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Como podemos garantir o nosso sustento?

Percebi que alguma coisa teria de mudar quando regressava do trabalho, a caminho de ir buscar a minha filha à pré‑primária.

Pensei que, se tivesse mais controlo, conseguiria reorganizar o meu horário para trabalhar de forma mais intensa de manhã, quando me sentia mais criativa e produtiva, passando as tardes a vestir bonecas e a fingir ser um macaco. Poderia completar as tarefas do dia depois de a deitar às sete da tarde.

Para que isto acontecesse, precisava de duas coisas: mais poder e mais
dinheiro.

A única forma de conseguir realmente o que desejava seria afastando‑me da economia tradicional que funciona à base de empregos a tempo inteiro com horários definidos. Precisava de conseguir a minha independência financeira ganhando dinheiro adicional além do meu trabalho a tempo inteiro, para deixar de ser vulnerável ao despedimento e poder, eventualmente, trabalhar por conta própria e definir o meu próprio horário. A questão ia muito além do dinheiro. Queria poder controlar a minha vida.

No meu trabalho como jornalista especializada em economia, conheci outros que equilibravam por tempo indefinido biscates com trabalho a tempo inteiro, criando uma fonte de rendimento híbrida e estável. Muitos perceberam, como eu, que os seus empregos a tempo inteiro poderiam desaparecer a qualquer momento e sabiam bem que isso seria devastador. Queriam proteger‑se e às suas famílias. Uma arquiteta despedida publicou no mercado online de artesanato Etsy.com algumas tábuas de corte com forma de estados que fizera para o seu casamento e, meses depois, vendera milhares e transformara o seu passatempo num negócio a tempo inteiro, conseguindo maior segurança profissional para si e para a sua família do que alguma vez tivera como arquiteta. Uma gerente de livraria, frustrada com os horários longos e com o salário anual de vinte e oito mil dólares, percebeu que nunca conseguiria pagar o tipo de vida que desejava para a sua família sem uma mudança drástica. Por isso, lançou o seu negócio de formação em empreendedorismo para pessoas criativas e com dotes manuais. Em dois anos, o seu rendimento anual aumentou para 150.000 dólares e conseguiu obter controlo total do seu horário de trabalho.

Estas não são simples histórias de sucesso no empreendedorismo. A maior parte de nós nem sequer se vê como empreendedor e não iniciámos o percurso com o objetivo de trabalharmos por contra própria (alguns de nós não pretendem abandonar os empregos a tempo inteiro). Fomos forçados a criar um plano secundário quando o principal começou a vacilar.

Estas histórias são as nossas histórias de sobrevivência. Vistas em conjunto, sublinham um facto acerca da nossa economia que poucas pessoas podem continuar a ignorar: hoje em dia, todos precisamos de mais do que uma fonte de rendimento.

Uma sondagem da Gallup de 2012 concluiu que perto de três em cada dez trabalhadores receiam o despedimento, enquanto quatro em cada dez receiam um corte nos benefícios. É difícil levarmos as nossas vidas com normalidade, indo ao supermercado e planeando férias, com esse tipo de ansiedade pairando sobre as nossas cabeças.

Em simultâneo, a vida torna‑se cada vez mais cara. Os preços dos bens alimentares e da gasolina, o aluguer da casa e até o preço do café não param de subir.

É por esse motivo que tantos de nós decidiram procurar um modo de vida alternativo. Um modo de vida que não nos faça sentir que caminhamos sobre um arame, a um passo do desastre. Enfrentamos o stress e a estagnação procurando formas de ganhar dinheiro fora dos nossos empregos a tempo inteiro (se ainda os tivermos). Frequentemente, sentimos que não temos escolha. Precisamos de dinheiro e os nossos empregos não o geram em quantidade suficiente.

Assim, num mundo sem segurança profissional e com pressão financeira crescente, como poderemos garantir a sustentabilidade para nós mesmos e para as nossas famílias?

A resposta mostrou‑se óbvia. Teremos de criar ativamente formas múltiplas de ganhar dinheiro através de iniciativas empreendedoras.

De muitas formas, manter empregos a tempo inteiro durante tanto tempo quanto conseguirmos enquanto desenvolvemos lentamente os nossos projetos de empreendimento permite‑nos o melhor de dois mundos.
Apesar dos cortes, os nossos empregos continuam a incluir frequentemente um seguro de saúde (e, possivelmente, seguros de incapacidade e de vida), um salário regular, oportunidades de desenvolvimento de capacidades, socialização e uma linha de suporte para situações de dificuldade. Entretanto, os nossos biscates permitem uma possibilidade de diversificar e aumentar o nosso rendimento, de nos realizarmos criativamente, de tentar gerir um pequeno negócio e de exercer maior controlo sobre o nosso trabalho. Obtemos em simultâneo os benefícios do mundo empresarial e do mundo do emprego por conta própria.

Este livro ajudá‑lo‑á a preparar o seu biscate para o lançamento, para o salvar do medo e frustração financeiros, para o tornar mais seguro e próspero e para lhe permitir satisfação e realização pessoal muito além do que obteria com a sua ocupação principal. Construirá desta forma a sua economia pessoal.

Em Crie a Sua Economia, de Kimberly Palmer

Imagem de Andrew Neel em Unsplash

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Histórias que a bloqueiam: mude a sua vida

histórias
Pare de contar histórias que a bloqueiam

De várias maneiras, a nossa vida emocional não é nada mais do que uma coleção de histórias que nos contamos sobre nós próprios. Quer nos mostremos como vítimas ou vitoriosos, espectadores ou actores principais, os nossos mundos internos são apenas uma coleção de narrativas sobre as coisas que aconteceram connosco e o modo como respondemos a elas.

Mais especificamente, a maneira como nos sentimos sobre as nossas vidas é uma questão das histórias que nos contamos repetidas vezes.

Reflita por um momento: quais são as histórias que conta sobre si? Como é que se percepciona?

Além das narrativas reais, pode aperceber-se que tem certos sentimentos que sente mais do que outros e isso traz emoções fortes, que podem ser … Frustrada. Impotente. Estagnada.

Essas coisas, tanto as histórias como os sentimentos que temos sobre elas, tornam-se marcas bem impregnadas nos nossos cérebros: os neurónios desenvolvem caminhos num certo sentido e quanto mais eles o fazem, o mais provável é que repitam esse caminho novamente.

Mas o que é mais interessante é que essas histórias não são necessariamente a verdade, e essas emoções são muitas vezes nada mais do que o hábito. Além disso, o facto de as marcas serem tão profundas significa que estamos mais propensos a continuar a criar o mesmo tipo de situações repetidamente (circunstâncias que nos fazem sentir, digamos, frustrados, impotentes ou estagnados) apenas porque é familiar. É o que conhecemos.

Dar a volta

Quer dar a volta à sua vida? Podemos mudar a maneira como nos sentimos sobre ela e, em seguida, começar a mudar as nossas próprias experiências atualizando essas mesmas histórias. É como uma atualização de software. É assim:

Pegue num diário e pense numa história sua que não a faz sentir-se bem – algo que faça parte do pior da sua banda sonora pessoal. Agora, faça a si mesma as seguintes perguntas:

  • Existe outra maneira de eu poder dizer a mim mesmo esta história? Existe outra versão dos eventos que também seja verdadeira?

Aqui está um exemplo: uma história antiga como “Os meus pais costumavam esquecer-se de me ir buscar depois da escola quando eu era criança; isso fazia-me sentir não amada e descartável” poderia tornar-se “Na verdade, quando penso nisso agora, ocorre-me que os meus pais deviam andar muito sobrecarregados, talvez essas ausências de espírito deles não tivessem nada a ver com a quantidade de amor que sentiam por mim”.

  • Ao contar a história de modo diferente, como é que isso muda a maneira como se sente em relação à sua vida?

Existe alguma coisa que pode fazer diferente agora que tem uma nova história para contar? Seja criativa. Como poderia agir agora se nunca tivesse contado essas histórias originais? Convidaria a tal pessoa para sair? Pediria a tal promoção que quer? O céu é o limite.

Agora, mude de raciocínio por um momento. Pense numa emoção que sente com frequência e da qual gostaria de ser libertada. A tristeza? A raiva? Faça uma pausa para se concentrar nessa emoção, e depois faça a seguinte pergunta:

  • Esse sentimento faz-me lembrar o quê? Qual é a minha lembrança mais antiga ao ter esse sentimento?
Você consegue!

É hora de abraçar a ideia de que essas histórias e sentimentos não precisam mais de a definir.

A boa notícia é que o cérebro é “plástico”, uma maneira elegante de dizer que pode criar novas histórias e conexões neurais a toda a hora.

Como seria a sua vida se contasse a si mesmo apenas histórias positivas sobre as suas capacidades? Como pode fazer as coisas de maneira diferente? Poderá sair e experimentar novos tipos de comportamentos?

Anseie para conhecer então a sua nova versão.

 

 

Fonte: https://www.mindbodygreen.com

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Ultrapasse as crenças que o limitam

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O que são as crenças e como as construímos?

Todos nós, seres humanos, partilhamos a mesma genética e algumas capacidades inatas — a da linguagem articulada, a dos sentidos e sentimentos, a de interagir com o próximo, etc. — que nos permitem desenvolver como pessoas. Por outras palavras, possuímos muitos traços universais que nos tornam diferentes mas também muitos outros que nos diferenciam — como a nossa história pessoal, os nossos pais, a nossa língua materna, o lugar onde nascemos, a comunidade e a cultura que nos recebem — e que influenciam a nossa visão do mundo e o modo como interpretamos a nossa experiência de vida.

Ora, isto estrutura‑se num sistema de crenças básicas que fazem parte da nossa bagagem de vida e constituem um filtro no qual assentamos as bases dos nossos princípios e que molda o nosso comportamento e configura a nossa forma de sentir e de pensar; este filtro está tão profundamente enraizado em nós que não nos apercebemos de que condiciona cada instante da nossa vida. Para diminuir o esforço e o desgaste energético inerente à realização das suas várias tarefas ao longo do dia, o cérebro procura uma forma de simplificar esse grande número de estímulos. Para fazer isto, uma das estratégias que usa é ir assimilando as novas informações que lhe vão chegando, mas tende a generalizar e a fazer associações a partir dos dados nele armazenados e do software que foi criando e lhe permite processar toda a informação que recebe.

Quando não desenvolvemos suficientemente a autoconsciência através do exercício de questionamento constante das nossas crenças, estas vão‑se enraizando aos poucos no nosso ser e acabam por se transformar em impulsos automáticos. É então que deixamos de controlar os nossos atos e os substituímos por respostas automáticas.
Gostaria que o leitor compreendesse que utilizo o termo crença, que é a tradução do vocábulo inglês belief, não para me referir a quaisquer valores existenciais ou religiosos mas a um sistema de ideias ou pensamentos que o ser humano vai construindo a partir da sua experiência de vida e da forma como interpreta essa experiência.

Construímos automatismos a partir das nossas crenças

Cada um de nós vai traçando a sua história pessoal ao longo dos anos. Por isso, todos temos já experiências acumuladas; já recriámos as memórias e as emoções que nos são desagradáveis; adotámos, inclusivamente, a forma de pensar e de agir de outros, e é esta bagagem subconsciente que influencia os nossos pensamentos, os nossos comportamentos e até os nossos sentimentos.

De acordo com a corrente da Psicologia chamada PNL (Programação Neurolinguística), a mente subconsciente representa 90% do total da nossa mente, pelo que nos é absolutamente necessário aceder a ela para sabermos quais são os impulsos mais profundos subjacentes ao nosso modo de viver. Se não formos capazes de contemplar a nossa mente subconsciente e observar a programação social e intelectual que temos vindo a receber desde a infância, ser‑nos‑á impossível ver as coisas tal como elas são sem nos enredarmos nos sentimentos complexos que temos vindo a criar e a projetar ao longo da nossa vida.

Adaptamos naturalmente a nossa atitude em função daquilo em que acreditamos e, de certa forma, acabamos por nos transformar nas pessoas que quem nos rodeia espera que sejamos. E isto porquê? Porque tendemos a interpretar cada gesto e cada palavra, e filtramo‑los recorrendo ao crivo das nossas crenças em vez de estabelecermos realmente contacto com o outro, sempre buscando os motivos que o levaram a agir de determinada forma.

Por este motivo, é imperativo não julgarmos as atitudes dos outros, pois as previsões têm um efeito bastante forte sobre as pessoas. De facto, as projeções conscientes e subconscientes acabam por influenciar o que as outras nos revelam do seu caráter. É evidente que nem todas as projeções têm o mesmo poder, pois as que mais nos influenciam são as que provêm das pessoas de quem dependemos, como pode ser o caso dos nossos pais, chefes, professores, etc., ou das pessoas em quem nos projetamos, como é o caso de quem admiramos ou das pessoas perante as quais nos sentimos inferiores.

CrençasAs nossas crenças ajudam-nos ou prejudicam-nos?

Creio que a questão fundamental que nos devemos colocar é se as nossas crenças nos transmitem poder ou nos prejudicam, porque é evidente que todos vamos acumulando crenças com o passar dos anos. Ora, para que nos transmitam poder é necessário que tenhamos a coragem de nos questionarmos, de refletirmos sobre a hipótese de algumas das nossas crenças nos impedirem de alcançarmos (ou, pelo menos, explorarmos) todo o nosso potencial, de tomarmos certas decisões, de assumirmos riscos e até de nos negarem a possibilidade de sermos mais felizes.

As crenças determinam grande parte das nossas decisões e comportamentos e, por fim, os nossos atos. É por isso que temos de as colocar em questão, avaliá‑las e desaprendê‑las para que possamos fazer as nossas escolhas conscientemente em vez de nos resignarmos a permanecer, como sempre, condenados a repetir o que já conhecemos, que acabámos por tornar parte de nós por força da repetição.

O peso do passado: uma sentença negativa que impomos a nós próprios

Uma das verdades que o estudo da psicologia humana demonstrou é a necessidade de ter em conta que a história pessoal desempenha um papel fundamental na construção do sentimento de identidade do indivíduo ao ponto de muitas pessoas se sentirem prisioneiras do seu passado, do que lhes aconteceu ou de atos que cometeram e consideram imperdoáveis, apesar de só elas se terem condenado a si próprias. Além disso, o facto de termos cometido um erro não nos invalida para o resto da vida, pois não nos resumimos a esse erro, somos muito mais do que isso.
Muitas pessoas julgam‑se a si próprias por terem cometido um deslize em determinado momento das suas vidas, dão um veredicto negativo a si mesmas e, em consequência disto, obrigam‑se a «cumprir pena» para o resto da vida.

Se queremos ultrapassar esta sentença negativa que, muitas vezes, nos condiciona para sempre, temos de aceitar a mudança, de voltar ao momento da falha, e, se ainda não for demasiado tarde, de nos perdoarmos para podermos seguir com a nossa vida.
Todas as mudanças estáveis e transformadoras assentam na convicção de que o passado não é um fardo que tenhamos de arrastar pelo resto dos nossos dias, mas um rasto que deixamos para trás com as coisas boas e as más. A mudança verdadeira, profunda, só se torna possível quando concedemos esta possibilidade à nossa mente. Mas, para isso, temos de ver o nosso comportamento passado como algo temporário, como uma roupa que nos emprestaram e de que nos podemos libertar, não como um aspeto intrínseco e essencial de nós próprios.

em 10 Segredos para Alcançar o Sucesso, Mónica Esgueva, Self

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Os três passos para definir uma intenção

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Saiba como definir objectivos ou uma intenção e de como garantir que é eficaz.

O processo seguinte vai mostrar‑lhe como definir uma intenção útil e específica para tentar alcançar outros objetivos. Na verdade, quanto mais praticar o ato de definir intenções, mais irá compreender o propósito destes objetivos.

1º Passo – Pergunte a si mesmo:
Porque é que vale a pena gerar mudança?

Um componente importante deste processo consiste em determinar porque é que você quer mudar, para começar. Determinar porque é que quer mudar é como construir os alicerces de uma casa; se não os construir como deve ser, o resto da estrutura acabará por cair.

Ao longo dos anos, fui abordado por clientes com diversos objetivos, e colaborei com eles para descobrirmos as suas intenções. Cada um deles tinha intenções diferentes e, para trabalharmos juntos, tínhamos de descobrir a razão pela qual eles tinham este objetivo de se aperfeiçoar a si próprios. Para implementar e sustentar a mudança, as nossas razões para os nossos objetivos têm de ser específicas.

2º Passo – Contemple a sua razão

«Contemplação» parece muitas vezes uma palavra estrangeira, não é? Muitos de nós têm uma noção de contemplação que inclui um ancião de túnica e sandálias, sentado no cimo de uma montanha do Tibete, a refletir sobre a humanidade em geral. Contudo, talvez fique surpreendido ao saber que a contemplação é provavelmente uma das partes mais fáceis de compreender de toda esta prática. Na sua definição mais simples, a contemplação consiste apenas em pôr de parte uma pergunta durante um determinado período de tempo e deixar que a resposta se revele por si mesma.

Um dos motivos pelos quais a contemplação parece intimidante é que esta exige‑nos que abdiquemos tanto do desejo de saber imediatamente a resposta, como do nosso controlo para a encontrar sem mais demoras. Estamos tão habituados a encontrar instantaneamente outros tipos de respostas através de motores de busca da Internet, como o Google, que esperamos encontrar imediatamente todas as nossas respostas.

Fazemos parte de uma cultura que adora intelectualizar e analisar e sentimo-nos gratificados quando percebemos as coisas. Esforçamo‑nos imenso por discutir tudo até à exaustão, dissecar e bater na mesma tecla até o assunto perder o interesse. Contudo, todas estas ações são o oposto da contemplação, e podemos dar em loucos ao esforçarmo‑nos cada vez mais por encontrar respostas que continuam a ser elusivas. Se fôssemos realmente contemplar uma questão, simplesmente deixávamo‑la em paz até que a resposta estivesse pronta para se revelar.

Imaginemos que está a tentar escolher uma pré‑primária para o seu filho frequentar, e até pesquisou vários lugares. Descobriu que tem de tomar uma decisão até um mês antes do primeiro dia de escola, para conseguir cumprir os vários requisitos de admissão dos programas escolares. Se, no tempo que lhe resta entre pesquisar escolas e optar por uma, você continuar a reler brochuras, perguntar a amigos sobre as experiências dos filhos deles e imaginar uma dúzia de cenários possíveis que implicam que o seu filho não tenha uma boa formação, está a intelectualizar a questão e não a contemplá‑la.

Em vez disso, para contemplar esta questão, faça primeiro a sua pesquisa e depois pare totalmente de pensar nas várias escolas. Talvez tenha de pôr a questão de parte por uns dias ou um mês até que a sensação certa o oriente para a melhor decisão. Por mais tempo que demore, a decisão irá acontecer na altura certa. É provável que encontre exatamente a escola certa para o seu filho, e isso acontecerá por não se esforçar tanto. A contemplação inclui relaxar a mente e permitir que um sentimento mais elevado assuma o controlo. Quando isto acontece, a sua espontaneidade e energia virão à tona, e as coisas acabarão por correr ainda melhor do que aconteceria se a mente intelectual estivesse a controlar.

Assim que tiver perguntado a si mesmo porque quer encetar uma prática espiritual, ser‑lhe‑á útil contemplar a sua resposta antes de avançar. Não há um limite definido para o tempo que esta contemplação deve durar, mas se estiver ansioso por começar, recomendo que espere pelo menos uns dias para não pensar no assunto antes de avançar para o passo seguinte.

3º Passo – Pergunte a si mesmo:
Está a ser sincero em relação às respostas que encontrou?

Depois de ter perguntado a si mesmo porque é que está a fazer algo e ter contemplado as suas respostas possíveis, está então na altura de observar se está a ser ou não sincero perante as respostas que encontrou. Tal como o ato da contemplação, este ato de observar a verdade poderá parecer intimidante, mas na verdade consiste apenas em perguntar a si mesmo se realmente sente que é verdade o que declarou como motivo para realizar a atividade.

Se decidiu começar esta prática porque queria ser mais saudável e melhorar o relacionamento com o seu cônjuge, assim que a tiver começado terá de ponderar se está a ser honesto em relação às suas intenções. Por exemplo, digamos que através desta experiência melhorou a sua saúde física e está a sentir um pico de energia; se em vez de simplesmente desfrutar da sua nova vitalidade, disser a alguém para mudar de vida de forma semelhante, então as suas ações não estão honestamente a refletir intenções úteis.

Este passo não é tão definitivo como os anteriores, pois irá observar‑se não apenas durante um período de tempo fixo, como ao longo da sua prática. Tendo em conta o espaço de tempo mais alargado, pondere definir um lembrete para si mesmo, de forma a perder alguns minutos a cada duas semanas ou todos os meses para refletir sobre as suas intenções originais. Talvez já tenha reparado que não forneço um método para decidir se está ou não a ser sincero relativamente às suas intenções; isto acontece pois a única pessoa que o pode saber é você, e não há qualquer resposta de sim ou não. Você tem a responsabilidade de observar a importância dos seus pensamentos e ações. Na próxima parte do livro, aprofundaremos a questão do ato de observação e como este pode ser usado para concretizar o nosso equilíbrio e felicidade de forma mais completa.

A definição de uma intenção para si mesmo não só estabelece a base para a sua prática, como também o ajuda a investigar a verdade por trás das suas ações e a descobrir se está ou não a beneficiar‑se com as decisões que toma. Inicialmente, certas decisões poderão parecer mais difíceis e outras serão tão fáceis de tomar que ficará a pensar porque é que nunca tinha encontrado essas respostas. Começará a dar‑se conta de que quando define as intenções adequadas para si mesmo, tudo se tornará uma expressão da sua prática. Passará a fazer as coisas porque o ajudam a si e aos outros a sentirem‑se bem e continuará a evoluir a cada dia, para o resto da sua vida. Por sua vez, a sua prática tornar‑se‑á uma expressão de quem você é.

em “Desperte o Guru que há em si”, Yogi Cameron, Self. Saiba mais aqui.

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Do outro lado do medo

medo

Medo da rejeição. Medo do abandono. Medo da humilhação. Medo da traição. Medo da injustiça. Estes são cinco dos medos básicos inerentes à condição humana, que se desenvolvem com maior ou menor intensidade segundo uma série de variáveis no nosso percurso de crescimento emocional.

Associado a cada medo existem necessidades psicológicas que, por não terem sido preenchidas em idade infantil, criam carências que transportamos ao longo da vida. Uma criança que tenha sentido traição ou abandono por parte de uma figura de referência permanece com esse sentimento registado no seu aparelho psíquico, o qual lança um sinal de alerta numa relação posterior onde sinta proximidade afetiva. O medo subjacente, despoletado nos primeiros anos de vida, condicionará as dinâmicas interpessoais em adulto, através de estratégias e mecanismos de defesa que adotamos de modo a evitar reviver o mesmo tipo de situação.

Assim, chegamos ao ponto de dizer ‘diz-me o que queres que eu faça, basta que não me deixes!’. Disponibilizamo-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance para não passar pelo que outrora nos causou tanto sofrimento. O paradoxo surge quando, ao tentar evitá-las, acabamos por as provocar, repetindo-se assim o trauma mediante um padrão do qual queremos sair e não sabemos como.

Procuramos preencher as nossas carências através dos outros, esquecendo-nos que esses outros não existem para nos preencher. Cada pessoa tem as suas mazelas de crescimento, tem os seus medos e necessidades, e enquanto virmos no outro a fonte da nossa salvação vivenciamos um choque de exigências e cobranças, tornando a relação uma luta em vez de um aconchego.

Como passar de um campo de batalha, onde somos cada vez mais atacados e feridos, para um terreno seguro e nutridor, no qual vamos sanando o nosso coração?

Inicialmente procuramos o que nos é familiar. Não questionamos os hábitos que adquirimos até nos permitirmos ter uma experiência diferente que nos faça sentido. Se em criança somos sujeitos a críticas, assimilamos uma imagem negativa de nós próprios que nos acompanha como se fosse verdadeira. Podemos nem ter consciência dela, mas uma baixa autoestima condiciona as escolhas de vida e a qualidade das nossas relações. Se os nossos pais são demasiado protetores e nos incutem que o mundo é perigoso, a forma como nos movimentamos dificilmente será de confiança, pois tudo é visto como um risco. São inúmeros os exemplos que resultam em crenças falsas e prejudiciais, que condicionam o nosso sentir, logo, a nossa interação com o exterior.

Uma cliente minha sofre horrores no trabalho. Sente-se posta de lado pela dificuldade em aderir ao ambiente de euforia e diversão. Fica triste, o que, por sua vez, não é bem acolhido pelos colegas, intensificando assim a sensação de exclusão. A sua angústia começou a traduzir-se em sintomas físicos de fortes dores de barriga, dores de cabeça e tonturas, a ponto de recorrer a baixa médica. Longe do trabalho os sintomas aliviam, mas perante a ideia de alta reaparecem. Percebemos pela sua história que existe uma grande lacuna na necessidade psicológica de pertença. Quer fazer parte, mas as atitudes do grupo – e as dela própria – aumentam a sua dor de exclusão, potenciando, paralelamente, a sua necessidade de pertença. Vive numa carência profunda sem encontrar modo de sair desta pescadinha de rabo na boca.

Porque é que não muda de comportamento e se torna mais sociável? Ou porque é que não procura pessoas mais em sintonia com ela? Porque não é isso que o seu sistema emocional conhece! O que o seu sistema sabe fazer é tentar desesperadamente sentir-se pertence junto de pessoas que não a acolhem, que a criticam e que lhe provocam uma sensação de desadequação, pois foi isso que viveu em criança.

Estamos perante o que chamamos de repetição do padrão. Ao longo da vida repetimos um padrão de comportamento porque não conhecemos outro, por muito tóxico que ele seja. Quem viveu a falta de atenção e carinho em criança, vai cruzar-se com pessoas de quem não recebe suficiente afeto porque essa é a energia que lhe é familiar. Pessoas que dão carinho e atenção não se ajustam ao seu sistema de funcionamento na medida em que é um tipo de vibração que desconhece, que estranha, por muito que precise dela. Quem viveu a crítica sente-se inconscientemente atraído por pessoas que criticam, pois as outras não entram no seu radar. Quem sofreu a traição ou a humilhação, facilmente entra em relações onde é maltratado e traído, caso contrário não vincula. Curiosamente somos excelentes em dar aos outros o que nos faltou e precisamos de receber…

Qual a lógica de procurar algo que na prática rejeitamos, insistindo em receber o oposto do que queremos?! Repetimos um padrão simplesmente porque é o que conhecemos, mas como estamos num caminho onde, felizmente, o crescimento é possível, um passo nesse sentido é quebrar com o que nos é nocivo. No entanto, crescer implica fazer escolhas que se coadunam com as nossas necessidades de forma natural e não forçada, o que significa que algo interno tem de mudar. Imposições lógicas e racionais externas não funcionam.

Para crescer não basta perceber cognitivamente o mecanismo, há que sentir emocionalmente que chegou o momento de romper com um determinado padrão – que é fruto da nossa dinâmica interna e não da pessoa que o desperta em nós. A toxicidade está na nossa reação, não no outro. Precisamos de colocar a nossa integridade em primeiro lugar, valorizar o amor próprio e o autorrespeito em detrimento de uma carência infantil que berra pela atenção do outro e que entra em litígio quando não obtém o que quer. Chegou a hora de olhar mais para nós próprios e menos para o outro em função de nós. O outro nunca vai suprir as carências nem curar as nossas feridas. Em criança isso era possível, em adultos já não.

A possibilidade de alcançar esta clareza emocional chega quando se atinge um ponto de exaustão. Só no limite conseguimos declarar com convicção ‘já não aguento mais, algo tem de mudar. Não sei como fazer, só sei que assim já não dá para viver’. Só quando a dor se torna insuportável começamos a considerar a hipótese de desistir da rigidez do passado e dar um passo novo. Daí a importância de nos abrirmos ao sentir, de ouvir a nossa parte emocional. Quanto mais nos disponibilizamos a contactar os nossos sentimentos, mais sentimos a dor, mas só no contacto com a dor conseguimos quebrar os padrões de condicionamento.

A mudança implica o maior ato de coragem que podemos alguma vez ter: entregarmo-nos à possibilidade de reviver o nosso grande medo, a nossa cena temida de criança, com a consciência de que agora, em adultos, temos uma estrutura interna suficientemente forte e autónoma, capaz de dar uma resposta diferente ao exterior com vista a sair da prisão causada pelo trauma sofrido. Atraímos as pessoas e as situações que nos ativam as feridas internas não apenas porque nos são familiares, mas também porque só na relação com elas temos a oportunidade para alterar o nosso comportamento.

A mudança não é estanque, não passa por um corte repentino com o velho para amanhã acordar novo. Trata-se de um processo faseado em três etapas:

  • Adquirir consciência dos nossos mecanismos internos: medos, necessidades, feridas, defesas, carências que deixaram marcas profundas; conhecer a nossa história e fazer as pazes com ela, observando-a com amor e carinho.
  • Aceitar, ver as realidades interna e externa por aquilo que elas são, dissolver a ilusão de um passado e/ou de um futuro no qual fantasiamos acudir as necessidades junto de quem nos ativa as carências e que o outro vai mudar para nos salvar. Agora somos nós os nossos cuidadores; os outros podem (ou não) fazer-nos companhia neste processo.
  • Experimentar o que desconhecemos, abrirmo-nos ao imprevisível com a certeza de que o antigo já não serve o nosso propósito.

Dizer ‘não’ a situações e pessoas que nos atraem mas que nos fazem mal, largar e abrir mão do que temos vivido até aqui, distanciarmo-nos do que nos causa uma reincidência da dor, desta vez não por fuga ao sofrimento mas com a consciência de que isso alimenta uma dinâmica tóxica, é o que cria a verdadeira mudança num processo de evolução psicológica. Chegamos aqui se ao longo do caminho formos alimentando uma energia de amor e compaixão por nós próprios, pois a capacidade de abrir mão do tóxico apenas surge quando sentirmos uma necessidade urgente de agarrar o que é nutridor.

É imprescindível olhar e cuidar do nosso ser para que as escolhas sejam guiadas não pelas carências, medos e desejos do nosso ego, mas pelas necessidades reparadoras da nossa essência. Enquanto vivermos no medo de perder, não vivenciamos o que se esconde do outro lado: a liberdade de sermos nós próprios num caminho de desapego do passado e de amor incondicional pelo presente.

Foto de Bernardo Conde (www.bernardoconde.com)