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Pessoas tóxicas: Cara ou coroa?

tóxicas

Vamos pensar sobre: pessoas tóxicas.

CARA

Todos nós já lemos artigos, livros ou ouvimos alguém falar sobre este tema. Pessoas tóxicas são aquelas que, de alguma forma, conseguem entrar no nosso espaço pessoal deixando-nos desconfortáveis e recorrentemente com a sensação de cansaço. Diria que, mais que entrar, essas pessoas impõem-se no nosso espaço. Têm por hábito comparar-se a outras pessoas, exagerar no relato dos seus desafios e costumam apresentar-se com uma postura negativa.

É usual encontrar como solução o afastamento. Quando se trata de indivíduos que não têm impacto diário ou regular na nossa vida esta solução é viável. E quando falamos de familiares, amigos e colegas? Aqui o desafio é maior. Não existem formulas mágicas, atalhos ou soluções fáceis. O caminho pode passar (1) pela reflexão sobre a postura da pessoa em causa e perceber se há ou não uma maneira de ajuda-la e (2) perceber que aprendizagem ou exemplo traz esta situação. (3) Parece-me ainda importante entender porque esta pessoa tem este impacto, estaremos a abrir demais o espaço pessoal ou é um tema que ressoa e é preciso trabalhá-lo?

COROA

E porque todas as moedas têm duas faces. Convido-vos a pensar no lado que não costuma ser exposto.

E eu? E tu? Seremos pessoas tóxicas? Temos comportamentos tóxicos que influenciam a vida e bem-estar de alguém? Quando foi a última vez que te colocaste neste papel?

Se existem pessoas tóxicas e queremos melhorar significativamente o nosso contexto é importante colocarmo-nos em causa. Se é simples? Não. Se é necessário? Sim.

Hoje deixo este desafio: tira 30 minutos, pensa nas pessoas que te são próximas e que convives diariamente e coloca esta pergunta: Que tipo influência tenho na vida dos outros e que exemplo quero dar?

Este exercício trará mais consciência daquilo que atrais, se estás alinhado com os teus valores e se deves adaptar o teu comportamento em algumas situações ou com pessoas especificas.

Recordando a máxima de Gandhi: sê a mudança que queres ver no mundo.

 

(este artigo rege-se pelo antigo acordo ortográfico)

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Existe uma postura ideal?

postura
Existe uma postura ideal?

Entenda-se por postura o alinhamento de todos os segmentos corporais num período de tempo particular (Gangnet e col., 2003). Acredita-se que uma postura ereta eficiente é aquela que permite uma eficiente manutenção do equilíbrio e balanço da posição em pé, com o mínimo de esforço e sobrecarga músculo-esquelética e sem qualquer sensação de desconforto (Pausić ecol., 2010).

Alinhamento ideal

Em 1993, Kendall referiu que o alinhamento ideal no plano sagital seria aquele em que a pessoa teria todos os segmentos corporais (ouvido, ombro, corpo de vértebras lombares, coxo-femoral, joelho e maléolo lateral) sobre a mesma linha vertical (Kendall,e col., 1993). Atente-se, no entanto, num estudo de Grimmer-Somers (1997) que examinou 427 sujeitos sem sintomas de dor, utilizando como referência um plumb line e a referência de alinhamento ideal de Kendall. Do total da amostra nenhum sujeito estava perfeitamente alinhado com a norma ideal (referência da linha vertical).

Não se deve nunca deixar de considerar a individualidade de quem se está a avaliar! Ou seja, poderá não ser a melhor solução procurar impor a “postura ideal” a alguém, se o sujeito for assintomático e se se encontrar “em equilíbrio no seu equilíbrio”. Não significa que não devamos procurar sempre optimizar a postura para uma interligação dos segmentos mais funcional e eficiente, mas tendo sempre em consideração o passado do aluno e sua a perceção de como se sente presentemente. Trabalhe-se com qualidade para as pessoas!

Rodrigo Ruivo

Direção Centro de Formação Clínica das Conchas

Rodrigo Ruivo é autor do Novo Manual de Avaliação e Prescrição de Exercício, da Editora Self.

 

Referências bibliográficas:

www.researchgate.net/profile/Rm_Ruivo
Grimmer-Somers, K. (1997). An investigation of poor cervical resting posture. Australian Physiotherapy, 43(1), 7–16.
Kendall, F. McCreary, E.,& Provance, P. (1993). Muscle and Testing Function. (Williams and Wilkins, Ed.) (4 th editi). Baltimore.
Pausić, J., Pedisić, Z., & Dizdar, D. (2010). Reliability of a photographic method for assessing standing posture of elementary school students. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, 33(6), 425–31.
http://doi.org/10.1016/j.jmpt.2010.06.002

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O ioga e o Ocidente: como escolher o estilo certo para si?

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O Ocidente apaixonou-se pelo ioga. Vá, pelas posturas de ioga. Sabia que essa é apenas uma fração de todo o sistema, que engloba filosofia, alimentação, respiração, higiene, relacionamentos, entre muitas outras áreas da nossa vida?

A maioria de nós, ocidentais, conhece apenas aquilo que vê nos ginásios e estúdios de ioga: pessoas em poses estranhas, com roupas muito largas ou muito justas, em aulas que terminam com toda a gente aparentemente a dormir. O ioga é muito mais do que isso, mas neste artigo vou falar-lhe apenas das aulas, porque até aí há uma grande variedade.

Atualmente, há dezenas — atrevo-me a dizer centenas — de escolas de ioga por todo o país. Em que diferem? Na linha de ioga que seguem e no próprio professor. Experimente fazer uma aula com três professores diferentes e terá garantidamente três aulas diferentes. Então, como escolher? Normalmente, as escolas oferecem uma aula gratuita para que possa experimentar. O meu conselho: experimente várias escolas. Veja qual a aula em que se sente mais confortável. Quanto ao professor ou professora, além de ser importante saber a sua formação, é importante ver como ele se comporta numa aula. Dá orientações claras? Explica os benefícios e os riscos de cada postura? Corrige as posturas dos alunos para que não se magoem? Incentiva-os, ou pelo contrário, critica-os? E acima de tudo, tem respeito pelo corpo dos alunos?

Lembre-se, não somos todos iguais e nem todos vamos conseguir fazer esta ou aquela postura à primeira (e às vezes nem à vigésima ou centésima tentativa), e o professor tem de ter isso em conta e nunca obrigar o aluno a fazer algo para o qual não está preparado. Caso contrário, uma aula que devia ajudá-lo a relaxar e conhecer melhor o seu corpo pode resultar em lesões graves e duradouras.

Não se precipite e defina o seu objetivo: quer simplesmente descontrair? Quer começar uma prática física e espiritual? Quer ganhar força e flexibilidade? Quer avançar nas posturas e ver até onde pode levar o seu corpo? Pode conseguir tudo isto com o mesmo professor; o importante é que seja feito em segurança. Atualmente, há diversos estilos de ioga físico, todos derivados do clássico Hatha Ioga. Não vou aqui dissertar sobre todos eles, até porque pratiquei apenas o estilo clássico, mas posso dizer-lhe que há outros estilos mais recentes, como Ashtanga, Kundalini, Vinyasa, Yin Ioga, entre outros, que diferem entre si conforme a intensidade e o tempo das posturas. Como escolher o ideal para si? Experimente!

O ioga é uma experiência pessoal, não é uma moda. E por falar em modas, posso dizer-lhe que por todo o Ocidente há também quem ande a praticar ioga com cabras, varinhas do Harry Potter e até com um copo de cerveja na mão ou enquanto come nuggets de frango.

Estas variantes estão sem dúvida a anos-luz do ioga original e dos seus ensinamentos e há até quem argumente que não são ioga, de todo. Mas quem sou eu para lhe dizer que não as pratique?

Seja fiel ao que o seu corpo e a sua alma lhe pedem. Experimente, sinta, viva e… respire.

Namaste!

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Educação Física – Porque não?

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Fui, sou e sempre serei professor de Educação Física! Qual é a dúvida?

Desde sempre, mas de forma mais feroz nos últimos anos, a disciplina de Educação Física tem visto o seu lugar nos planos curriculares esvaziar-se e a sua importância ser desvalorizada. Discute-se se a nota da disciplina deverá ter algum peso na avaliação do aluno deixando no final do secundário de contar para todos os alunos, reduz-se carga horária semanal das aulas de Educação Física e estou certo que este não é o caminho para um desenvolvimento multilateral e saudável das crianças e adolescentes portugueses.  Poderá parecer uma opinião parcial por ser professor de EF, mas para isso vamos aos factos (apenas alguns):

  • Portugal tem uma das taxas de obesidade infantil mais elevadas da Europa. Cerca de 30% das crianças apresenta excesso de peso e 10% são obesas. Solução: vamos comprar mais um gadget para entreter crianças e diminuir tempo de exercício físico semanal…
  • Num estudo realizado pela Faculdade de Motricidade Humana, inserido no Programa Pessoa, junto de três mil alunos de 13 escolas do Concelho de Oeiras, de 2007-2013, concluiu-se que os alunos que fazem exercício físico têm melhores resultados escolares. Os jovens com aptidão cardio-respiratória saudável tiveram um maior somatório das classificações a Português, Matemática, Ciências e Inglês.
  • Noutro estudo recente, em 2013, englobado num projeto de Doutoramento (R. Ruivo, 2013) foram avaliados 275 adolescentes de duas escolas secundárias de Lisboa e verificou-se que 47,6% dos alunos tinham uma postura incorreta, com a cabeça e ombros demasiado projetados para a frente. 38,2% do total dos 275 adolescentes referiram sentir dores cervicais ou de pescoço regularmente. Com um adequado protocolo de reforço muscular e alongamento praticado nas aulas de Educação Física, durante 8 meses, os adolescentes melhoraram bastante a sua postura e sentiram menos dores cervicais. Porreiro, hein!?! Melhoria da auto-estima, competência, autonomia e muitos outros benefícios…

Resumindo, facilmente se compreende que as aulas de Educação Física e respetivo exercício físico e vivências proporcionadas têm benefícios ao nível fisiológico (melhor aptidão cardiorrespiratória, controlo ponderal, etc), psicológico (melhor auto-estima, autonomia, etc) e têm um efeito positivo no aproveitamento escolar.

Portanto, porque é as atuais políticas de educação procuram cada vez mais criar iliterados e “analfabetos motores”! São tantas as vantagens que a valorização da Educação Física deveria ser um exercício de matemática simples…

Qual é a dúvida? Fui, sou e sempre serei professor de Educação Física!
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Postura nos adolescentes portugueses

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Postura nos adolescentes Portugueses – que realidade?

Num estudo recente, realizado em 2015 com uma amostra de 275 adolescentes Portugueses entre os 15-17 anos de idade, concluiu-se que a quase metade dos alunos (47%) apresentava simultaneamente a cabeça anteriorizada e os ombros projectados para a frente (Ruivo, 2014).

Reportou-se ainda que dor cervical era comum nestes adolescentes (38%), especialmente nas raparigas, o que pode estar associado às alterações posturais atrás descritas.

À luz destas evidências, e, sabendo que o espaço de prática desportiva de excelência de todas as crianças e adolescentes continua a ser a Escola e as aulas de Educação Física, considero que se deve implementar um curto e eficaz protocolo de correção postural, que englobe exercícios específicos de reforço e alongamento muscular. Este protocolo poderia ser incluído no final das aulas de Educação Física e deve visar reforço dos músculos rotadores externos do ombro, dos estabilizadores da omoplata e dos músculos flexores profundos cervicais e o alongamento do esternocleidomastóideo e do angular da omoplata. A eficácia deste programa de intervenção está comprovada! (Ruivo, 2015)

Outras sugestões a considerar para a melhoria da postura dos nossos adolescentes:

•Em idade escolar deverão transportar as mochilas em ambos os ombros, próximo do nível da cintura, e evitar levar peso em excesso (não deverá ultrapassar 10% do peso da criança ou adolescente).

•Em termos ergonómicos devemos ter alguns cuidados, como por exemplo, quando estamos a escrever ao computador, o ecrã deve estar ao nível dos olhos, pés apoiados no chão, braços apoiados a 90 ou 100º.

•Devemos regularmente movimentarmo-nos, não estando mais do que uma hora contínua sentados.

Está na hora de procurarmos fazer a diferença pela positiva!

Rodrigo Ruivo

1. Ruivo RM, Pezarat-Correia P, Carita AI. Cervical and shoulder postural assessment of adolescents between 15 and 17 years old and association with upper quadrant pain. Brazilian J Phys Ther [Internet]. 2014 Jul 18;

2. Ruivo RM, Carita AI, Pezarat-Correia P. The effects of training and detraining after an 8 month resistance and stretching training program on forward head and protracted shoulder postures in adolescents: Randomised controlled study. Man Ther [Internet]. Elsevier Ltd; 2015;21:76–82.

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Smartphones e a saúde da coluna cervical

Os smartphones actualmente são uma necessidade para a maioria das pessoas e um acessório indispensável e tão utilizado no dia-a-dia. Por este motivo, os estudos que avaliam os efeitos da sua utilização excessiva têm proliferado e as conclusões têm sido bastante coincidentes.

Quando se utiliza o smartphone as pessoas têm tendência a flectir a região cervical baixa para olhar para o objecto que está numa posição mais baixa e a manter a cabeça nesta posição anteriorizada por longos períodos de tempo. Esta posição tantas vezes apelidada de “forward head posture” pode provocar elevado stress na região cervical, provocar dor miofascial, causar dores de cabeça ou alterar a curvatura cervical (Park, 2015). Por estes motivos as pessoas deverão ter a preocupação de olhar para os seus smartphones com posição neutra da coluna cervical e evitar despender tantas e tantas horas “debruçado” a olhar para o ecrã.

Rodrigo Ruivo, autor do Manual de Avaliação e Prescrição de Exercício Físico (Self)

1. Park J, Kim J, Kim J, Kim K, Kim N, Choi I, et al. The effects of heavy smartphone use on the cervical angle , pain threshold of neck muscles and depression. Adv Sci Technol Lett. 2015;91:12–7.