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Narcisismo: Nem tudo é sobre nós

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Narcisismo: Nem tudo é sobre nós

O narcisismo é apresentado como o mal do nosso século, mas este traço presente na nossa personalidade nem sempre é nocivo. Existe um narcisismo saudável que se reflete num Self seguro de si próprio, estruturado, que reconhece o próprio valor, sabe o que quer, sabe como proteger-se e cuidar de si e identifica os recursos internos disponíveis para alcançar os seus objetivos. O narcisismo passa a ser nocivo, ou até mesmo patológico, quando entramos numa fantasia de superioridade, de sermos especiais e melhores do que os outros, o que nos dá uma certa sensação de legitimidade para fazermos o que quisermos, usando os outros a nosso favor, sem medir as consequências.

Todos nós temos uma certa dose de narcisismo, e ainda bem! Caso contrário não nos sentiríamos capazes de nada. O narcisismo surge na idade infantil aquando da estruturação do ego e nessa fase a criança acredita que o mundo gira à volta dela. Frequentemente se diz, por isso mesmo, que as crianças são egocêntricas. Quando elas querem um gelado querem-no aqui e agora e não empatizam minimamente com os impedimentos que os pais possam apresentar; uma criança, quando, por exemplo, vê o seu desejo de uns ténis de marca a ser recusado, começa a alimentar um ódio para com os pais, identificando-os como pessoas más. Não interessa se não têm possibilidades financeiras ou se os seus valores assim o ditam; o que interessa é que a criança associa a vontade negada a uma rejeição emocional enquanto ser.

Uma criança apenas vê o mundo a partir das suas lentes sem conseguir incluir as dos outros; quer tudo à sua maneira, de preferência rápido, e se os outros não correspondem são vistos como inimigos. Daí os pais, muitas vezes, acabarem por ceder às suas exigências e por condicionarem a vida em função dos filhos, passando estes a acreditar que são mesmo especiais, detentores de um poder capaz de mudar o mundo e os outros. Este estádio é normal e, em geral, ultrapassado. Porém, quando ficamos presos nele, significa que estagnámos no nosso processo de crescimento emocional e nos mantivemos num narcisismo que de saudável passa a tóxico.

Quantos de nós não parámos lá? Quantos de nós não ficámos presos numa visão rígida, achando que a sua perspetiva é a mais acertada? Quantos de nós não nos irritamos quando somos contrariados, quando as coisas não correm como queríamos, quando não alcançamos as nossas metas, quando o outro não responde do modo esperado? Muitos. Cognitivamente crescemos imenso, mas emocionalmente ainda somos bastante crianças.

Vamos então olhar para a nossa criança interior, aquela parte de nós que está cansada de se desiludir, de ver as suas necessidades não acudidas, de esperar que o outro nos veja e nos acarinhe, tal como queríamos que tivesse acontecido (ou acontecia) quando éramos crianças. Vamos olhar para a criança que ainda existe dentro de nós e que nos faz entrar numa tristeza profunda, ou numa zanga, quando o outro não corresponde ao que pedimos. Entramos em dor não só pela frustração de não termos o que queríamos, mas também pela crença que o outro não nos dá porque está contra nós, ou porque não gosta de nós o suficiente. Esta é a associação que uma criança faz.

O olhar do adulto consegue ver o outro e sentir e/ou compreender a sua dor. Se o outro está a ter um comportamento antipático não é para nos atingir, para nos magoar, para nos fazer mal – isso não faz sentido absolutamente nenhum em relações onde as pessoas se gostam –, mas deve-se sobretudo às suas dinâmicas internas que, por algum motivo, estão estagnadas num sofrimento que o leva a não agir de acordo com as nossas expectativas. Acreditar que o outro fez algo apenas para nos ferir é considerar que somos o centro da sua atenção, o que, na maioria dos casos, não se verifica. Cada um tem as suas batalhas internas, pelo que só uma visão narcisista tóxica acredita que o que o outro faz tem a ver connosco.

Claro que todos nos afetamos uns aos outros. Todo o nosso comportamento toca com maior ou menor intensidade consoante o tipo de relação e o tipo de feridas emocionais que cada um tem. De igual modo, o comportamento do outro também nos afeta consoante a nossa história. No entanto, não existe uma relação direta entre o que emissor faz e o que o recetor pensa e sente, pois depende das experiências dos envolvidos. Já me aconteceu vivenciar um atraso como um alívio, ou como um drama.
Somos todos diferentes, cada pessoa é um mundo e fixarmo-nos em interpretações únicas é contraproducente, pois alimentam uma fantasia pessoal que nos distancia da realidade e que poderá ser cor-de-rosa ou negra. Emocionalmente falando, a criança vive na fantasia, o adulto vive na realidade.

Nas discussões que vamos tendo pela vida, nos desentendimentos, nos desafios relacionais, é importante conseguirmos sair da nossa criança que amua ou entra nos seus dramas egocêntricos para conseguirmos olhar para a situação a partir de um lugar de adulto que vê a própria dificuldade e a do outro. Estamos em relação para nos ajudarmos a crescer, não para guerrear com vista a uma vitória. Não é suposto as relações serem batalhas, mas sim fonte de serenidade. Mas para isso temos de contactar com as nossas necessidades de adulto e ver a realidade por aquilo que ela é.

Temos de estar dispostos a abandonar o mundo perfeito que construímos na nossa imaginação. Ter essa disponibilidade é um passo para irmos largando um narcisismo infantil que não contempla os outros, para um narcisismo saudável que nos dá a autoestima e a autoconfiança para seguirmos o nosso caminho, onde incluímos os outros como nossos companheiros, não como inimigos.
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Como pode a Astrologia ajudar-me a conhecer o meu filho?

Fui uma mãe tardia. Com uma lua em Capricórnio, só me decidi pela maternidade aos 40 anos e, até aí, confesso que respeitava mas não compreendia tudo o que implica a parentalidade. Tendo Urano na Casa 5, associada aos filhos, sabia que ser mãe iria revolucionar a minha vida mas decidi aceitar o desafio! Mas deixar uma vida em que disponibilizava todo o tempo para os meus interesses e necessidades para focar a minha atenção numa criança cuja sobrevivência dependia de mim e da minha capacidade de responder às suas necessidades foi um choque maior do que esperava!

Nunca fui muito maternal e nunca tive grande jeito para lidar com crianças. Não gostava de pegar em bebés pequenos porque tinha medo de os deixar cair. E, de repente, ali estava eu a ter que lidar com todas estas minhas limitações! E para apimentar a experiência, fui premiada com um bebé bastante enérgico, com dificuldade em dormir e alimentar-se, e dado àquelas birras que todos conhecemos! Sabia que apenas a experiência diária me ensinaria a parte prática de ser mãe. Mas também tinha uma “ferramenta” que me poderia ajudar a conhecer melhor o meu filho e a interagir com ele de uma forma mais construtiva para ambos – a interpretação do seu Mapa Natal.

Quando um bebé nasce encontra-se praticamente em modo de sobrevivência, em que o inconsciente (Lua) predomina sobre o consciente (Sol). É, portanto, uma fase em que as características da Lua Natal e a sua disposição no mapa ganham relevância e as reações são bastante instintivas. A Lua Natal vai também caracterizar o tipo de experiência que a criança tem com a mãe nos primeiros anos de vida e como esta experiência vai influenciá-la nas suas necessidades emocionais futuras.

O meu filho nasceu com uma Lua em Gémeos colocada exatamente na cúspide da Casa 12, tendo Saturno em Sagitário em oposição exata, colocado na cúspide da Casa 6. Este posicionamento reflete o choque do seu nascimento por cesariana programada, em que, subitamente, foi arrancado da segurança do útero materno (Casa 12) para a vida exterior (Casa 6). Esta separação abrupta reflete-se num sentimento de privação da presença da mãe que foi reforçado pelo facto de ele ter ficado os 10 dias seguintes numa incubadora. Este tipo de relação entre a Lua e Saturno representa geralmente um sentimento psicológico de não poder contar com a nutrição maternal, refletindo-se nalguma dificuldade na expressão e entrega emocionais na vida futura. Este traço psicológico vai acompanhá-lo ao longo da vida, sem que nada mais eu possa fazer do que tentar minimizá-lo estando o mais presente possível e expressando todos os dias o amor que sinto por ele! Talvez seja este o lado representado pela ligação da Lua natal a Vénus e Marte em sexil e a Mercúrio em trígono. E quando for mais crescido saberei provavelmente compreender porque poderá vir a ser mais fechado, parecer mais frio ou inseguro e necessitar dos seus momentos de recolhimento, que terei de respeitar sabendo que é uma característica sua e não um eventual ”problema”.

No Mapa Natal do meu filho o elemento fogo está tem uma forte presença, com um grande trígono entre Vénus e Marte em Carneiro, Júpiter em Leão e Saturno em Sagitário. Representando Vénus aquilo que nos dá prazer e estando conjunto a Marte (energia e iniciativa) domiciliado em Carneiro, amplificados por Júpiter em Leão, sei que o meu filho necessitará de gastar muita energia física e terá provavelmente muito prazer em atividades desportivas, apreciando o lado competitivo pelo que tentarei promover-lhe essas experiências.

Por outro lado, o posicionamento dos Nodos Lunares, de Carneiro para Balança e da Casa 10 para a Casa 4, com Plutão na Casa 7, sugerem um caminho evolutivo no sentido de trabalhar os relacionamentos e o lado familiar pelo que será benéfico promover atividades desportivas/competitivas a pares, em que terá que trabalhar o sentido de equipa em vez do triunfo pessoal que naturalmente já lhe está associado. Mercúrio em Aquário confere-lhe uma mente rápida, original, visionária, criativa e vanguardista, podendo ter dificuldade em integrar-se no sistema de ensino convencional. A ligação de Mercúrio por trígono à Lua em Gémeos amplifica a curiosidade, o gosto pela comunicação e o interesse constante por assuntos novos, dificultando a capacidade de se focar num tema por muito tempo. A ligação por sextil a Marte em Carneiro sugere um gosto por discussões e a capacidade de defender verbalmente os seus ideais e opiniões acerrimamente.

Conhecendo estas características, percebo que se trata de uma criança a quem não se pode dizer “fazes porque eu mando!” pois isso apenas trará teimosia e revolta. Mas provavelmente conseguirei que colabore comigo se lhe explicar as razões porque tomo certas posições ou vou contra a vontade dele. Este é apenas um exemplo muito sucinto da informação que o Mapa Natal dos nossos filhos nos pode providenciar, ajudando-nos a compreendê-los melhor e a orientá-los no sentido de desenvolver os seus dons, reconhecendo também as suas dificuldades.

Nós, mães e pais, temos um papel relevante a desempenhar no percurso que a alma dos nossos filhos escolheu percorrer nesta vida, seja como veículos de alguns “traumas” que os marcarão ou como motores que os orientam e incentivam. Ao tomarmos consciência das dinâmicas pessoais dos nossos filhos é-nos dada a possibilidade de agir de forma proativa no seu crescimento pessoal!