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A revolução das microempresas

“Imagine que vive uma vida em que dedica todo o seu tempo àquilo que gosta de fazer.
Imagine que dedica quase toda a sua atenção a um projeto criado por si, em vez de ser uma simples peça numa engrenagem que existe para enriquecer os outros. Imagine que hoje é o seu último dia a trabalhar para outrem. E se, muito brevemente – e não num futuro distante e indefinido –, se visse preparando‑se para trabalhar ligando um computador portátil no escritório de sua casa; dirigindo‑se a uma loja aberta por si; telefonando a um cliente que confia nos seus conselhos úteis ou fazendo o que o leitor quiser, e não o que os outros o mandam fazer?

Milhares de pessoas fazem exatamente isto por todo o mundo, e de formas diferentes. Estão a reescrever as regras do trabalho, tornando‑se patroas de si mesmas e criando um novo futuro. O novo modelo de negócio está a desenvolver‑se a bom ritmo para estes empreendedores inesperados, a maior parte dos quais nunca se viram como homens ou mulheres de negócios. Trata‑se de uma revolução no universo das microempresas; de uma forma de obter bons proventos enquanto construímos uma vida independente e com objetivos.

A revolução no universo das microempresas está a acontecer um pouco por todo o lado, com as pessoas dizendo «não, obrigado» aos empregos tradicionais e escolhendo traçar o seu próprio rumo e criar o seu futuro. As pequenas empresas não são uma realidade nova, mas nunca antes tantas oportunidades se conglomeraram nos locais certos, no momento exato. O acesso à tecnologia tem aumentado exponencialmente, pelo que podemos testar as nossas ideias em termos de mercado imediatamente, sem termos de esperar vários meses para percebermos como é que os clientes potenciais responderão a determinada oferta. É possível, por exemplo, abrir uma conta no site da PayPal em cinco minutos e receber pagamentos de clientes localizados em mais de 180 países.

De várias histórias inspiradoras sobressaem três lições úteis a quem gere, ou pretende fundar, microempresas:

Lição n.º 1: Convergência

A convergência consiste na intersecção entre algo que gostamos especialmente de fazer, ou em que somos especialmente competentes (convém que se reúnam as duas premissas), e aquilo por que os outros demonstram interesse. A forma mais fácil de entender este conceito é considerá‑lo o denominador comum entre aquilo que desperta o nosso interesse e aquilo em que as outras pessoas estão dispostas a gastar o seu dinheiro.
Atentemos na seguinte imagem:

startups

Nem tudo aquilo que desperta as nossas paixões ou para que nos sentimos especialmente vocacionados interessa ao resto do mundo ou é comercializável. Por exemplo, eu posso ser louco por pizas, mas ninguém me vai pagar para as comer. Da mesma forma, também não há ninguém que seja capaz de providenciar soluções para todos os problemas ou de despertar o interesse de toda a gente, mas as microempresas podem prosperar no espaço de intersecção dos dois círculos acima, onde a paixão ou a competência se cruzam com a utilidade.

Lição n.º 2: Correlação de competências

Muitos negócios foram iniciados por pessoas que revelavam competências correlacionadas com as que requeriam os ditos projetos e não exatamente as mais utilizadas nas respetivas áreas. A forma mais fácil de compreender a correlação de competências é pensarmos que, provavelmente, somos bons em mais de uma tarefa. Kat Alder, de origem alemã, era empregada de mesa em Londres quando alguém lhe disse que devia ser muito boa em RP. Não tinha quaisquer conhecimentos nesta área – nem sequer tinha a certeza que RP fosse a sigla para relações públicas –, mas tinha a consciência de que era uma boa empregada de mesa, pois conseguia sempre boas gorjetas e deixava os clientes satisfeitos sugerindo‑lhes itens do menu que sabia que lhes iriam agradar.

Quando foi dispensada de mais um trabalho temporário, desta feita na BBC, lembrou‑se do que lhe tinham dito. Continuava sem conhecer bem a área das RP, mas conseguiu o primeiro cliente no espaço de um mês e acabou por perceber como aquilo funcionava. Agora, passados quatro anos, a sua firma emprega cinco pessoas e opera em Londres, Berlim, Nova Iorque e na China. Kat foi uma excelente empregada de mesa e aprendeu a utilizar as mesmas competências de «relacionamento interpessoal» na publicidade aos seus clientes, criando assim um negócio mais lucrativo, sustentável e divertido do que trabalhar para outrem e repetir ad aeternum a mesma lista de especialidades do dia.

Ao contrário do que se costuma pensar, o empreendedorismo bem‑sucedido não implica necessariamente que sejamos os melhores em qualquer atividade específica. Para sermos bem‑sucedidos em qualquer projeto empresarial, sobretudo naqueles que despertam as nossas paixões, é bom analisarmos cuidadosamente todas as nossas capacidades que podem ser úteis a outros e, em particular, a sua combinação.

Lição n.º 3: A Fórmula Mágica

Se juntarmos as duas ideias anteriores, descobrimos a alquimia das microempresas através da seguinte equação não tão secreta quanto isso:

Paixão ou competência + utilidade = sucesso.

Jaden Hair construiu uma carreira como apresentadora de Steamy Kitchen, um programa e website sobre cozinha asiática. O seu investimento inicial de cerca de 150 euros levou‑a a escrever livros de culinária e rendeu‑lhe propostas para apresentação de programas na televisão e patrocínios de empresas, tudo isto por ter juntado à sua paixão a utilidade para os outros. As receitas que Jaden partilha diariamente com uma vasta comunidade são fáceis de confecionar, saudáveis e muito populares. Aliás, a multidão de admiradores que reúne é de tal forma numerosa que, quando a encontrei – num evento que organizara em Austin –, mal consegui cumprimentá‑la.

Noutro local, Brandon Pearce exercia a atividade de professor de piano e debatia‑se com a parte administrativa do seu trabalho. O seu passatempo favorito era a programação informática, pelo que criou um software para o ajudar a organizar os ficheiros referentes aos seus alunos, aos horários e aos pagamentos. «Completei o projeto sem qualquer intenção de o transformar num negócio», disse‑me, «mas os outros professores começaram a revelar interesse e ocorreu‑me que poderia ganhar algum dinheirito extra com aquilo». Mas o «dinheirito extra» acabou por se transformar num ordenado de funções a tempo inteiro – e até mais! –, situando‑se atualmente em cerca de 23.000 euros por mês. Natural do Utah, Brandon vive agora, com a família, na sua segunda casa, na Costa Rica. Isto quando não andam a viajar pelo resto do mundo.”

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