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Websummit!

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Websummit!

Há quase 3 anos, quando a Websummit surgiu em Portugal pela primeira vez, foi assunto para manchetes e entusiasmo mediático generalizado.

Foram 4 milhões de visualizações no Facebook live, foram mais de 53 mil participantes em 3 dias, 19 mil jovens com bilhetes “bonificados” e 42% deles eram mulheres. Mais de 600 oradores, 21 palcos e 1500 startups a marcarem presença. Em terra onde o futebol é rei, não podia deixar de haver convidados especiais neste campo, e Luís Figo marcou presença como se não bastasse Ronaldinho. O Pavilhão Altice Arena tornava-se assim anfitrião de um dos mais bem sucedidos eventos mundiais na área de tecnologias. Citando a revista Forbes “A melhor conferência tecnológica do mundo”.

Quando isto aconteceu, vivia-se um ambiente de entusiasmo. Vivia-se a confirmação de que “de facto somos um país a ter em conta”. Algumas manchetes celebravam “Vitória!”(Observador.pt), “Portugal Ganhou!” (Dinheiro Vivo), até se fundaram grupos de facebook e medias sociais para seduzir os líderes da Websummit a vir para Portugal.

Lisboa e Portugal orgulhavam-se de ver reconhecido o seu valor e o seu potencial como “país ideal para organizar eventos internacionais”. “O bom tempo, a boa comida, o saber receber e gostar de receber”. Lisboa estava no mapa do empreendedorismo tecnológico.

“Vencer” a concorrência

Este ano, antes do Websummit vivia-se aquele clima de “se calhar acabou”. Depois de 2 anos a crescer e a fascinar o mundo, acreditou-se que poderia existir demasiada concorrência de outros países a querer “levar-nos” a Websummit. Para alegria nossa e da economia local (e nacional), acabámos por voltar a “vencer” a concorrência e conseguimos aparentemente fazer aquilo que tantas vezes fizemos de forma ineficiente na nossa história. Chegámo-nos à frente, e decidimos investir 11 milhões por ano num evento que deu importantes passos da sua própria história em Portugal. Soubemos agarrar aquilo que ajudámos a construir e mostrámos que temos uma nova mentalidade. A mentalidade de pensar como os “grandes”.

A proposta de 10 anos de Websummit em Portugal é extremamente ousada e ambiciosa. É uma proposta de trabalho, de acreditar, de crescer.

Infelizmente, surgiram logo inúmeras vozes a minimizar o Websummit. Aquilo que antes era um deslumbre e depois passou a ser só excelente, de repente passou a ser ocasionalmente “trivial”.

Pessoalmente deixa-me desgostoso que as conquistas, (depois de conquistadas) passem a ser triviais e a “não ser nada de especial”. Se o objetivo se esgotar em realizar o Websummit, então compreendo a falta de entusiasmo. Mas se tivermos em mente que, com a vinda do Websummit podemos sincronizar estratégias para aproveitar essa “rampa de lançamento” para o reconhecimento internacional, então sim: o saldo parece-me francamente positivo.

Impacto positivo

Só quem já presenciou e frequentou o Websummit pode compreender o impacto positivo que ele traz. Não trouxesse mais nada do que isso, poderíamos ver uma organização exemplar, uma coordenação de esforços e uma lógica de implementação impecável, na qual tudo foi fluído, fácil, simpático, confortável, e (confesso) bonito de se ver.

Parabéns Websummit por conseguirem colocar mais de 70 mil pessoas a circular de uma forma incrível e sem desconfortos de nota.

 

 

 

 

António Vilaça Pacheco, autor do livro Bitcoin, da Vida Self Editora.

Saiba mais sobre o autor deste artigo e o seu livro aqui:

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Web Summit Lisbon 2018

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Web Summit 2018

A Web Summit é o evento tecnológico de referência este ano. A conferência, de relevo mundial, é novamente em Portugal e a Vida Self vai lá estar para reportar o que de mais relevante acontecer.

A Web Summit é uma empresa de Dublin, Irlanda, que realiza eventos por todo o mundo: Web Summit em Lisboa, Collision em Toronto, RISE em Hong Kong e MoneyConf em Dublin.

A Forbes refere-se a este evento como “a melhor conferência sobre tecnologia no planeta”; a The Atlantic diz que a Web Summit é “onde o futuro vai para nascer”; o The New York Times fala do evento como um “conclave massivo que reúne os mais importantes cardeais da indústria tecnológica.”

Numa época de grandes incertezas para a indústria em geral e para o mundo, a Web Summit reúne fundadores e CEO’s da empresas tecnológicas, startups em rápido crescimento exponencial, políticos e chefes de Estado, investidores influentes e jornalistas de topo para perguntar algo muito simples: para onde seguimos?

Neste evento onde se fará um extenso networking (mais de 70 000 pessoas irão à WS) aprender será a palavra base: em tempos incertos para negócios e tecnologia, irão discursar aqueles  que passam diariamente por grandes desafios e mudanças, indo os tópicos desde deep tech e data science, passando pelo design e sustentabilidade ambiental.

A exposição deste evento é global e estarão presentes mais de 2,500 journalistas de todo o mundo, desde publicações como a Bloomberg, Financial Times, Forbes, CNN, CNBC, e The Wall Street Journal.

 

Datas e horas

05 a 08 de novembro de 2018, no Altice Arena & FIL, em Lisboa.

Horários dos eventos aqui.

Cobertura de imprensa da Self

A Self vai lá estar e vai dar-vos toda a informação sobre o que se está a passar, com reportagens, entrevistas, vídeos, e fotografias, para que não vos escape nada. Fiquem atentos e acompanhem de perto o nosso site e facebook!  Como não poderia deixar de ser, a nossa presença lá terá um foco especial em criptomoedas, sistemas de pagamentos e inovação da blockchain, visto que o autor António Vilaça Pacheco estará bastante envolvido na área de MoneyConf e CryptoConf (no Web Summit).

Novidades em breve!

 

Saiba mais sobre o autor e o livro aqui:

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Blockspot Conference Europe 2018

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Blockspot Conference Europe 2018

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Este é o evento obrigatório do ano da Blockchain . É em Portugal e a Vida Self vai lá estar!

Blockchain é uma tecnologia revolucionária usada numa ampla gama de indústrias. A moeda digital Bitcoin é o seu principal representante e está a fazer concorrência ao sistema monetário mundial. Smart Contracts, ICOs, criptomoedas e uma Web descentralizada estão a transformar a nossa sociedade tão profundamente como o fez a Internet quando apareceu.

Isto está a criar novas áreas de estudo, como a Criptoeconomia. A Conferência Blockspot é um ponto de encontro para quem está a lidar com todas essas mudanças.

Datas e hora

Sexta-feira, 09/11/2018, 08h30

Terça-feira, 13/11/2018, 19h00 CST

Compre os seus bilhetes aqui.

Cobertura de imprensa da Self

A Self vai lá estar e vai dar-vos toda a informação sobre o que se está a passar, com reportagens, entrevistas, vídeos, e fotografias, para que não vos escape nada.

Fiquem atentos e acompanhem de perto o nosso site e facebook!  O António Vilaça Pacheco, autor do livro Bitcoin, da Vida Self Editora vai contar-vos tudo o que por lá acontece…

Saiba mais sobre o autor e o livro aqui:

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ABC SUMMIT em Lisboa, em setembro

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A primeira cimeira do ABC em Portugal, dedicado a projetos blockchain e ICO apoiados por ativos – 28 e 29 de setembro.

Lisboa receberá em setembro o ABC Summit. Será um evento dedicado às soluções blockchain que estão a ser adotadas por indivíduos, empresas e governos em todo o mundo. Blockchain é uma tecnologia que permite simplificar e executar processos complexos transparentes e invioláveis, como transações financeiras ou mesmo eleições.

Através de um smart contract que determine as regras de operações na Internet, qualquer processo iniciado com blockchain pode ter um perfil descentralizado, que é validado em cadeia por toda a rede participante em vários níveis.

A blockchain tem o potencial de se tornar a próxima infra-estrutura de comunicação e comércio e de introduzir novas possibilidades, ao mesmo tempo que simplifica a conformidade e a interoperabilidade universal. É uma revolução científica que pode significar uma mudança fundamental e radical nos níveis social, económico, financeiro e até mesmo político.

O Summit (onde ABC significa Asset Backed Crypto) servirá como um show de negócios para várias startups das mais diversas áreas que têm em comum o facto de que as suas atividades serem apoiadas por ativos, ou adicionarem projetos de valor real.

Usando os seus critérios, a organização está a selecionar empresas que procuram financiamento por meio da emissão de criptomoedas próprias – Initial Coin Offer (ICO). ABC Summit também visa esclarecer o público sobre ICOs.

Haverá painéis de informação e debate com vários especialistas em soluções de tecnologia de consenso distribuído e Inteligência Artificial, mas também oradores bem conhecidos com outras ideias, como finanças, economia ou impacto social. A inclusão financeira e a responsabilidade social também serão alvos de compreensão na discussão.

A organização do evento prestará atenção às mentes dos jovens e suas habilidades enquanto nos visitam na capital portuguesa.

Haverá um programa durante todo o evento com o objetivo de atender às necessidades e aspirações de estudantes universitários e outros jovens dispostos a aprender mais sobre o blockchain. Desde oficinas com profissionais da área até ideias num concurso para captar o interesse dos investidores, a ABC Summit também terá uma secção específica para aqueles que procuram oportunidades de emprego com startups e outras empresas que trabalham com essa abordagem tecnológica.

Datas da Cimeira, descontos nos bilhetes e apresentação do livro Bitcoin

A Cimeira da ABC será realizada no Centro de Congressos de Lisboa dias 28 e 29 de setembro de 2018.

António Vilaça Pacheco marcará presença no evento, apresentando o seu livro Bitcoin – Tudo o que precisa de saber sobre criptomoedas, esperando integrar um evento de classe mundial.

Para os que estiverem interessados, deixamos um código de desconto que pedimos para os seus seguidores em Portugal: AntonioVilacaPachecoABC40

Se usar este código, terá um desconto de 20% na aquisição dos bilhetes. Deixamos aqui o link para poderem clicar diretamente e comprar já com os descontos atuais:

https://www.eventbrite.fr/e/the-first-abc-summit-in-portugal-dedicated-to-blockchain-projects-and-ico-backed-by-assets-tickets-47506196312

Existem bilhetes para estudantes desde 25 € a 600 € bilhete vip com acesso total. O desconto de 20% que oferecemos acima aplica-se a todos os bilhetes.

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Quer divulgar o seu projeto na ABC Summit?

Gostaria de divulgar o seu projeto na ABC Summit de Lisboa? Torne-se um expositor ou torne-se um patrocinador.

Poderá enviar um email para António Vilaça Pacheco: bitcointalkspodcast@gmail.com  e ele colocar-vos-há em contacto com a pessoa certa na organização do evento.

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Um abraço e vemo-nos lá!

 

António Vilaça Pacheco é autor do livro Bitcoin, da Editora Self.

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Turistas com telhados de vidro

turistas

Episódio #1

É Agosto e estou em Portimão, no Algarve. Eu e a minha mãe dirigimo-nos cedo para a paragem de autocarros mais próxima de casa. Queremos apanhar o Vai Vem das 8h26 para a Praia da Rocha. Quando chegamos à paragem, cinco ou seis pessoas aguardam já o pequeno autocarro, sentadas nos bancos. São todas da terra e vão trabalhar. Não fazem fila, mas mantemo-nos ambas atentas a quem está à nossa frente para respeitar a ordem de chegada. Depois de nós, chegam mais utentes e começa a formar-se uma fila tímida. Quando o autocarro chega, os utentes que estavam sentados dirigem-se para a porta e toda a gente começa a organizar-se para entrar respeitando a ordem de chegada.

Toda a gente, com exceção de um casal — ele bastante velho, ela nem tanto — que foi o último a chegar ao local, mas tenciona ser o primeiro a entrar no transporte. Perante as suas movimentações bruscas para chegar à porta do autocarro antes dos outros, a minha mãe chama-lhes a atenção para as pessoas que tinham chegado primeiro, ao que a senhora, com ar de espanto, pergunta: “Aqui fazem fila?!” Olho-a de esguelha e respondo “Aqui e em todo o lado” e ouço incrédula a seguinte réplica: “De onde eu venho só se faz fila nos consultórios médicos.” Neste momento toda a gente ouve a conversa, que começa a subir de tom, e ficamos entre o riso e a perplexidade.

O velhote, curvado e com pernas mirradas, aproveita a estupefação geral e, lampeiro, acaba mesmo por ser o primeiro a entrar no autocarro. Mas o resto dos passageiros entra por ordem de chegada e a senhora que acompanhava o velhote é a última a subir, como lhe compete. Não percebi exatamente em que terra só se fazem filas nos consultórios médicos, mas o que era claro é que a senhora falava com uma acentuada pronúncia do norte e um sotaque afrancesado. Ao sentar-se junto do velhote, alardeia que o companheiro é “handicapé” (deficiente, em francês) e que no dia seguinte trará a bengala para ser o primeiro a entrar no autocarro.

Não quis perder tempo a explicar-lhe que teria de fazer fila na mesma e só depois beneficiar dos assentos reservados aos “handicapés”, até porque a senhora rapidamente dispara nova pérola: “Venho para aqui gastar o meu dinheiro para vos dar de comer e sou tratada assim? Para o ano não venho e comem merda!”. Um enorme “Oh!” percorre o autocarro cheio de portimonenses enojados com o que ouvem.

Levanta-se um coro de protestos, muitos abanares de cabeças, críticas veementes àquela atitude deplorável e uma outra passageira, que tinha fisgado o sotaque afrancesado da energúmena, arrisca: “Olhe que eu também já fui emigrante e sei que lá fora se fazem filas em todo o lado”, ao que a possidónia tem a lata de responder “Deve ter sido lá na terra dos arábes (dito assim mesmo, com sotaque afrancesado), que são todos iguais a vocês.” Ainda lhe atiro um “Não só é mal educada como é xenófoba!” e depois o motorista, oriundo do leste da Europa, é que põe ordem na coisa, levantando-se e explicando alto e bom som que nas paragens dos autocarros deve-se fazer uma fila única. “Um atrás do outro, atrás do outro, atrás do outro” diz, enfatizando tudo com as mãos e os braços.

Mais tarde, nessa mesma manhã, e também nos dias seguintes, era ver o suposto handicapé a fazer longas caminhadas no areal da Praia da Rocha, cheio de gás nas pernas e sem bengala.

Episódio #2

É Agosto e estou na praia da Rocha, em Portimão. Como sempre, chegamos cedo, eu e a minha mãe. Ainda não são 9h quando pomos os pés no areal deserto e espetamos a sombrinha na fronteira entre a areia seca e a areia molhada. As gaivotas dormitam, pousadas, e o silêncio é balsâmico. Depois as horas vão passando e os outros vão chegando. Por volta das 10h30 já estamos rodeadas de gente que também quer espetar a sombrinha na fronteira entre a areia seca e a areia molhada, mas que mantém uma distância respeitável em relação a nós porque ainda há espaço.

Mas há quem queira dormir até tarde, e queira chegar à praia por volta do meio-dia e, ainda assim, achar ter direito ao melhor lugar para o espetáculo, qualquer coisa como um assento no fosso da orquestra, ainda que esse lugar não tenha mais de um metro quadrado e a família seja de quatro e haja duas sombrinhas e quatro cadeiras e quatro toalhas para acomodar, mesmo que coladas aos pés ou ao nariz do vizinho, que terá de se amanhar porque a vida é uma selva e só se salvam os chicos-espertos. Tudo isto, ainda que haja 700 metros de areia desocupada para trás, entre o lugar sobrelotado e a falésia… É nessa altura que o arraial se torna insuportável e decidimos levantar âncora.

Pela primeira vez em quase 45 anos de praia (na minha terra ou noutra terra qualquer) vejo uma família, portuguesa com certeza, correr na nossa direção e — sem esperar sequer que nos vestíssemos, sacudíssemos as toalhas e arrumássemos o guarda-sol — pousar toda a sua tralha aos nossos pés. E depois ficam ali especados, de pé, a olhar para nós como quem diz “Então, ainda demoram muito?” Perante a minha expressão de repulsa e indignação, o pai de família olha-me com candura (ou estaria apenas a fazer-se de parvo?) e tem a real lata de me dizer: “Esteja à vontade”. “À vontade estava eu antes de vocês chegarem”, respondo com maus modos e a controlar a vontade de lhe apertar o pescoço.

Percebo, contudo, que se estão a borrifar para o que eu sinto, inebriados pela conquista do dia, quiçá de todas as férias ou até do ano: um mísero lugar ao sol, provavelmente pago a muito custo e onde desfrutarão da delícia que é estar-se promiscuamente entalados entre estranhos.

Episódio #3

É Agosto e estou na praia da Rocha, em Portimão. Eu e a minha mãe chegamos, de novo, antes das 9h, ocupamos um lugar na fronteira entre a areia seca e a areia molhada e vamos assistindo à chegada lenta dos outros que, ignorando ostensivamente o gigantesco areal deserto que fica para trás, nos vão espartilhando, espartilhando, espartilhando. A minha mãe faz notar que não vê ninguém de Portimão na praia. Por entre os milhares de caras, não reconhece ninguém. De novo, chega uma família portuguesa de quatro — pai, mãe, filho e filha adolescentes — e decidem montar o estaminé onde achámos que ninguém ousaria instalar-se, por não haver espaço para estender uma toalha sequer. Comento em voz alta: “Olha, agora somos todos primos” e a minha mãe solta um “Isto é inacreditável!”

Pouco depois, quando nos vamos embora, o pater famílias levanta a voz e, tratando a minha mãe por tu, desfere um “Vai-te embora, vai procurar uma praia só para ti!” Antes de notar a falta de respeito para com a minha mãe e a boçalidade do homem, penso no triste exemplo que dá aos filhos.

Estes três episódios são míseros apontamentos no meio de milhares e milhares de outros episódios semelhantes, testemunhados ano após ano por quem vive em locais que despertam o apetite dos turistas nacionais, nomeadamente nas zonas costeiras, sejam elas a sul ou a norte. Quem lá vive o ano inteiro, há muito que suporta comportamentos incivilizados, egoístas e arrogantes de quem arriba por duas semanas em modo veni vidi vici, “e que se lixem os outros, sejam eles da terra ou turistas. Sonhei com isto o ano todo e ninguém me vai estragar as férias a que tenho direito e com tudo a que tenho direito, até porque se não viesse gastar o meu dinheiro os desgraçados que aqui vivem não tinham onde cair mortos”. Um clássico…

E nós, os locais, a observá-los e a fazer do assunto tema de conversa todos os anos, por entre gargalhadas escarninhas, porque demasiadas vezes não conseguimos entender sequer porque sai aquela gente de casa e gasta dinheiro se — apesar do sol garantido, do mar quente e dos dias longos longe do trabalho — chegam a bufar e continuam a bufar durante todas as férias:

descarregam a impaciência nas buzinas dos carros como se ainda estivessem no IC19, reclamam da lentidão nas filas dos supermercados como se ainda estivessem no Continente da Senhora da Hora, aconchegam-se bem uns aos outros nos areais como quem tem saudades do open space onde partilham uma secretária atravancada com os colegas da repartição, disputam mesas em esplanadas e restaurantes como se fossem as últimas coca-colas no deserto e passam parte do dia a rogar pragas por não encontrarem onde estacionar o carro, de preferência à porta da casa alugada ou mesmo junto ao acesso à praia. Incapazes de relaxar, perpetuam o ciclo vicioso stressante, porque é nele que se sentem confortáveis sem que disso tenham consciência. Obviamente, partem a bufar.

Nos idos anos noventa, quando fui de Portimão estudar para Lisboa, era comum ouvir por lá o discurso de que fazer férias no Algarve era demasiado caro para a fraca qualidade oferecida. Muitos portugueses preferiam a costa e as ilhas espanholas, com preços mais acessíveis. Achei sempre piada a essas queixas por parte de quem só tencionava ir ao Algarve duas semanas por ano, quando aos algarvios cabe viver com uma carestia transversal, que demasiadas vezes implica repensar o que se põe na mesa para comer por causa dos preços que quase triplicam em certas épocas do ano.

Apesar do caos urbanístico que dificilmente poderá ser revertido — quem se atreveria a correr a costa sul a buldózer? —, julgo que se percorreu um longo e ascendente caminho no respeitante aos serviços disponibilizados aos turistas (ainda haverá restaurantes sem ementas em português?) e só isso explica que insistam em regressar ao Algarve ano após ano. Mas para quem lá vive os desafios permanecem, e talvez se tenham até agudizado. É por isso que alguns optam por fazer as suas férias longe da costa, em paragens mais pacatas, e muitos se fecham em casa, evitam as praias e os centros das suas cidades, esperando pacientemente pelo desafogo de Setembro.

Não quero com este discurso parecer vingativa, dizer com soberba, aos que agora começam a conviver com hordas de turistas, “bem-vindos ao nosso mundo”. Não, não é isso. Primeiro porque cresci com o turismo de massas à porta de casa e habituei-me a ele; segundo porque não quero cair no erro de diabolizá-lo — o turismo tem, definitivamente, coisas muito boas; terceiro porque o desafio colocado aos lisboetas e aos portuenses é mais exigente: escapadinhas nas cidades fazem-se todo o ano, faça chuva ou faça sol; ir à praia é que nem por isso, o que dá azo a folgas retemperadoras.

Quero, com isto, recordar-lhes que o assunto não é novo em Portugal, nem começou com o advento das companhias aéreas low cost que aterram na Portela e em Pedras Rubras. Quero recordar-lhes que estamos sempre a tempo de corrigir e de melhorar, sobretudo se aprendermos com os erros cometidos pelos que começaram a lidar com este desafio há várias décadas. E, principalmente, quero recordar-lhes que todos nós somos turistas. Julgo, por isso, que será conveniente pormos a mão na consciência, pararmos por uns minutos de criticar os “açambarcadores” que vêm de fora transtornando as nossas rotinas, e pensarmos primeiro sobre a forma como nós, portugueses, nos comportamos enquanto turistas cá dentro.
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Índice da Felicidade: Portugal abaixo da média europeia

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Em 2012 foi feito o primeiro relatório mundial sobre a felicidade, com o objetivo de procurar medir e perceber a subjetividade do “bem-estar” humano. Agora em 2017, foi publicado a sua 5ª edição, com o ranking mundial de 155 países.

A média mundial dos 155 países é de 5.3. Portugal surge no 89º lugar. O nosso índice de felicidade é de 5.1….Estamos abaixo da média mundial e muito abaixo da média da europa ocidental, que é de 6.5. Somos dos países que na europa apresentaram um decréscimo no índice de felicidade, tal como a Espanha, Grécia e Itália.

Esta avaliação é decomposta é assente em assente em 6 fatores:

  • paridade do poder de compra – analisa em cada país o poder de compra, tendo em conta salário versus custo de vida;
  • esperança média de vida;
  • apoio social- através da pergunta: “Se você estiver com problemas tem familiares e/ou amigos que o ajudam sempre que precisar?”;
  • liberdade – através da pergunta: “Você está satisfeito ou insatisfeito com a liberdade de que tem para escolher o que quiser para a sua vida?”;
  • generosidade – através da pergunta: “Fez alguma doação ou caridade no último mês?”;
  • corrupção – com duas perguntas: “Considera que a corrupção está disseminada pelo governo do seu país, ou não? e “Considera que a corrupção está disseminada pelo tecido empresarial do seu país, ou não?”.

Foi pedido às pessoas que avaliassem a sua vida, através da pergunta da escada de Cantril: Imagine uma escada, com degraus numerados de 0 (em baixo) até 10 (em cima). O topo da escada significa a melhor vida possível que você poderia ter enquanto o primeiro degrau representa a pior vida possível para si. Em que degrau é que você sente que está atualmente?

É de facto um resultado surpreendente e abaixo do desejado… Mas para o entender melhor, devemos aprofundar um pouco mais o raciocínio para podermos tirar conclusões e quem sabe… tentar não fazer parte desta média estatística.

Enquanto adultos a nossa felicidade depende significativamente da situação em que nos encontramos: a nossa condição económica (salário, educação e emprego), a nossa situação social (no que diz respeito às nossas relações) e a nossa saúde (física e mental). Estes em parte dependem do nosso passado em criança (desenvolvimento intelectual, comportamental e emocional). O nosso desenvolvimento em crianças/adolescentes foi condicionado pelo nosso enquadramento familiar e escola.

Significa isto que a nossa felicidade futura depende do trabalho que se vai fazendo ao longo da nossa vida. Começa em criança com a nossa família, pessoas próximas e escola. Em adulto, a situação económica e social do país é fundamental. Mas a componente social, nomeadamente as relações, e a nossa saúde física e mental, são fatores relevantes e os quais podemos trabalhar, desenvolver.

Pergunte a si mesmo: Imagine uma escada, com degraus numerados de 0 (em baixo) até 10 (em cima). O topo da escada significa a melhor vida possível que você poderia ter enquanto que, o primeiro degrau representa a pior vida possível para si. Em que degrau é que você sente que está atualmente?

O que está nas suas mãos para ser mais feliz?
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Postura nos adolescentes portugueses

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Postura nos adolescentes Portugueses – que realidade?

Num estudo recente, realizado em 2015 com uma amostra de 275 adolescentes Portugueses entre os 15-17 anos de idade, concluiu-se que a quase metade dos alunos (47%) apresentava simultaneamente a cabeça anteriorizada e os ombros projectados para a frente (Ruivo, 2014).

Reportou-se ainda que dor cervical era comum nestes adolescentes (38%), especialmente nas raparigas, o que pode estar associado às alterações posturais atrás descritas.

À luz destas evidências, e, sabendo que o espaço de prática desportiva de excelência de todas as crianças e adolescentes continua a ser a Escola e as aulas de Educação Física, considero que se deve implementar um curto e eficaz protocolo de correção postural, que englobe exercícios específicos de reforço e alongamento muscular. Este protocolo poderia ser incluído no final das aulas de Educação Física e deve visar reforço dos músculos rotadores externos do ombro, dos estabilizadores da omoplata e dos músculos flexores profundos cervicais e o alongamento do esternocleidomastóideo e do angular da omoplata. A eficácia deste programa de intervenção está comprovada! (Ruivo, 2015)

Outras sugestões a considerar para a melhoria da postura dos nossos adolescentes:

•Em idade escolar deverão transportar as mochilas em ambos os ombros, próximo do nível da cintura, e evitar levar peso em excesso (não deverá ultrapassar 10% do peso da criança ou adolescente).

•Em termos ergonómicos devemos ter alguns cuidados, como por exemplo, quando estamos a escrever ao computador, o ecrã deve estar ao nível dos olhos, pés apoiados no chão, braços apoiados a 90 ou 100º.

•Devemos regularmente movimentarmo-nos, não estando mais do que uma hora contínua sentados.

Está na hora de procurarmos fazer a diferença pela positiva!

Rodrigo Ruivo

1. Ruivo RM, Pezarat-Correia P, Carita AI. Cervical and shoulder postural assessment of adolescents between 15 and 17 years old and association with upper quadrant pain. Brazilian J Phys Ther [Internet]. 2014 Jul 18;

2. Ruivo RM, Carita AI, Pezarat-Correia P. The effects of training and detraining after an 8 month resistance and stretching training program on forward head and protracted shoulder postures in adolescents: Randomised controlled study. Man Ther [Internet]. Elsevier Ltd; 2015;21:76–82.