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Como podemos garantir o nosso sustento?

Percebi que alguma coisa teria de mudar quando regressava do trabalho, a caminho de ir buscar a minha filha à pré‑primária.

Pensei que, se tivesse mais controlo, conseguiria reorganizar o meu horário para trabalhar de forma mais intensa de manhã, quando me sentia mais criativa e produtiva, passando as tardes a vestir bonecas e a fingir ser um macaco. Poderia completar as tarefas do dia depois de a deitar às sete da tarde.

Para que isto acontecesse, precisava de duas coisas: mais poder e mais
dinheiro.

A única forma de conseguir realmente o que desejava seria afastando‑me da economia tradicional que funciona à base de empregos a tempo inteiro com horários definidos. Precisava de conseguir a minha independência financeira ganhando dinheiro adicional além do meu trabalho a tempo inteiro, para deixar de ser vulnerável ao despedimento e poder, eventualmente, trabalhar por conta própria e definir o meu próprio horário. A questão ia muito além do dinheiro. Queria poder controlar a minha vida.

No meu trabalho como jornalista especializada em economia, conheci outros que equilibravam por tempo indefinido biscates com trabalho a tempo inteiro, criando uma fonte de rendimento híbrida e estável. Muitos perceberam, como eu, que os seus empregos a tempo inteiro poderiam desaparecer a qualquer momento e sabiam bem que isso seria devastador. Queriam proteger‑se e às suas famílias. Uma arquiteta despedida publicou no mercado online de artesanato Etsy.com algumas tábuas de corte com forma de estados que fizera para o seu casamento e, meses depois, vendera milhares e transformara o seu passatempo num negócio a tempo inteiro, conseguindo maior segurança profissional para si e para a sua família do que alguma vez tivera como arquiteta. Uma gerente de livraria, frustrada com os horários longos e com o salário anual de vinte e oito mil dólares, percebeu que nunca conseguiria pagar o tipo de vida que desejava para a sua família sem uma mudança drástica. Por isso, lançou o seu negócio de formação em empreendedorismo para pessoas criativas e com dotes manuais. Em dois anos, o seu rendimento anual aumentou para 150.000 dólares e conseguiu obter controlo total do seu horário de trabalho.

Estas não são simples histórias de sucesso no empreendedorismo. A maior parte de nós nem sequer se vê como empreendedor e não iniciámos o percurso com o objetivo de trabalharmos por contra própria (alguns de nós não pretendem abandonar os empregos a tempo inteiro). Fomos forçados a criar um plano secundário quando o principal começou a vacilar.

Estas histórias são as nossas histórias de sobrevivência. Vistas em conjunto, sublinham um facto acerca da nossa economia que poucas pessoas podem continuar a ignorar: hoje em dia, todos precisamos de mais do que uma fonte de rendimento.

Uma sondagem da Gallup de 2012 concluiu que perto de três em cada dez trabalhadores receiam o despedimento, enquanto quatro em cada dez receiam um corte nos benefícios. É difícil levarmos as nossas vidas com normalidade, indo ao supermercado e planeando férias, com esse tipo de ansiedade pairando sobre as nossas cabeças.

Em simultâneo, a vida torna‑se cada vez mais cara. Os preços dos bens alimentares e da gasolina, o aluguer da casa e até o preço do café não param de subir.

É por esse motivo que tantos de nós decidiram procurar um modo de vida alternativo. Um modo de vida que não nos faça sentir que caminhamos sobre um arame, a um passo do desastre. Enfrentamos o stress e a estagnação procurando formas de ganhar dinheiro fora dos nossos empregos a tempo inteiro (se ainda os tivermos). Frequentemente, sentimos que não temos escolha. Precisamos de dinheiro e os nossos empregos não o geram em quantidade suficiente.

Assim, num mundo sem segurança profissional e com pressão financeira crescente, como poderemos garantir a sustentabilidade para nós mesmos e para as nossas famílias?

A resposta mostrou‑se óbvia. Teremos de criar ativamente formas múltiplas de ganhar dinheiro através de iniciativas empreendedoras.

De muitas formas, manter empregos a tempo inteiro durante tanto tempo quanto conseguirmos enquanto desenvolvemos lentamente os nossos projetos de empreendimento permite‑nos o melhor de dois mundos.
Apesar dos cortes, os nossos empregos continuam a incluir frequentemente um seguro de saúde (e, possivelmente, seguros de incapacidade e de vida), um salário regular, oportunidades de desenvolvimento de capacidades, socialização e uma linha de suporte para situações de dificuldade. Entretanto, os nossos biscates permitem uma possibilidade de diversificar e aumentar o nosso rendimento, de nos realizarmos criativamente, de tentar gerir um pequeno negócio e de exercer maior controlo sobre o nosso trabalho. Obtemos em simultâneo os benefícios do mundo empresarial e do mundo do emprego por conta própria.

Este livro ajudá‑lo‑á a preparar o seu biscate para o lançamento, para o salvar do medo e frustração financeiros, para o tornar mais seguro e próspero e para lhe permitir satisfação e realização pessoal muito além do que obteria com a sua ocupação principal. Construirá desta forma a sua economia pessoal.

Em Crie a Sua Economia, de Kimberly Palmer

Imagem de Andrew Neel em Unsplash

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7 coisas que aprendi a escrever “O Livro dos Fazedores”

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Dois meses de escrita, 14 histórias e mais de 20 horas de entrevistas. Falar com fazedores é perceber que o tempo corre, que as dificuldades surgem quando menos se espera e que a história se repete, mesmo que não seja com as mesmas pessoas. E entender que Portugal mudou graças, também a eles. Lista de sete coisas que aprendi a falar e a escrever sobre empreendedores.

Tudo começa pelo princípio

Criar um negócio tem muito que se lhe diga e os fazedores sabem disso. O princípio costuma ser uma necessidade detectada. Daí à ideia é um instante. E se, para a concretização da ideia podem passar poucos meses, para ela se reinventar menos ainda.

Planos, há muitos

Por mais que se planeie, passo a passo, há sempre imprevistos. É assim em tudo na vida e, também nas startups. Por isso, é importante saber o destino, olhar o caminho e, claro, estar aberto ao que aparece. Há oportunidades para aproveitar, obstáculos para ultrapassar e surpresas de que nunca estamos às espera. Mas, na carteira de “características”, os fazedores têm essa flexibilidade essencial para não desesperar sempre que há pedras no caminho.

Crescer dói

Criar uma startup começa com uma pequena ideia, num espaço pequeno, e com uma equipa reduzida. Com o tempo e o crescimento, os fazedores sentem necessidade de alargar a equipa e começar a delegar. E isso dói. Uma das dicas mais repetidas no livro é tratar da cultura da empresa com carinho: uma cultura forte é meio caminho para garantir um crescimento à imagem dos fundadores.

A sorte dá trabalho

Pode até parecer apenas um enorme clichê mas a verdade é que, asseguram os fazedores, a sorte dá muito trabalho. Antes de criarem a Talkdesk, Cristina Fonseca e Tiago Paiva fundaram outros quatro projectos. Antes de escolherem os investidores para financiarem o crescimento da Chic by Choice, Lara Vidreiro e Filipa Neto leram, perguntaram e contactaram dezenas deles. Todos os passos contam para um dia as startups anunciarem investimentos, crescimento, novos mercados. E esses passos dão-se, muitas vezes, a solo, fora de horas e noutros fuso-horários.

Rodeia-te bem

Ter pessoas ao lado que estejam a passar pelos mesmos dilemas ou se revejam nas dores e já tenham ultrapassado alguns dos obstáculos por que estamos a passar são maneiras de. Os fazedores rodeiam-se dos melhores por onde quer que passem: primeiro, em incubadoras e aceleradoras de empresas, depois na criação de processos de recrutamento que ajudem a manter o ADN da empresa mesmo que a estrutura escale.

Prepara-te melhor ainda

Se o teu objectivo é criar um projecto que tenha impacto no mundo, prepara-te para responder a perguntas, ser confrontado com dúvidas e ter de inspirar a confiança dos que te rodeiam (e até de desconhecidos). O segredo para que a missão seja possível é preparação: lê, conta a ideia ao maior número de pessoas possível, valida o conceito. E que não se atrase a ida para o mercado. Só tentando – e, se necessário, falhando rápido – se aumentam as possibilidades de sucesso.

Que o medo não paralise

O medo é um factor que ajuda a medir o risco mas não deve paralisar. No início, todos os fazedores têm pudores em avançar para o mercado: ou porque o produto não está pronto, ou porque ainda podem melhorar, ou por um sem fim de razões que não importa especificar. Atrasar a validação é uma maneira de adiar a verdade. Por isso, se houver medo, arrisque mesmo com medo.

 

*Mariana de Araújo Barbosa , jornalista desde 2007, é autora d’O Livro dos fazedores, um manual de todas as aprendizagens dos primeiros fundadores de startups nacionais, lançado em Outubro de 2018.

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Então você acha que quer ser empreendedor…

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“Antes de ser mãe, disseram‑me que os primeiros cinco anos são os mais difíceis para os pais. Aquela pessoa em miniatura está dependente de nós desde o momento da conceção até ao dia em que a enviamos na carrinha do infantário. O nosso trabalho não acaba quando os nossos filhos vão para a escola a tempo inteiro, mas, por essa altura, as crianças já conseguem fazer algumas coisas sozinhas.
O mesmo se aplica a uma pequena empresa. Se acha que agora trabalha muito, espere só até se tornar o seu próprio patrão. Vai perceber o que significa a palavra «sacrifício». Vai deixar de comer fora com tanta frequência, de comprar as engenhocas mais recentes e ir às compras sempre que lhe apetecer. Vai cozinhar em casa e eliminar todos os gastos desnecessários. Sim, aquele merecido bife do seu restaurante preferido é agora uma despesa desnecessária. Normalmente, as pequenas empresas demoram doze a dezoito meses a recuperar o investimento e três anos a gerar qualquer lucro. É no quarto ano que um negócio se transforma numa entidade autossustentável. Vai precisar de todo o seu entusiasmo e energia para tornar o seu negócio numa empresa viável, com uma poderosa marca com presença nas redes sociais.
Para ser um empreendedor de sucesso, também é preciso ter paciência. Terá de ser paciente consigo mesmo, com os seus funcionários e, acima de tudo, com os seus clientes. As vendas não surgirão tão depressa como você acha que devem surgir, mas se conseguir aguentar‑se, ser empreendedor poderá ser a sua experiência profissional mais gratificante.

Por isso, o primeiro passo é decidir se foi feito para este tipo de vida.

A MENTALIDADE EMPREENDEDORA

  • Acha sempre que há uma forma melhor de fazer as coisas;
  • Preferia estar ao comando da empresa;
  • Acha que o seu chefe geralmente não sabe o que faz;
  • Sente que o seu potencial não é aproveitado pelos seus supervisores e está insatisfeito com o seu emprego;
  • Sabe que faria as coisas de forma diferente, se a empresa fosse sua;
  • Senta‑se à sua secretária a calcular o quanto rende ao seu empregador e a pensar que devia estar a trabalhar por conta própria;
  • Está convencido de que poderia sair‑se melhor do que os seus colegas que estão acima de si.

Os empreendedores são líderes natos. São pessoas criativas e com iniciativa. Conseguem tomar decisões rapidamente e mantê‑las. Os empreendedores são visionários, trabalhadores esforçados e extremamente perspicazes. Normalmente, têm personalidades exigentes e extrovertidas. Não têm receio de correr riscos e estão sempre a tentar melhorar a situação em que se encontram.

No reverso da medalha, estas pessoas são por vezes teimosas e impacientes. Os empreendedores nem sempre são bons ouvintes nem fáceis de ensinar e podem ser territoriais.
Se algum destes pontos lhe parece familiar, se acha que possui estas qualidades, então o empreendedorismo talvez seja o ideal para si. Mas antes de abrir um negócio, há seis coisas que não lhe podem faltar:

1. Um plano de vida
2. Uma ideia de negócio sólida
3. Crédito excecional
4. Um plano de negócio
5. Uma família ou cônjuge compreensivos
6. Fé

O EMPREENDEDORISMO É PARA SI?

Se depois de ler a secção acima, pousar este livro e deixar o seu sonho de empreendedorismo na prateleira, não se sinta mal; nem todos foram feitos para ser empreendedores. Mas se leu até aqui e a sua paixão, empenho e fé continuam firmes… avance!”

Melinda F. Emerson, no livro Startup em 12 Meses, Self.