
“Há uma relação na nossa vida — na vida de toda a gente — que tem sido mantida secreta. Não sabemos quando começou e, ainda assim, dependemos dela para tudo. Se esta relação algum dia terminasse, o mundo desapareceria numa nuvem de fumo. Trata‑se da nossa relação com a realidade. Há um número imenso de coisas que têm de se combinar na perfeição para formarem a realidade e, contudo, fazem‑no inteiramente fora da nossa vista.
Pensemos na luz do Sol. É óbvio que o Sol não poderia brilhar se as estrelas não existissem, já que o nosso Sol é uma estrela de média dimensão que flutua para lá do centro da Via Láctea, a galáxia onde vivemos. Há poucos segredos ainda por descobrir acerca de como as estrelas se formam, da matéria de que são feitas e de como a luz é produzida no caldeirão escaldante em que consiste o âmago de uma estrela. O segredo não reside aí. A luz do Sol desloca‑se 150 milhões de quilómetros até à Terra, penetra na atmosfera e aterra algures no planeta.
Neste caso, o único local do planeta que nos interessa são os nossos olhos. Os fotões, os pacotes de energia que transportam a luz, estimulam a retina situada na parte de trás do olho e iniciam uma cadeia de acontecimentos que a levam ao cérebro e ao córtex visual.
O milagre da visão reside no mecanismo de processamento da luz pelo cérebro, sobre isso não há dúvidas. E, porém, o passo que mais importa, o que converte a luz do Sol na visão, é totalmente misterioso. Seja o que for que vejamos no mundo — uma maçã, uma nuvem, uma montanha ou uma árvore —, é a luz do Sol a refletir‑se no objeto que o torna visível. Mas como? Ninguém o sabe realmente, mas a fórmula secreta inclui a visão, pois a visão é uma das formas básicas de sabermos que um objeto é real.(…)
Atualmente, ninguém consegue explicar como a transformação de fotões invisíveis em reações químicas e em ténues impulsos elétricos dentro do cérebro cria a realidade tridimensional que todos tomamos como garantida. Os eletroencefalogramas detetam a atividade elétrica, e é por isso que uma ressonância magnética funcional contém manchas de brilho e de cor. Alguma coisa se passa no cérebro. Mas a verdadeira natureza da visão é misteriosa. Contudo, uma coisa é certa. A visão é criada por nós. Sem nós, o mundo inteiro — e o vasto universo que se estende em todas as direções — não poderia existir. (…)
É por isso que a tal relação secreta é a mais importante que temos ou que alguma vez teremos. Nós somos os criadores da realidade e, todavia, não fazemos ideia de como a criamos — é um processo passivo. Quando vemos, a luz ganha o seu brilho. Quando ouvimos, as vibrações do ar transformam‑se em sons audíveis. A atividade do mundo à nossa volta, em toda a sua riqueza, depende de como nos relacionamos com ela.
Este conhecimento profundo não é novo. Na Índia antiga, os sábios védicos declararam «Aham Brahmasmi», que pode ser traduzido como «Eu sou o universo» ou «Eu sou tudo». Chegaram a esta conclusão mergulhando profundamente na sua própria consciência, onde fizeram descobertas espantosas. Foram Einsteins da consciência que ficaram perdidos para a memória coletiva, mas cujo génio era comparável ao do Einstein que revolucionou a física no século XX.
Hoje, exploramos a realidade através da ciência, e não pode haver duas realidades. Se «Eu sou o universo» for verdade, a ciência moderna terá de fornecer provas que sustentem esta afirmação — e fá‑lo. Embora a ciência convencional funcione através de medições externas, dados e experiências, que constroem um modelo do mundo físico e não do mundo interior, existem inúmeros mistérios que as medições, os dados e as experiências não podem explicar. (…)
Um universo consciente reage a como pensamos e sentimos. Obtém de nós a sua forma, cor, som e textura. Por isso, parece‑nos que a melhor designação para ele é universo humano, e que é este o universo real, o único que temos.
Mesmo aqueles para quem a ciência é novidade, ou que não se interessem muito por ela, não poderão deixar de querer saber como funciona a realidade. Claro que a forma como vemos a nossa vida é importante para nós, e a vida de toda a gente está integrada na matriz da realidade. O que significa ser‑se humano? Se somos partículas insignificantes no vasto vazio negro do espaço intergaláctico, essa realidade terá de ser aceite. Se, em vez disso, somos criadores da realidade vivendo num universo consciente que responde às nossas mentes, essa realidade também terá de ser aceite.”
Deepak Chopra e Menas Kafatos em Universo, Self. Conheça o livro aqui.