em função do que queremos que nos dê –, então estamos a tratar-nos bem.

No entanto, deixo um alerta! Ficarmos pela paixão por nós próprios pode-nos fazer cair na armadilha do narcisismo, em que vemos o mundo apenas em função de nós. Conseguir ir além é entrar na partilha de quem somos (não do que fazemos), pois é na vulnerabilidade do nosso ser que se cria o vínculo e a possibilidade de uma relação saudável.

www.rossana-appolloni.pt

Fotografia de Bernardo Conde www.bernardoconde.com