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O caminho da Parentalidade Consciente

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E se olhasses para o teu filho de uma perspetiva diferente?

Quando praticamos Parentalidade Consciente não olhamos para o comportamento das crianças como algo a corrigir, olhamos para o comportamento como algo a entender, pois este é apenas expressão das suas necessidades. Se entendermos o comportamento podemos atuar fazendo as mudanças que acharmos necessárias (sejam elas relacionadas connosco ou com a criança ou com ambos). Quando não estamos habituados a esse processo de reflexão, pode ser desafiante, mas é sem duvida recompensador.

Quando seguimos este caminho acreditamos que uma boa educação acontece via relações saudáveis com amor incondicional e não através da correção do comportamento. Reagimos às necessidades dos nossos filhos, procuramos compreendê-las, o que não quer dizer que satisfazemos todos os seus pedidos. Necessidades e desejos são diferentes. Quando seguimos este caminho estamos focados no desenvolvimento de uma autoestima saudável (a nossa e do nosso filho).

Parentalidade Consciente

A Parentalidade consciente é tanto sobre os nossos filhos como sobre nós, pais. É sobre o percurso que fazemos para nos desenvolvermos também enquanto pessoas. É uma verdadeira jornada de autoconhecimento, assim queiramos aceitar o desafio. Tentamos ser os melhores pais para os nossos filhos e sentimos, a maioria de nós, amor incondicional por eles. Não é por falta de amor que impomos as nossas vontades mas sim por falta de consciência.

Se estivermos atentos à nossa própria inconsciência e ao nosso próprio comportamento, muitas vezes no reflexo que os nossos filhos nos devolvem, podemos sim integrar a mudança. Esta começa tendo consciência das nossas intenções enquanto pais e, estando preparado para refletir sobre a forma como os nossos hábitos e padrões de comportamentos estão alinhados com essa intenção. E acredito que temos em nós o potencial e as ferramentas necessárias para criar uma maior harmonia familiar.

Paz interior e filosofia de vida

Digo muitas vezes que conhecer a Parentalidade consciente me trouxe uma grande paz interior. Percebi que não há certos nem errados, mas há um caminho baseado na consciência das escolhas que fazemos e do impacto que isso tem nos nossos filhos; percebi que o que interessa é mesmo a qualidade da relação pois com uma relação genuína, autentica e profunda as soluções aparecem; percebi que são as nossas intenções que nos guiam e em função dessas posso validar a minha forma de agir; percebi que tenho sempre escolhas, tudo depende da relação que quero ter comigo e, no meu caso, com as minhas filhas.

Esta forma de estar na parentalidade, torna-se uma filosofia de vida pois baseia-se na tomada de consciência de que são os nossos hábitos enquanto pais o ponto de partida para criar relações fortes e saudáveis com as crianças. E essa relação forte e saudável deve ser o nosso objetivo. Seja connosco mesmos, com os nosso filhos ou em qualquer outra relação.

Praticar os valores base da PC é fomentar relações saudáveis : Praticar o Igual valor, Autenticidade,  Respeito pela integridade e Responsabilidade pessoal são valores base das relações humanas.

“Ser pai consciente é mais sobre desaprender preconceitos do que aprender conceitos. É um deixar ir de tudo aquilo que não serve a nossa intenção como pais, um desaprender de tudo que não promove relações saudáveis baseadas no amor incondicional e tudo aquilo que não ajuda os nossos filhos a crescer e prosperar emocionalmente.” – Mikaela Ovén (Academia de Parentalidade Consciente)

 

Por : Fátima Gouveia e Silva (Coach e Facilitadora de Parentalidade consciente)

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As crianças e a tecnologia

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Para o melhor e para o pior, a era digital é hoje uma realidade irreversível. Numa sociedade cada vez mais dependente da tecnologia, é fundamental gerir o tempo que as nossas crianças estão em contacto com dispositivos digitais.

Hoje, acredita-se que a tecnologia e os gadgets são essenciais para o desenvolvimento de uma criança, mas até que ponto? Quanto tempo deve uma criança passar em frente de um ecrã é uma questão colocada não só por pais preocupados, mas também por psicólogos, organizações de saúde e até governos.

A forma como minimizamos os riscos e efeitos nocivos fruto de uma utilização excessiva é fundamental para conseguirmos que as crianças cresçam de forma saudável, neste contexto.

De acordo com dados do COSI Portugal 2016 (Childhood Obesity Surveillance Initiative – Iniciativa de Vigilância da Obesidade Infantil), 80% de 6.048 crianças do 1º Ciclo que participaram no estudo, passam 1 ou mais horas por dia (durante a semana)a utilizar um computador em jogos eletrónicos. Esta percentagem aumenta para 98,2% quando olhamos somente para o fim de semana. (ver estudo aqui).

Se este indicador é analisado devido ao seu impacto na atividade física e consequente obesidade infantil, a verdade é que hoje surgem cada vez mais estudos sobre outros efeitos nocivos dos dispositivos digitais, em casos de exposição excessiva. As crianças desconectam-se da vida real e se por um lado, esta desconexão é mais palpável durante a adolescência, a verdade é que é nos anos pré-escolares e 1º ciclo que estes dispositivos mais afectam o desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social das crianças.

Sono

O impacto da qualidade/duração do sono no crescimento e o bem-estar da criança tem sido amplamente estudado. O sono é fundamental para a saúde, desenvolvimento, cognição e comportamento da criança. Vários estudos concluíram que um sono pobre está associado a problemas comportamentais e emocionais na infância e na adolescência. A má qualidade do sono é altamente prevalecente em crianças com problemas comportamentais ou emocionais, como ansiedade, depressão ou transtorno de défice de atenção/hiperatividade (TDAH). A fraca qualidade do sono, por sua vez, também pode comprometer o funcionamento mental e físico.

Num estudo publicado em Outubro 2017 pelo Global Pediatric Health verificou-se a relação entre a utilização de dispositivos electrónicos antes de dormir e a quantidade/qualidade do sono da criança, a sua capacidade de concentração e o índice de massa corporal.

tecnologiaO estudo concluiu que há uma relação significativa entre a utilização de dispositivos electrónicos antes de dormir (ver vídeos, jogar jogos, ver televisão) e o número de horas de sono e dificuldade em adormecer. Crianças que jogavam jogos ou viam videos na hora de ir dormir, tinham maior dificuldade em adormecer e dormiam menos horas. Por outro lado, estas crianças apresentavam maior cansaço de manhã,  ou seja, a qualidade do seu sono era pior do que as crianças que não estavam expostas a dispositivos electrónicos, antes de dormir.

A luz dos dispositivos digitais é “rica em ondas curtas”, por isso tem uma maior concentração de luz azul do que a luz natural – e a luz azul afeta os níveis da melatonina hormona indutora do sono mais do que qualquer outro tipo de onda.

No estudo verificou-se que as crianças que estão mais tempo a ver televisão, jogos electrónicos, vídeos, telemóveis apresentam maior distracção.

Crianças que passam algum tempo a ler por exemplo, demonstram maior capacidade de concentração, atenção intensa e sustentada, imaginação e memória. A proliferação da televisão alterou essa atenção, com estímulos visuais intensos, atenção fragmentada e pouca necessidade de imaginação.

Desenvolvimento e Crescimento

Movimento, toque, conexão humana e ligação à natureza são factores necessários para um desenvolvimento equilibrado e saudável da criança, em termos físicos, psicológicos, emocionais e sociais. Estes estímulos sensoriais promovem o desenvolvimento adequado da postura, coordenação bilateral, auto-regulação das emoções, valências importantes para no crescimento da criança e sua adaptação à escola, por exemplo.

A estimulação tactil através do toque, abraço e jogos são fundamentais, estimulando o sistema nervoso parassimpático que controla os níveis de cortisol,  adrenalina e ansiedade.

Uma análise mais profunda mostra que, se por um lado, valências sociais, emocionais , expressão oral são menos desenvolvidos, em contraste, os dispositivos electrónicos são excessivos nos estímulos visuais e auditivos. Este desequilíbrio sensorial provoca enormes problemas no desenvolvimento neurológico, com efeitos anatómicos e químicos permanentes.

Uma criança exposta a um nível de violência desadequado para a sua idade, na televisão ou jogos, estará num estado elevado de adrenalina e stress. Embora os efeitos a longo prazo desse estado crónico de stress na criança em desenvolvimento sejam desconhecidos, sabemos que o stress crónico em adultos resulta num sistema imunológico enfraquecido e  numa variedade de doenças e distúrbios graves.

Dependência

Como outros vícios, o tempo de exposição a estes dispositivos cria alterações significativas na química do cérebro – principalmente, na libertação da dopamina. Este neurotransmissor – também conhecido como o químico do prazer – tem um papel central desde a dependência do açúcar até à da cocaína.  A dopamina é produzida quando vemos algo interessante ou novo, mas também tem uma segunda função. No entanto, a dopamina é também o neuroquímico envolvido na maioria dos vícios – é o químico da recompensa.

Em Silicon Valley, local sede de várias empresas tecnológicas,
os pais estão a criar os seus filhos, controlando a sua exposição a
este tipo de dispositivos e isto deveria ser um alerta para todos nós.

Personalidades como Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft), Tim Cook (Apple) ou Vijay Koduri (Google), tinham já em várias entrevistas afirmado que controlam e restringem a utilização de dispositivos móveis, video jogos, acesso à internet, dos seus filhos.

No entanto, num estudo realizado em 2017 pela  Silicon Valley Community Foundation feito a  907 pais que trabalham nestas empresas tecnológicas em Silicon Valley, veio mostrar que apesar de confiarem nos benefícios destas tecnologias, muitos estão preocupados com o seu impacto no desenvolvimento psicológico e social dos seus filhos.

Vários empregados destas empresas vêem a publico criticar o foco que estas empresas têm em criar produtos tecnologócios altamente viciantes.

Estas empresas sabem que quanto mais cedo captarem as crianças e jovens
mais facilmente serão dependentes da sua plataforma
e produtos para toda a vida
Vijay Koduri

Em 2007, Bill Gates, estabeleceu um limite de tempo máximo de utilização quando a sua filha começou a desenvolver um comportamento dependente de um video jogo. Mais tarde, tornou-se política familiar não permitir que as crianças tivessem os seus próprios telefones até completarem 14 anos.

Steve Jobs, revelou numa entrevista no New York Times em 2011 que proibiu os seus filhos de usar o iPad recém-lançado na altura. “Nós limitamos a quantidade de tecnologia que nossos filhos usam em casa”.

Muitos pais do referido estudo disseram que sua melhor defesa contra o vício em tecnologia é introduzir atividades de substituição ou encontrar maneiras de usar a tecnologia de forma mais produtiva. Quando as secas da Califórnia apagaram o quintal de Koduri, ele encheu o lote com cimento e construiu um campo de basquetebol, que os seus dois filhos e amigos usam.

Quando Amy Pressman (fundadora da empresa de software  Medallia) notou que a sua filha se interessava por computadores, os dois inscreveram-se para aprender a programar juntos.

Esses pais esperam poder ensinar os seus filhos a entrar na vida adulta sabendo como usar – e, em certos casos, evitar – tecnologia.

 

 

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Como pode a Astrologia ajudar-me a conhecer o meu filho?

Fui uma mãe tardia. Com uma lua em Capricórnio, só me decidi pela maternidade aos 40 anos e, até aí, confesso que respeitava mas não compreendia tudo o que implica a parentalidade. Tendo Urano na Casa 5, associada aos filhos, sabia que ser mãe iria revolucionar a minha vida mas decidi aceitar o desafio! Mas deixar uma vida em que disponibilizava todo o tempo para os meus interesses e necessidades para focar a minha atenção numa criança cuja sobrevivência dependia de mim e da minha capacidade de responder às suas necessidades foi um choque maior do que esperava!

Nunca fui muito maternal e nunca tive grande jeito para lidar com crianças. Não gostava de pegar em bebés pequenos porque tinha medo de os deixar cair. E, de repente, ali estava eu a ter que lidar com todas estas minhas limitações! E para apimentar a experiência, fui premiada com um bebé bastante enérgico, com dificuldade em dormir e alimentar-se, e dado àquelas birras que todos conhecemos! Sabia que apenas a experiência diária me ensinaria a parte prática de ser mãe. Mas também tinha uma “ferramenta” que me poderia ajudar a conhecer melhor o meu filho e a interagir com ele de uma forma mais construtiva para ambos – a interpretação do seu Mapa Natal.

Quando um bebé nasce encontra-se praticamente em modo de sobrevivência, em que o inconsciente (Lua) predomina sobre o consciente (Sol). É, portanto, uma fase em que as características da Lua Natal e a sua disposição no mapa ganham relevância e as reações são bastante instintivas. A Lua Natal vai também caracterizar o tipo de experiência que a criança tem com a mãe nos primeiros anos de vida e como esta experiência vai influenciá-la nas suas necessidades emocionais futuras.

O meu filho nasceu com uma Lua em Gémeos colocada exatamente na cúspide da Casa 12, tendo Saturno em Sagitário em oposição exata, colocado na cúspide da Casa 6. Este posicionamento reflete o choque do seu nascimento por cesariana programada, em que, subitamente, foi arrancado da segurança do útero materno (Casa 12) para a vida exterior (Casa 6). Esta separação abrupta reflete-se num sentimento de privação da presença da mãe que foi reforçado pelo facto de ele ter ficado os 10 dias seguintes numa incubadora. Este tipo de relação entre a Lua e Saturno representa geralmente um sentimento psicológico de não poder contar com a nutrição maternal, refletindo-se nalguma dificuldade na expressão e entrega emocionais na vida futura. Este traço psicológico vai acompanhá-lo ao longo da vida, sem que nada mais eu possa fazer do que tentar minimizá-lo estando o mais presente possível e expressando todos os dias o amor que sinto por ele! Talvez seja este o lado representado pela ligação da Lua natal a Vénus e Marte em sexil e a Mercúrio em trígono. E quando for mais crescido saberei provavelmente compreender porque poderá vir a ser mais fechado, parecer mais frio ou inseguro e necessitar dos seus momentos de recolhimento, que terei de respeitar sabendo que é uma característica sua e não um eventual ”problema”.

No Mapa Natal do meu filho o elemento fogo está tem uma forte presença, com um grande trígono entre Vénus e Marte em Carneiro, Júpiter em Leão e Saturno em Sagitário. Representando Vénus aquilo que nos dá prazer e estando conjunto a Marte (energia e iniciativa) domiciliado em Carneiro, amplificados por Júpiter em Leão, sei que o meu filho necessitará de gastar muita energia física e terá provavelmente muito prazer em atividades desportivas, apreciando o lado competitivo pelo que tentarei promover-lhe essas experiências.

Por outro lado, o posicionamento dos Nodos Lunares, de Carneiro para Balança e da Casa 10 para a Casa 4, com Plutão na Casa 7, sugerem um caminho evolutivo no sentido de trabalhar os relacionamentos e o lado familiar pelo que será benéfico promover atividades desportivas/competitivas a pares, em que terá que trabalhar o sentido de equipa em vez do triunfo pessoal que naturalmente já lhe está associado. Mercúrio em Aquário confere-lhe uma mente rápida, original, visionária, criativa e vanguardista, podendo ter dificuldade em integrar-se no sistema de ensino convencional. A ligação de Mercúrio por trígono à Lua em Gémeos amplifica a curiosidade, o gosto pela comunicação e o interesse constante por assuntos novos, dificultando a capacidade de se focar num tema por muito tempo. A ligação por sextil a Marte em Carneiro sugere um gosto por discussões e a capacidade de defender verbalmente os seus ideais e opiniões acerrimamente.

Conhecendo estas características, percebo que se trata de uma criança a quem não se pode dizer “fazes porque eu mando!” pois isso apenas trará teimosia e revolta. Mas provavelmente conseguirei que colabore comigo se lhe explicar as razões porque tomo certas posições ou vou contra a vontade dele. Este é apenas um exemplo muito sucinto da informação que o Mapa Natal dos nossos filhos nos pode providenciar, ajudando-nos a compreendê-los melhor e a orientá-los no sentido de desenvolver os seus dons, reconhecendo também as suas dificuldades.

Nós, mães e pais, temos um papel relevante a desempenhar no percurso que a alma dos nossos filhos escolheu percorrer nesta vida, seja como veículos de alguns “traumas” que os marcarão ou como motores que os orientam e incentivam. Ao tomarmos consciência das dinâmicas pessoais dos nossos filhos é-nos dada a possibilidade de agir de forma proativa no seu crescimento pessoal!

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Impor limites, não limitações

limites

A imposição de limites é um elemento crucial, que influencia de forma determinante as nossas relações, sobretudo as que mantemos com os nossos filhos. O problema é que à medida que vão crescendo, os nossos filhos vão questionando cada vez mais as normas, diretrizes e responsabilidades que tentamos manter em casa.

Os limites estão intimamente relacionados com a nossa identidade e a nossa integridade, pois marcam até onde estamos dispostos a ir numa determinada questão ou situação. Sempre que sentimos que deveríamos dizer «não» e nos reprimimos e cada vez que perdemos a razão por causa do modo — por vezes veemente, desagradável ou agressivo — como os estabelecemos, estamos a coloca-los em causa. Por outro lado, ao não respeitarmos os nossos próprios limites, encorajamos os nossos filhos adolescentes a agirem do mesmo modo.

Estabelecer limites que não se trata de impormos a nossa autoridade de uma forma rígida e inflexível mas de estabelecer regras que facilitem a convivência. Não se trata de restringir a liberdade dos nossos filhos adolescentes, mas de lhes ensinar o verdadeiro significado da palavra «responsabilidade». Em última instância, estes limites ensinam‐nos a valorizar a confiança, aprendendo a assumir as consequências dos seus próprios atos, decisões e atitudes. Além disso, contribuem também para fomentar neles a proatividade e a disciplina.

Existem muitas formas de estabelecer limites, mas a mais eficaz consiste em atrevermo‐nos a dizer «não». Quando o proferimos, o «não» tem o poder de nos transformar em autênticos vilões aos olhos dos nossos filhos adolescentes. adolescentes. É, inclusivamente, possível que nos respondam com verdadeiras barbaridades, como dizerem que não gostam de nós ou que somos os piores pais de toda a História da humanidade. No entanto, mais importante do que este tipo de chantagem e de manipulação emocional, é o facto de um «não» oportuno, dito da forma adequada, ser fundamental para o respeito das nossas necessidades e até para evitar ceder às exigências, amiúde exageradas, dos nossos filhos.

A diferença entre limites e limitações

Não é preciso gritarmos para transmitirmos as nossas decisões negativas com firmeza e convicção. É mais eficaz dizermos‐lhes o que temos para dizer com calma e serenidade, evitando responder emocionalmente às possíveis reações deles e sem nos justificarmos muito.

Vale a pena também refletirmos sobre a diferença entre limites e limitações.

Os limites são necessários, mas as limitações não. E impomo‐las sem nos apercebermos, pois estão estreitamente relacionadas com a nossa forma de ver o mundo e com os nossos próprios medos, frustrações e carências, que projetamos diariamente nos nossos filhos, sobretudo quando se tornam adolescentes e começam a fazer as suas próprias escolhas e a decidir o que pretendem fazer com as suas vidas. Um exemplo poderia ser, por exemplo, por força da repetição, fazer‐lhes crer, desde a primeira infância, que «a melhor defesa é o ataque», que «a mudança é uma coisa má» ou que «para sermos felizes, é importante sermos bem‐sucedidos ou termos a aprovação dos outros».

Se o que pretendemos é aumentar o seu potencial em vez de os limitarmos, temos de começar por tentar superar as nossas próprias limitações. E o melhor modo de conseguir isto é identificando‐as,
questionando‐as e abandonando‐as sempre que não tragam nada de positivo às nossas vidas.

em Esta casa não é um hotel, Irene Orce, Self

Irene Orce: Leciona na Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona (UB) no mestrado de Desenvolvimento Pessoal e Liderança. Desde jovem que iniciou a sua jornada de autoconhecimento, adquirindo conhecimentos e formando-se com ferramentas como o Eneagrama e a Programação Neurolinguística. Em 2009 concluiu o seu mestrado em Liderança e Coaching Pessoal na UB, no seguimento do qual criou a “Metodologia Metamorfosis”. Este método destina-se a acompanhar profissionalmente as pessoas que querem desenvolver o seu potencial para construir uma vida mais coerente com os seus verdadeiros valores e necessidades.

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Filhos: criar uma autoestima sólida

autoestima

Na maior parte dos casos, os adolescentes passam a vida a comparar‐se uns aos outros, construindo identidades falsas para agradarem e serem aceites nos respetivos grupos e meios sociais. Na verdade, os adultos também são, muitas vezes, acossados por este tipo de conflitos internos. Regulamos, demasiadas vezes, a nossa maneira de ser de acordo com aquilo que os outros acham que somos.

Muitas vezes, adolescentes e adultos esquecem que é precisamente no nosso interior que se encontra o amor que tanto desejamos, escondido sob o nome «autoestima».
A autoestima define‐se pela forma como nos valorizamos e pela consideração que temos pelos nossos valores, sentimentos e projetos. É uma necessidade básica de todo o ser humano. Não obstante, esta necessidade é, demasiadas vezes, mal compreendida.

De que forma podemos ajudar os nossos filhos adolescentes a adquirir uma autoestima sólida? O primeiro passo consiste em prepararmo‐nos com doses enormes de paciência. Tudo começa com o esforço para os criticarmos menos e começarmos a apoiá‐los e valorizá‐los pelas pessoas que são e não pelas que achamos que deveriam ser. Os objetivos desta tarefa árdua são que aprendam a aceitar‐se melhor, que desenvolvam o seu próprio pensamento crítico — porque sentem que os ouvimos e respeitamos quando falam — e que vão desenvolvendo gradualmente o seu sentido de responsabilidade. Se se sentirem seguros, conseguirão aceitar melhor o que vão descobrindo sobre quem e como são. Deste modo, tomarão consciência das suas capacidades e potencialidades e poderão aprender a aceitar as suas limitações, sem as negarem mas também sem se recriarem nelas.

Que recursos temos que nos permitam ajudar a desenvolver a autoestima dos nossos filhos:

  • Demonstrar que os amamos. Não basta dizê-lo. Temos de agir em conformidade, o que pressupõe dedicarmos‐lhes o tempo necessário, desenvolver atividades em conjunto e empregar ao máximo a comunicação assertiva e a audição empática;
  • Apoiá-los nas suas preocupações e aos seus interesses. É muito importante que se sintam apoiados por nós, pois isso encoraja‐os a partilharem mais das suas vidas connosco e aumenta‐lhes a sensação de segurança;
  • Ajudá-los a estabelecer metas e celebrar com eles as suas vitórias. Podemos, ainda, recordar‐lhes de vez em quando que estamos orgulhosos deles e especificar o(s) motivo(s). Encorajá‐los a praticar desporto é mais uma boa estratégia, especialmente se se tratar de um desporto de equipa, pois este tipo de desportos fomenta o companheirismo e inclui a cultura do esforço;
  • Por fim, abandonar a crítica e começar a falar dos aspetos que podem ser melhorados. Não se trata de os menosprezar, mas de os ensinar a procurar formas novas e mais eficazes de fazerem as coisas.
A construção de uma autoestima sólida é um elemento-chave no estabelecimento de relações saudáveis com as pessoas que nos rodeiam, relações essas que devem basear‐se no respeito mútuo. Para que os nossos filhos consigam isto, temos de os ensinar a alcançar a autoconfiança, que é o melhor antídoto contra o medo de avançar, que os paralisa.

Se acreditarmos neles e nas suas potencialidades, transmitir‐lhes‐emos a noção de que também podem confiar em si próprios. Talvez deixem de se sentir tão presos às opiniões alheias a partir desse momento e sejam capazes de tomar as rédeas da sua própria vida, responsabilizando‐se pelos seus atos e decisões.

Mais do que escondermo‐nos atrás da máscara do que julgamos agradar aos outros, a autoestima permite‐nos ser os verdadeiros protagonistas das nossas vidas, e aos nossos filhos permite‐lhes tornarem‐se os protagonistas das suas.

Em Esta casa não é um hotel, Irene Orce, Self

Irene Orce: Leciona na Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona (UB) no mestrado de Desenvolvimento Pessoal e Liderança. Desde jovem que iniciou a sua jornada de autoconhecimento, adquirindo conhecimentos e formando-se com ferramentas como o Eneagrama e a Programação Neurolinguística. Em 2009 concluiu o seu mestrado em Liderança e Coaching Pessoal na UB, no seguimento do qual criou a “Metodologia Metamorfosis”. Este método destina-se a acompanhar profissionalmente as pessoas que querem desenvolver o seu potencial para construir uma vida mais coerente com os seus verdadeiros valores e necessidades.

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Pais que não ouvem, filhos que não falam

filhos

Costuma dizer‐se que a adolescência é uma etapa de transição. Nesse período confuso da vida o que está em jogo é a construção da nossa própria identidade, o que, muitas vezes, leva os jovens a entrar em confronto com os pais e, portanto, com o resto da sociedade.

No entanto, assistimos cada vez mais a um fenómeno em que a adolescência deixou de ser uma fase de transição, e os seus efeitos se estendem ao longo dos anos. Não é verdade que os adultos também revelam complexos e insegurança? Não demonstram, por vezes, comportamentos infantis? Também fogem às suas responsabilidades, recusando‐se a amadurecer? O que se passa quando a adolescência deixa de ser uma etapa de transição e se transforma num modo de vida?

Uma das causas desta realidade cada vez mais distendida será, talvez, o facto de não termos recebido nenhum tipo de educação emocional. Não aprendemos a desenvolver competências emocionais básicas como a inteligência interpessoal ou a capacidade de regularmos os nossos sentimentos.

Trata‐se, sem dúvida, de uma ferramenta que trará benefícios enormes aos nossos filhos adolescentes.

Depende de nós proporcionarmos aos nossos filhos as estratégias e os recursos necessários para enfrentarem a vida e responder às suas emoções de uma forma saudável, em vez de se sentirem esmagados pelos seus sentimentos, reagindo na sequência dos mesmos.

O nosso sistema educativo desfasado e obsoleto tem muito a ver com este processo, pois não nos faculta as ferramentas necessárias para sobrevivermos emocionalmente e prosperarmos em termos profissionais. Ensinam‐nos a ler, a escrever, a fazer cálculos matemáticos e a memorizar, mas não a pensar por nós próprios. Esta realidade contribui para a chamada «crise da adolescência», pela qual a grande maioria de nós passou. É um período da vida marcado pelo desnorte, o medo e o sofrimento. Não aceitamos o estilo de vida que a sociedade nos propõe, mas também não temos uma alternativa viável que nos permita seguir o nosso caminho.

Ao chegarmos a este momento da vida, devemos ver a etapa por que estão a passar os nossos filhos como uma oportunidade de aprendizagem. O desafio consiste em questionarmos as nossas convicções; em transcendermos as nossas limitações e alterarmos as formas como reagimos. Podemos começar por nos perguntarmos que resquício da nossa própria adolescência provoca o choque com o que observamos nos nossos filhos, enfrentando depois o desafio de respondermos com honestidade e humildade.

A única forma de ensinar é através do exemplo. Se queremos que os nossos filhos assumam a responsabilidade dos seus atos, se tornem seres humanos autónomos e aprendam com os erros, temos de começar por aplicar essas exigências a nós próprios. Só deste modo poderemos começar a cultivar a paternidade consciente, que consiste em ajudarmos os nossos filhos a desenvolverem as pessoas que realmente são, em vez de os condicionarmos para que se tornem quem nós gostaríamos que fossem.

Por detrás desse paternalismo cheio de boas intenções, espreitam, escondidos, o medo e a ignorância.

Perante os nossos filhos, podemos optar por nos impormos ou por fazermos algo muito mais poderoso e «revolucionário»: aproveitar a referida etapa da nossa vida para nos questionarmos e amadurecermos. Esta pode ser a viagem mais extraordinária que alguma vez nos propuseram.
Em Esta casa não é um hotel, Irene Orce, Self

Irene Orce: Leciona na Faculdade de Economia da Universidade de Barcelona (UB) no mestrado de Desenvolvimento Pessoal e Liderança. Desde jovem que iniciou a sua jornada de autoconhecimento, adquirindo conhecimentos e formando-se com ferramentas como o Eneagrama e a Programação Neurolinguística. Em 2009 concluiu o seu mestrado em Liderança e Coaching Pessoal na UB, no seguimento do qual criou a “Metodologia Metamorfosis”. Este método destina-se a acompanhar profissionalmente as pessoas que querem desenvolver o seu potencial para construir uma vida mais coerente com os seus verdadeiros valores e necessidades.

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“Mulheres às Avessas”

A maioria das mulheres ainda se põe no fim da fila — e parece confortável com isso. Poucas são as felizardas que se acham merecedoras dos aplausos que recebem. Sentimos que existe sempre um dedo a apontar a «farsa» que somos, acusando-nos de que poderíamos ter feito melhor.

Os pequenos prazeres do dia a dia também são afetados pela nossa neurose. Se, num dia, nos permitimos saborear um maravilhoso churrasco e degustar uma deliciosa sobremesa, programamos mentalmente uma ementa de prisão gastronómica para o período seguinte: duas semanas à base de alface e água! Também pagamos caro pela «futilidade»: pedir ao pai dos nossos filhos que tome conta deles enquanto vamos ao cinema, ao teatro, passear no centro comercial ou, simplesmente, descansar um pouco da vida de mãe é praticamente uma heresia. A penitência? Usufruir de cada um desses momentos sob a agonia da culpa.

Mulheres… tão amáveis, tão heróicas e tão contraditórias!

(…) A mesma intensidade que costuma tornar a mulher aberta às necessidades alheias torna-a uma verdadeira carrasca de si mesma. Como começou tudo isto? Quando foi o mundo feminino invadido por tanta tirania e autocrítica? Porque trocou aquela menina sonhadora o seu olhar curioso por um semblante preocupado e um sorriso amarelo?

Está na hora de questionarmos a nossa necessidade de perfeição e aprovação. Conquistámos muitas coisas e ainda temos muitas outras para demandar. No entanto, devemos rever a maneira como vamos conduzir essa demanda daqui para a frente.»

Saiba mais sobre o livro AQUI.

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Você está presente na sua vida?

«Os seus filhos têm piano, futebol, aulas particulares. Você trabalha 45 horas (e mais algumas) por semana. Os seus amigos querem que você vá à festa em casa deles. Você coordena uma acção de caridade. Você cuida dos seus pais, dos seus compromissos, das suas finanças e da ida da família aos médicos. O seu carro precisa de ir à oficina. E a propósito, tem de pagar os impostos.

Onde quer que vamos, ouvimos que é hora de desligar, tomar um fôlego, e relaxar. Podemos até ouvir esse conselho. Mas a verdade é que as férias passam a voar, não temos tempo para nós e as nossas tentativas para meditar, orar ou simplesmente descansar passam para último plano. Estamos sempre a “apagar incêndios”. Nós achamos que podemos “fazer acontecer” o sucesso, o amor, a felicidade… Mas você está disposto a considerar que é esta nossa “ocupação” que nos impede de alcançar a verdadeira alegria e paz?

Você está preso no ciclo frenético de “fazer”? Constantemente ansioso, cansado fisicamente ou emocionalmente esgotada? É a sua agitada agenda a prejudicar seu desempenho no trabalho, com os seus filhos, na sua vida amorosa, nas suas amizades ou o mais importante a prejudicar a sua própria saúde e bem-estar?

Se assim for, você precisa perguntar a si mesmo: “Eu sinto-me presente na minha própria vida?” (…)

A nossa dependência da ocupação na verdade decorre do medo. Temos medo de perder algo, de sermos vistos como improdutivo, egoísta, preguiçoso, um mau pai, que não somos bons o suficiente ou, que sejamos ignorados e deixados para trás. Aqui está a verdade… Nós podemos permanecer perpetuamente em movimento para evitar os nossos sentimentos de indignidade. Se nos mantermos incrivelmente ocupados com as coisas pequenas, podemos adiar a pensar nos nossos verdadeiros problemas. A nossa “ocupação” dá-nos uma desculpa para escapar da responsabilidade de ser os nossos eus autênticos e de mudar a nossa vida.

O Divino habita em cada parte de sua experiência – até mesmo na sua ocupação. Você tem acesso a tudo o que você precisa em cada momento. Pare a corrida a confusão e a preocupação. Apenas respire. Tire um tempo para estar no momento presente a cada dia. Mesmo tarefas mundanas podem ser realizadas com plena consciência. Cozinhar o jantar com presença. Mudar a caixa de areia do gato com presença. Encher o depósito de combustível com presença. (…)

Deixe ir, esteja presente e deixe fluir a sua vida bela. Não há pressa. Você tem todo o tempo do mundo.»

Saiba mais sobre o livro AQUI .

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A criança que grita

criança

O nosso Ser não se define de forma rigorosa e inflexível. A psique é como uma peça de teatro: temos o guião (a nossa história), o encenador (a consciência) e os personagens (as várias partes que em nós coexistem). Caracterizamo-nos por uma diversificação de identidades, as chamadas subpersonalidades, que ganham vida própria segundo a cena onde se encontram. Parecemos pessoas diferentes consoante o contexto e/ou os interlocutores e, no entanto, somos sempre os mesmos. Somos os mesmos, mas a nossa interação depende do que a outra pessoa ativa em nós. Há pessoas que nos ativam partes de que gostamos e, portanto, nos fazem sentir bem, há outras que nos ativam partes mais inseguras e nos criam desconforto. Das primeiras queremo-nos aproximar, das segundas tendemo-nos a afastar, mas na verdade as relações mais enriquecedoras são aquelas que ativam o variado leque que nos constitui. Uma relação que nos traz crescimento é aquela através da qual encontramos espaço e segurança para explorar, descobrir e viver quem somos na nossa plenitude.

O crescimento físico nem sempre se faz acompanhar por um correspondente crescimento psicológico. Não é a idade nem as experiências da vida que nos fazem amadurecer, mas sim o significado que damos ao mundo exterior e interior através dessas experiências. Há pessoas que já sofreram muito, mas ainda não encontraram um significado aos seus traumas, ainda não integraram a sua dor, ainda vivem na revolta e na zanga. Vão ficando cada vez mais fechadas na crença de que viver é sofrer. Olham para determinadas possibilidades como uma inevitável reabertura de feridas anteriores, rejeitando assim uma reprogramação do sistema neurológico.

Na rejeição à experiência há uma paragem no processo de crescimento. Este implica a abertura a novas vivências que nos alterem a perceção do mundo. Porém, se essas novas vivências reforçam a nossa velha perceção, significa que continuamos a boicotar e a travar o desenvolvimento psicológico. Algo nos impede de avançar: aquela parte de nós que ainda grita por atenção – a nossa criança interior.

As situações que mais nos fazem sofrer são aquelas que tocam numa parte do nosso Self que estagnou algures no tempo. O nosso Ser não cresce todo por igual, tornamo-nos adultos em certas partes, mas não noutras. Quando sentimos o chamado ‘aperto interior’, muito provavelmente é porque a nossa parte infantil foi espicaçada e, como tal, ainda não sabe lidar com o desafio de forma serena e madura. E então grita.

Uma cliente minha com filhos e sobrinhos já independentes, sentia que a sua família não lhe prestava a atenção de que ela gostaria. Considerava que agora que já ninguém precisava dela, não a contactavam com tanta frequência, pelo que a sensação de ‘só me ligam quando precisam’ começou a ganhar cada vez mais terreno. Mais tarde descobrimos que ela se recusava a ter iniciativas para procurar os seus familiares e assim satisfazer as suas necessidades de atenção e afeto pois, a partir da visão do seu Self Infantil ferido, eram os outros que deviam ter essa preocupação e cuidar dela.

Uma necessidade psicológica básica não satisfeita em criança cria-nos um vazio interior que nos leva a um mecanismo de busca constante desse preenchimento através dos outros. Projetamos nas nossas relações mais próximas o papel do cuidador que se ausentou e que nunca mais voltará. Enquanto não ganharmos essa consciência, a busca torna-se infindável e jamais encontrará descanso. Este registo traduz-se numa luta cujo desgaste psicológico é esgotante. Todos nós temos uma parte infantil ferida que grita, mas nem todos lhe dedicamos a atenção merecida.

Uma das minhas feridas tinha a ver com o terror de ser esquecida. Esta ferida criava-me tantas ansiedades que cada vez que fazia uma viagem enviava inúmeras mensagens a quem me esperava no aeroporto para ter a certeza de que a pessoa estava lá. Após um trabalho interior sobre esta dor apercebi-me de que a minha parte infantil magoada não só gritava perante a perceção do mínimo sinal de possibilidade de esquecimento, como cegava toda a dedicação dos outros para que eu me sentisse importante e inesquecível.

É incrível como acabamos por limitar a vivência das relações no reforço da que sempre tivemos. Estamos demasiado encouraçados para ver outras perspetivas, apenas vemos aquela que potencia os nossos medos e inseguranças, provocando consequentemente os habituais padrões de comportamento defensivos. Ao interagir a partir da parte infantil ferida que ainda não integrou a dor, as nossas ações refletem exatamente as de uma criança: grita, esperneia, é incapaz de ver ou ouvir o outro, não tolera a frustração, quer tudo à sua maneira, impõe as suas necessidades e sente o mundo contra si, pois este gira unicamente à sua volta.

Uma criança que precisa de atenção, perante uma plateia de 100 pessoas onde 99 lhe dão o que ela quer, fica perdida naquela única que não lhe liga nenhuma; uma criança que tem o medo do abandono perceciona cada movimento do outro como um risco; uma criança com o receio de ser humilhada evita ao máximo situações onde possa sentir tal ameaça; e por aí fora. Cada um de nós sente e perceciona o mundo hostil a partir das subpersonalidades cujo olhar ainda não se tornou adulto. Quando assim é, esse Self Infantil utiliza os mecanismos que aprendeu para se proteger e evitar que o seu grande medo (abandono, traição, humilhação, etc.) se concretize, não entendendo que ele próprio recria a armadilha de autoboicote.

Recorro frequentemente às palavras de Jung: ‘quando olhamos para fora iludimo-nos, quando olhamos para dentro despertamos’. A valorização do mundo interior é de suma importância na medida em que é aí que se encontra a resposta para os desafios que vivemos. O exterior espelha sempre o nosso interior. Nada nos atinge as entranhas se não tiver o propósito de despertar em nós a criança que grita e necessita de atenção e cuidados para crescer. Queremos ser adultos, maduros e lidar com as situações de forma serena? Não temos alternativa. Não é o exterior que muda, é o nosso interior que aprende a lidar com as situações a nosso favor, para o nosso equilíbrio e serenidade, sem culpa, sem sofrimento, sem rancor.

E como é que se faz para nos tornamos psicologicamente adultos? Não se trata de nos adaptarmos a uma realidade exterior que nos incomoda, muito menos de nos subjugarmos a quem nos desrespeita, antes pelo contrário! O primeiro passo é pegar na situação exterior e estudar o impacto que ela tem em nós, ou seja, conseguir ir além do sentimento de ‘ofensa’ e olhar para o que nos faz sentir. O exterior é a matéria-prima de que dispomos para o autoconhecimento. Identificar, reconhecer, validar e aceitar a nossa realidade interior, sem julgamentos nem repreensões.

Ao ouvirmos a criança a gritar, responder com amor e compaixão. Ela nunca parou de gritar, mas quando se cansou de o fazer para fora através do som, começou a fazê-lo para dentro através do sofrimento. Só com amor e compaixão é que ela começa a ganhar a maturidade de novas hipóteses e de novas visões, a contemplar que há espaço para a dor, para a frustração e para as incertezas da vida. Aí abandonamos a luta e começamos a atrair situações mais adequadas para um Self Adulto responsável, autoconfiante, autoconsciente, autónomo e que sabe cuidar das suas necessidades.

Quando aprendemos a cuidar de nós e largamos a crença de que ainda temos de ser cuidados, começamos a ver no nosso caminho outro tipo de pessoas. Pessoas que nos nutrem, mas sem a expectativa de nos salvarem. Apenas olhando para a verdadeira necessidade escondida por detrás de um padrão defensivo e revoltado é que nos disponibilizamos a crescer e a desfrutar a nossa existência com mais alegria e entusiasmo.

Uma relação em crescimento é aquela que ativa o desconforto do nosso Self Infantil, pois obriga-nos a não nos esquecermos dele, mas, simultaneamente, nos dá o nutrimento necessário para não cairmos no rancor e na amargura. A criança grita, a relação nutre, mas quem cuida somos nós. E só quando aprendemos a cuidar da nossa criança interior ferida, com amor e compaixão, estaremos disponíveis para entrar em relações íntimas enriquecedoras, pautadas pela partilha da plenitude do nosso Ser e pela entreajuda no processo de crescimento, pois só conseguimos dar o que já existe em nós e só conseguimos receber o que a nossa realidade interior perceciona.

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«Como pais, nós sabemos no nosso coração o que os nossas crianças precisam»

Aqui está uma história incrível sobre uma mãe que ignorou totalmente o que os especialistas diziam sobre seu filho, com autismo. Em vez disso, ela seguiu seus próprios instintos – com resultados surpreendentes.

O filho de Kristine Barnett, Jacob foi diagnosticado com autismo quando ele tinha 2 anos, e os médicos disseram que ele nunca iria falar. Ela tentou programas de educação especial e terapias destinadas a resolver suas limitações. Quando os professores lhe disseram que não havia esperança, ela rebelou-se e fez o seu próprio caminho.

“Muitas pessoas pensaram que eu tinha perdido a cabeça”, lembra ela.

Em vez de se concentrar nas limitações de Jacob, Kristine investiu naquilo que ele gostava e captava o seu interesse. Agora, o seu filho de 15 anos de idade, está a caminho de ganhar um Prémio Nobel por seu trabalho em física teórica. (…)

“Ele gostava de comportamentos repetitivos. Ele gostava de brincar com um copo e olhar para a luz, torcendo-o por horas a fio. Em vez de lhe tirar o copo, eu dei-lhe 50 copos, enchi-os com água a diferentes níveis e deixei-o explorar”, diz ela. “Eu rodeei-o com o que ele adorava.”

Quanto mais ela fez isso, mais funcionava. Então, uma noite quando se estava a deitar, Jacob falou. “Foi como música … porque todos tinham dito que era uma coisa impossível”, Kristine lembra. “Eu ia deitá-lo todas as noites e dizia: ‘Boa noite, bebé Jacob, você é meu anjo bebé, e eu amo-te muito. “Uma noite, ele olhou-me diretamente nos olhos e disse: “Boa noite bebé.”

Jacob é agora um estudante de física teórica no Instituto Perimeter em Waterloo, Ontário, com um QI maior do que Einstein.

Kristine narra incrível jornada e avanço de seu filho no seu livro Salvo pelas Estrelas: Como o amor de uma mãe salvou um génio das mãos do autismo.

Quando ela fala com outras mães que têm filhos autistas, distúrbios de aprendizagem, ou outras deficiências, ela diz-lhes: “É muito importante que, você não deixe que o rótulo defina o seu filho. Em que é que o seu filho é bom? Deixe que isso o defina. Criar motivações que são autodirigidas. Deixe-os perseguir o que eles amam.”

“Como pais, nós sabemos nos nossos corações o que é que as nossas crianças precisam”,  diz Kristine “e precisamos confiar um pouco mais. Mesmo que isso vá contra o que os outros dizem “.

Adaptado do artigo de Stephanie Cook Broadhurst/The Mother List

Saiba mais sobre o livro AQUI.