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Tanto sacrifício… Para quê?

férias

Hoje em dia tornou-se normal vivermos para o trabalho. Trabalhamos mais de oito horas por dia, muitas vezes seis dias por semana. Há pais que mal veem os filhos, casais que vivem juntos e mal se conhecem. Trabalham sem parar, sempre a pensar nas desejadas férias que tanto demoram e depois passam tão depressa. Juntam dinheiro para fugir da rotina por quinze dias, enquanto passam todos os outros dias do ano absolutamente infelizes. Para quê?

A maioria de nós não sabe viver no presente. Estamos sempre à espera das próximas férias, do próximo Natal, da próxima escapadinha. Sempre à espera de momentos efémeros que nos escapam por entre os dedos e, mesmo enquanto estamos a vivê-los, já estamos a pensar no que vamos fazer a seguir, por isso nem esses momentos aproveitamos verdadeiramente.

Isto parece-lhe razoável? Provavelmente não, mas então porque é que insistimos em viver assim? Estamos condicionados por uma sociedade que nos ensina a nunca estarmos satisfeitos com o que temos, que nos promete que seremos mais felizes quando formos para um hotel de cinco estrelas, quando tivermos um carro novo, quando formos promovidos no emprego. Quando, quando, quando? Um dia, quem sabe!

Pare. Pense.

Não seria bom sentir-se todos os dias como se estivesse de férias? Eu sei, todos temos de trabalhar, mas se o seu emprego lhe torna os dias assim tão cinzentos que passa o dia a suspirar pelo sol das férias perfeitas que nunca chegam, não acha que está na hora de mudar? E se não puder mudar de emprego? Também não é desculpa: mude a rotina. Arranje uns minutos para si todos os dias, uns minutos apenas para se sentir bem. Comece um novo passatempo, leia um capítulo de um livro, dê uma caminhada, veja um episódio da sua série preferida, converse com aqueles de quem mais gosta. Não importa o que faz, mas enquanto estiver a fazê-lo, tente não pensar em mais nada. Desfrute apenas do presente e sinta-se bem agora.

Ficar à espera das próximas férias? Para quê?
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O regresso ao tapete

tapete

Sempre que volto ao tapete de ioga, há um misto de familiaridade e entusiasmo por algo novo. A verdade é que nunca sabemos que sensações a prática nos vai trazer. É um reencontro com nós próprios, uma reunião onde não só voltamos a encontrar o nosso ser mais profundo, mas também descobrimos tudo o que mudou. Um músculo mais tenso, uma dor que não sabíamos que ali estava, ou até uma flexibilidade e força que finalmente se começam a instalar mais profundamente do que imaginávamos. Mas mais do que as sensações físicas, há todo um conjunto de emoções que só pode ser vivido por quem pratica.

Comecei a praticar ioga aos dezanove anos. Tenho agora trinta e quatro. Entre vários professores e escolas e, muitas vezes, na prática solitária em casa, fui descobrindo que o nosso corpo, o nosso espírito, todo o nosso ser, não são iguais todos os dias. Bastam 24 horas de intervalo entre a prática para notar a transformação. Se hoje estou mais nervosa e menos flexível, amanhã talvez esteja relaxada e consiga fazer as posturas com toda a facilidade. Se um dia estou mais frustrada, no outro sinto aquela alegria interior que nenhum acontecimento externo me poderia trazer.

Então e quando se passam vários meses ou anos sem voltar ao tapete? Aí, as coisas tornam-se mais complicadas. Em 2013, fui uma de muitos jovens que se viram forçados a emigrar. Mas ao contrário de muitos, que se sentiram mais realizados lá fora, eu senti-me perdida, arrancada de tudo o que me era familiar. E ao fim de algum tempo, senti que eu já não era eu. Foi nesse dia que decidi voltar ao tapete, ao fim de mais de um ano de paragem. E aí notei todas as diferenças: toda a tensão que se tinha
acumulado, todas as dores que se tinham tornado mais intensas, a força que já não era a mesma, o corpo que já não parecia o meu. E o espírito? Era como se nem lá estivesse. Toda a alegria que sempre senti na minha prática tinha desaparecido. Conseguia descontrair ligeiramente, mas era mais pelo cansaço do que propriamente por voltar a encontrar aquela paz de espírito há muito perdida. Pensei até que já nem gostava de ioga como dantes, ou que já não era capaz de me sentir em harmonia. Porque eu já não era eu.

Mesmo assim, não deixava de praticar sempre que me sentia mais tensa. A minha sanidade mental dependia disso. Até ao dia em que finalmente voltei para casa. A minha casa: o Porto. Mas aqui não havia tempo para voltar ao tapete, havia amigos e família para reencontrar, uma cidade para redescobrir (e como ela se transformou nos últimos anos!), uma vida para recomeçar. Passaram-se meses, mas aos poucos, acabei por voltar à minha prática. Desta vez, não por me sentir vazia ou em busca de algo, mas por estar feliz e pronta para me reencontrar. E emocionei-me quando percebi que afinal eu não tinha desaparecido, estava apenas diferente. Diferente, amadurecida, mas feliz como outrora e com um renovado entusiasmo pela prática e tudo o que ela implica.

Atrevo-me a dizer que o tapete de ioga é um barómetro da felicidade. Ou no mínimo, do nosso estado de espírito e do estado físico do nosso corpo. Já desenrolou o seu hoje?