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O meu filho vai para o ensino superior e agora? (2ª parte)

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O meu filho vai para o ensino superior e agora? (2ª parte)

Na primeira parte deste artigo pudemos reflectir sobre vários tópicos: mais opções académicas, mudança do mercado de trabalho e profissões, conceito de carreira, perfil dos alunos e as competências para 2020.

Há ainda outro tópico que não foi abordado: muitos dos recrutadores nas empresas e até professores já são da geração millennials, ou seja, a forma de recrutar colaboradores e até de leccionar está a sofrer significativas alterações. É mais um factor a ter em conta e de reflexão sobre as alterações nesta área.

Hoje vamos incidir na parte prática. Para compreender e ajudar os jovens deixo as seguintes estratégias:

  • Pesquisar e conhecer mais sobre a Geração Z e iGen, estas teorias ajudam-nos a perceber melhor como funciona esta nova geração, logo poderemos dar melhores respostas;
  • Fomentar a curiosidade, autonomia e prática, será através destas três características que os jovens irão desenvolver as competências reveladas pelo Fórum Economico Mundial;
  • Para desenvolver soft skills, uma das melhores experiências, é o voluntariado ou estar envolvido em trabalho associativo. Dê o exemplo e vivam este desafio em conjunto;
  • Não pressionar pois tornar-se-á mais um critério de peso nesta tomada de decisão;
  • Estimular positivamente a consciencialização para o tema colocando-se no lugar do jovem;
  • Pergunte-se: se hoje tivesse que ingressar no ensino superior, com o novo leque de opções, com vista numa possível profissão, como seria o meu processo de tomada de decisão?
  • Mostrar-se genuinamente interessado e disponível para desenhar, em conjunto, várias soluções, partilhando as suas dúvidas e exemplos práticos no trabalho;
  • Quando necessitarem de um elemento externo para levantar novos pontos de vista recorrer a um acompanhamento profissional.

Estamos a viver uma transição desafiante e o papel de todos é relevante pois, esta geração que ingressa no ensino superior e mercado de trabalho, terá grandes desafios. Se os millennials fazem a ponte entre a geração anterior e a seguinte, é a Geração Z que estará encarregue de integrar todas as novas práticas e inovações na nossa sociedade.

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O meu filho vai para o ensino superior e agora? (1ª parte)

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O meu filho vai para o ensino superior e agora?

Nestes últimos meses, várias famílias têm procurado os meus serviços de coaching para ajudar os seus filhos a responder às seguintes questões: vou continuar a estudar? Que área e curso devo escolher? Como estará o mercado de trabalho quando terminar a minha formação?

É, sem dúvida, um momento fulcral e delicado, não só pelo caminho futuro a seguir como pelas sucessivas alterações nas opções académicas e de profissões.

Acredito que existem vários olhares sobre esta questão, começando por analisar a diferença entre o conceito de carreira há 10 anos atrás e actualmente. Antigamente, um dos critérios mais importante nesta escolha era a segurança do trabalho futuro, a ideia global era: tirar a formação, começar a estagiar e ser promovido ao longo dos anos, sempre no mesmo local. Hoje, muitos jovens são atraídos pelas experiências no local de trabalho e não pela segurança, logo, é natural que se imaginem em diversos locais a experimentar projectos e sensações diferentes.

Como consequência deste aspecto acredito que os perfis dos alunos se dividirão em dois: o aluno que quer aprofundar conhecimentos e prática na sua área de trabalho (p.e. investigadores) e o aluno que quer experimentar diversas áreas e funções (p.e. empreendedores). Assim sendo, consoante o seu perfil teremos duas opções principais:

Aluno especialista – seguir um percurso académico em instituições de renome com resultados extraordinários (saber-saber).

Aluno generalista – percorrer um percurso académico/ de formação onde se capacite com várias competências e ferramentas, impactando profissionalmente e no saber-ser/saber-fazer.

Segundo o Fórum Económico Mundial, estas são as 10 competências, que todos os profissionais devem desenvolver:

  1. Resolução de problemas complexos;
  2. Pensamento crítico;
  3. Criatividade;
  4. Gestão de Pessoas;
  5. Coordenação;
  6. Inteligência Emocional;
  7. Capacidade de julgamento e de tomada de decisão;
  8. Orientação para servir;
  9. Negociação;
  10. Flexibilidade cognitiva.

Qual é o meu papel enquanto responsável e como posso ajudar? Sugiro que faça uma reflexão aprofundada sobre os tópicos apresentados e partilhe as suas conclusões com o jovem em fase de transição. Pode ser um começo para introduzir as estratégias apresentadas no próximo artigo.

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Do outro lado do medo

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Medo da rejeição. Medo do abandono. Medo da humilhação. Medo da traição. Medo da injustiça. Estes são cinco dos medos básicos inerentes à condição humana, que se desenvolvem com maior ou menor intensidade segundo uma série de variáveis no nosso percurso de crescimento emocional.

Associado a cada medo existem necessidades psicológicas que, por não terem sido preenchidas em idade infantil, criam carências que transportamos ao longo da vida. Uma criança que tenha sentido traição ou abandono por parte de uma figura de referência permanece com esse sentimento registado no seu aparelho psíquico, o qual lança um sinal de alerta numa relação posterior onde sinta proximidade afetiva. O medo subjacente, despoletado nos primeiros anos de vida, condicionará as dinâmicas interpessoais em adulto, através de estratégias e mecanismos de defesa que adotamos de modo a evitar reviver o mesmo tipo de situação.

Assim, chegamos ao ponto de dizer ‘diz-me o que queres que eu faça, basta que não me deixes!’. Disponibilizamo-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance para não passar pelo que outrora nos causou tanto sofrimento. O paradoxo surge quando, ao tentar evitá-las, acabamos por as provocar, repetindo-se assim o trauma mediante um padrão do qual queremos sair e não sabemos como.

Procuramos preencher as nossas carências através dos outros, esquecendo-nos que esses outros não existem para nos preencher. Cada pessoa tem as suas mazelas de crescimento, tem os seus medos e necessidades, e enquanto virmos no outro a fonte da nossa salvação vivenciamos um choque de exigências e cobranças, tornando a relação uma luta em vez de um aconchego.

Como passar de um campo de batalha, onde somos cada vez mais atacados e feridos, para um terreno seguro e nutridor, no qual vamos sanando o nosso coração?

Inicialmente procuramos o que nos é familiar. Não questionamos os hábitos que adquirimos até nos permitirmos ter uma experiência diferente que nos faça sentido. Se em criança somos sujeitos a críticas, assimilamos uma imagem negativa de nós próprios que nos acompanha como se fosse verdadeira. Podemos nem ter consciência dela, mas uma baixa autoestima condiciona as escolhas de vida e a qualidade das nossas relações. Se os nossos pais são demasiado protetores e nos incutem que o mundo é perigoso, a forma como nos movimentamos dificilmente será de confiança, pois tudo é visto como um risco. São inúmeros os exemplos que resultam em crenças falsas e prejudiciais, que condicionam o nosso sentir, logo, a nossa interação com o exterior.

Uma cliente minha sofre horrores no trabalho. Sente-se posta de lado pela dificuldade em aderir ao ambiente de euforia e diversão. Fica triste, o que, por sua vez, não é bem acolhido pelos colegas, intensificando assim a sensação de exclusão. A sua angústia começou a traduzir-se em sintomas físicos de fortes dores de barriga, dores de cabeça e tonturas, a ponto de recorrer a baixa médica. Longe do trabalho os sintomas aliviam, mas perante a ideia de alta reaparecem. Percebemos pela sua história que existe uma grande lacuna na necessidade psicológica de pertença. Quer fazer parte, mas as atitudes do grupo – e as dela própria – aumentam a sua dor de exclusão, potenciando, paralelamente, a sua necessidade de pertença. Vive numa carência profunda sem encontrar modo de sair desta pescadinha de rabo na boca.

Porque é que não muda de comportamento e se torna mais sociável? Ou porque é que não procura pessoas mais em sintonia com ela? Porque não é isso que o seu sistema emocional conhece! O que o seu sistema sabe fazer é tentar desesperadamente sentir-se pertence junto de pessoas que não a acolhem, que a criticam e que lhe provocam uma sensação de desadequação, pois foi isso que viveu em criança.

Estamos perante o que chamamos de repetição do padrão. Ao longo da vida repetimos um padrão de comportamento porque não conhecemos outro, por muito tóxico que ele seja. Quem viveu a falta de atenção e carinho em criança, vai cruzar-se com pessoas de quem não recebe suficiente afeto porque essa é a energia que lhe é familiar. Pessoas que dão carinho e atenção não se ajustam ao seu sistema de funcionamento na medida em que é um tipo de vibração que desconhece, que estranha, por muito que precise dela. Quem viveu a crítica sente-se inconscientemente atraído por pessoas que criticam, pois as outras não entram no seu radar. Quem sofreu a traição ou a humilhação, facilmente entra em relações onde é maltratado e traído, caso contrário não vincula. Curiosamente somos excelentes em dar aos outros o que nos faltou e precisamos de receber…

Qual a lógica de procurar algo que na prática rejeitamos, insistindo em receber o oposto do que queremos?! Repetimos um padrão simplesmente porque é o que conhecemos, mas como estamos num caminho onde, felizmente, o crescimento é possível, um passo nesse sentido é quebrar com o que nos é nocivo. No entanto, crescer implica fazer escolhas que se coadunam com as nossas necessidades de forma natural e não forçada, o que significa que algo interno tem de mudar. Imposições lógicas e racionais externas não funcionam.

Para crescer não basta perceber cognitivamente o mecanismo, há que sentir emocionalmente que chegou o momento de romper com um determinado padrão – que é fruto da nossa dinâmica interna e não da pessoa que o desperta em nós. A toxicidade está na nossa reação, não no outro. Precisamos de colocar a nossa integridade em primeiro lugar, valorizar o amor próprio e o autorrespeito em detrimento de uma carência infantil que berra pela atenção do outro e que entra em litígio quando não obtém o que quer. Chegou a hora de olhar mais para nós próprios e menos para o outro em função de nós. O outro nunca vai suprir as carências nem curar as nossas feridas. Em criança isso era possível, em adultos já não.

A possibilidade de alcançar esta clareza emocional chega quando se atinge um ponto de exaustão. Só no limite conseguimos declarar com convicção ‘já não aguento mais, algo tem de mudar. Não sei como fazer, só sei que assim já não dá para viver’. Só quando a dor se torna insuportável começamos a considerar a hipótese de desistir da rigidez do passado e dar um passo novo. Daí a importância de nos abrirmos ao sentir, de ouvir a nossa parte emocional. Quanto mais nos disponibilizamos a contactar os nossos sentimentos, mais sentimos a dor, mas só no contacto com a dor conseguimos quebrar os padrões de condicionamento.

A mudança implica o maior ato de coragem que podemos alguma vez ter: entregarmo-nos à possibilidade de reviver o nosso grande medo, a nossa cena temida de criança, com a consciência de que agora, em adultos, temos uma estrutura interna suficientemente forte e autónoma, capaz de dar uma resposta diferente ao exterior com vista a sair da prisão causada pelo trauma sofrido. Atraímos as pessoas e as situações que nos ativam as feridas internas não apenas porque nos são familiares, mas também porque só na relação com elas temos a oportunidade para alterar o nosso comportamento.

A mudança não é estanque, não passa por um corte repentino com o velho para amanhã acordar novo. Trata-se de um processo faseado em três etapas:

  • Adquirir consciência dos nossos mecanismos internos: medos, necessidades, feridas, defesas, carências que deixaram marcas profundas; conhecer a nossa história e fazer as pazes com ela, observando-a com amor e carinho.
  • Aceitar, ver as realidades interna e externa por aquilo que elas são, dissolver a ilusão de um passado e/ou de um futuro no qual fantasiamos acudir as necessidades junto de quem nos ativa as carências e que o outro vai mudar para nos salvar. Agora somos nós os nossos cuidadores; os outros podem (ou não) fazer-nos companhia neste processo.
  • Experimentar o que desconhecemos, abrirmo-nos ao imprevisível com a certeza de que o antigo já não serve o nosso propósito.

Dizer ‘não’ a situações e pessoas que nos atraem mas que nos fazem mal, largar e abrir mão do que temos vivido até aqui, distanciarmo-nos do que nos causa uma reincidência da dor, desta vez não por fuga ao sofrimento mas com a consciência de que isso alimenta uma dinâmica tóxica, é o que cria a verdadeira mudança num processo de evolução psicológica. Chegamos aqui se ao longo do caminho formos alimentando uma energia de amor e compaixão por nós próprios, pois a capacidade de abrir mão do tóxico apenas surge quando sentirmos uma necessidade urgente de agarrar o que é nutridor.

É imprescindível olhar e cuidar do nosso ser para que as escolhas sejam guiadas não pelas carências, medos e desejos do nosso ego, mas pelas necessidades reparadoras da nossa essência. Enquanto vivermos no medo de perder, não vivenciamos o que se esconde do outro lado: a liberdade de sermos nós próprios num caminho de desapego do passado e de amor incondicional pelo presente.

Foto de Bernardo Conde (www.bernardoconde.com)